Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela. Patrizia Barrera. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Patrizia Barrera
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Серия:
Жанр произведения: Историческая литература
Год издания: 0
isbn: 9788835412007
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Para dar fim ao golpe e retomar o controle sem perder os benefícios do tráfico com a China, foram promulgadas as famosas Leis Raciais, às quais seguiu-se toda uma onda de livros, pôsteres e seminários sobre a “ameaça chinesa".

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      Didascalia...Afiado e incisivo, Thomas Nast criticou abertamente o sistema político norte-americano e suas leis raciais em um dos jornais de maior audiência da época, o Harper's Weekly. Aqui está um de seus desenhos, intitulado Go West Go East, no qual ele expõe as nocivas leis de Jim Crow.

      Confiando no desejo inerente de manipulação do povo e e em seu racismo arraigado, o governo norte-americano definiu categoricamente os chineses como "indesejáveis". Privando-os assim de qualquer personalidade jurídica e concedendo total imunidade ao indivíduo, que, portanto, sentia-se autorizado a "fazer justiça por si mesmo".

      O massacre de Los Angeles foi uma consequência direta desse mecanismo perverso. Como sempre acontece em tempos de crise, os mesmos governos que apontam um bode expiatório para encobrir seus erros são os únicos que acabam se beneficiando das guerras entre os pobres.

      O incêndio de Chicago de 8 de outubro de 1871 completou o quadro. Foi um dos desastres mais trágicos dos Estados Unidos, em que toda a cidade de madeira foi arrasada, deixando os corpos carbonizados de 300 pessoas, 110 mil desabrigados e 18 mil edifícios, em memória dos quais restou apenas uma parede. A investigação que se seguiu determinou que tratava-se de um daqueles eventos nefastos desencadeados unicamente pela ira de Deus. Após terem abafado o suposto descuido de uma vaca (irlandesa), que dizem ter causado o incêndio ao derrubar uma lâmpada, o caso foi encerrado. Na verdade, boatos afirmavam que NÃO FOI a mão do destino, mas sim a mão humana que causou o incêndio, motivada por dinheiro e poder.

       Muitas coisas não batem sobre esse incêndio, como a intervenção do corpo de bombeiros, que era considerado um exemplo de organização e vigilância para os Estados Unidos. Como eram empenhados em defender do fogo uma cidade de madeira em pleno desenvolvimento onde a média de incêndios era de dois por dia! O departamento estava muito bem equipado: em 1866 contava com onze caminhões completos, dois extintores manuais, treze

      carrinhos flexíveis, empilhadeira com escada, 120 brigadas em tempo integral, 125 voluntários e 53 cavalos. Em 1871, também foi equipado com o modelo único do elevador de mangueiras Knocke-Pattent, uma torre d'água capaz de disparar e direcionar um jato de alta potência.

       Isso mostra o quão experiente e equipado era o corpo de bombeiros, que combateu as chamas do famoso incêndio na noite de 8 de outubro de 1871. No entanto, existem pelo menos dois erros grosseiros e imperdoáveis do departamento, como perder completamente o controle sobre as chamas.

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      DidascaliaO grande incêndio de Chicago custou aos Estados Unidos cerca de 200 milhões de dólares na época. Aqui está uma imagem do Harper's Weekly de autoria de John Chapin, mostrando a ponte na Randolph Street completamente destruída pelas chamas....

      O primeiro diz respeito ao atendimento emergencial: sabe-se que a brigada foi acionada SOMENTE duas horas após a primeira chamada e apenas porque muitas outras vieram em seguida.

      O departamento justificou-se dizendo que “pensaram que a nuvem de fumaça relatada pertencia a outro incêndio, que havia sido apagado na mesma área no dia anterior”.

      Muito estranho e quase grotesco, para bombeiros experientes. Além disso, nos anuários do departamento não há menção a um incêndio semelhante que, mais estranho ainda, tivesse sido originado em um depósito de madeira.

      O erro seguinte foi absurdo: ao perceber que se tratava de um novo incêndio, o departamento enviou o socorro, mas em uma direção completamente diferente! Falou-se de "erro de comunicação" entre os funcionários, o que é incompreensível para pessoas acostumadas a trocar esse tipo de informação com rapidez e precisão! Outro detalhe, e um que não me cheira nada bem, é que o departamento interveio durante toda a manhã para resolver quatro pequenos incêndios criminosos na mesma área. Logo, eles a conheciam muito bem. COMO poderiam não ter pensado que o quinto incêndio do dia também pudesse ter sido originado ALI?

       Seja como for, os erros foram fatais e, apesar dos esforços subsequentes e da colaboração das cidades vizinhas, a fúria do incêndio destruiu tudo. Quando inclusive o aqueduto foi queimado, a população percebeu que havia perdido a batalha contra o fogo. Nesse ponto, fica a dúvida: se o incêndio foi realmente criminoso, QUEM e POR QUÊ teria feito isso?

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      Didascalia..Uma foto rara do corpo de bombeiros de Chicago com uma das várias estações equipadas, em 1871, poucos meses antes do grande incêndio. O equipamento era muito moderno e de última geração para a época. É de se perguntar O QUE poderia ter originado esses erros grosseiros e fatais para a cidade..

       Você deve saber que a grande maioria dos prédios no coração da velha Chicago eram decrépitos, formavam guetos e eram ocupados pela chamada escória, ou seja, todas as pessoas pobres de diferentes etnias que haviam encontrado refúgio ali. O vício, a máfia e a prostituição estavam presentes nesses edifícios e muitas vezes por meio dos clãs irlandeses, que eram bastante odiados e temidos.

      Frederick Law Olmsted, o pai da arquitetura de Nova York, torcia o nariz para os prédios de Chicago, chamando-a de uma "cidade retrógrada feita de imigrantes, bares e casas de madeira, afogada em seus delírios de grandeza que a levaram a construir gigantescos blocos de apartamentos de estilo grosseiro e questionável“ (the Nation, 1870). Além disso, Chicago estava muito atrasada em seu processo de industrialização, o que prejudicava os Estados Unidos.

      Como na era de Nero, o incêndio permitiu varrer tudo de feio, indesejável e promíscuo que atrapalhava Chicago em sua corrida rumo à modernidade e de que ela jamais poderia se ver livre sem aquele acontecimento fortuito. No final, o incêndio representou uma pechincha para a cidade, que se beneficiou da ajuda financeira do Estado e da iniciativa privada, que a reconstruíram da cabeça aos pés e que no mesmo ano sediou a primeira escola de arquitetura dos Estados Unidos — cujas figuras proeminentes haviam atuado como engenheiros militares na Guerra Civil — e finalmente inauguraram o Home Insurance Building em 1885, o primeiro arranha-céu do país!

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      Didascalia...O primeiro arranha-céu norte-americano em toda a sua majestade, o Home Insurance Building, concluído em Chicago em 1888. A grande obra de William LeBaron Jenney inaugurou a moda de edifícios altíssimos, um símbolo do poder estadunidense.

      Em todo o caso, os três infelizes acontecimentos criaram o substrato favorável à tragédia de 24 de outubro de 1871, do qual mais da metade da cidade teve participação ativa, já no limite do descontentamento com os imigrantes chineses, agora taxados de fura-greves pela opinião pública.

      Naquela noite, além das declarações de protagonistas como Bilderrain, que se retrataram e modificavam cada

      vez mais suas versões, os fatos deram-se da seguinte forma: Bilderrain, armado até os dentes e junto com um pelotão de outros vigilantes — lembre-se, NÃO POLICIAIS, mas sim cidadãos comuns autorizados pelo xerife local a manter a ordem —, esgueirou-se até o beco da Negro Alley em direção à casa e à loja de Yuen. Algumas fontes citam a presença do próprio Hing entre eles, provavelmente como um guia. A intenção clara de Bilderrain era roubar o ouro escondido em um tronco, do qual todos haviam ficado sabendo apenas pela manhã. O esquadrão viu-se diante dos guarda-costas de Yuen, que, como sabemos, era um mafioso. Os guerreiros Tong começaram então a atirar em autodefesa e, de acordo com as regras já definidas entre a máfia e a polícia local, sem nunca sair do beco. Os confrontos privados, aliás, faziam parte da rotina e por isso eram regulamentados. A regra era que podiam “atirar uns nos outros o quanto quisessem, contanto que o fizessem