Era um sentido inato, consequência de milênios de história que não podiam ser apagados simplesmente com a "deportação" para um país estrangeiro e que se transformou, em vez disso, em uma versão sublime de castidade forçada, solidão e aversão social. Por trás do sorriso inabalável, o povo chinês escondia uma força trágica e uma impressionante teimosia. Seu lema era: "sobreviver a todo custo e prosperar".
Eu poderia ficar aqui por horas discutindo a diferença entre inteligência e astúcia, sem nunca chegar a uma conclusão. Na realidade, existem comportamentos errados que, embora produzam uma vantagem efetiva no curto prazo, são danosos e prejudiciais ao longo do tempo. Se adicionarmos a isso uma motivação egoísta e uma indiferença ao mal a que somos submetidos, acabamos inevitavelmente com um efeito bumerangue, que mais cedo ou mais tarde sairá pela culatra. Se, no final das contas, a natureza da nossa vítima não for inclinada ao perdão fácil, o eco das nossas ações aumentará de forma drástica, com resultados certamente destrutivos. Essa era, de maneira simplificada, a relação entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses e, por essa razão, uma vez entendidos os possíveis mecanismos de causa-efeito, o país inteiro gritou diante do "perigo amarelo".
Na turbulência do período de 1880 a 1882, encontrar um bode expiatório foi muito fácil. Como já se podia imaginar, os chineses foram acusados de concorrência desleal, roubo de trabalho e rivalidade social. Surgiu, então, a primeira lei racial, de 1861, que proibia todos os orientais, sob as categorias mal definidas de "chineses" ou "mongóis", de casarem-se com brancos — prática que os próprios chineses abominavam. Outras leis foram promulgadas, restringindo cada vez mais seus direitos humanos e legais. Apesar das Leis de Direitos Civis de 1866, que estabeleceram que "todos os cidadãos de todas as raças e cores nascidos nos Estados Unidos gozavam plenamente da cidadania norte-americana", os legisladores excluíram os chineses. Apelaram para uma manobra jurídica sutil, afirmando que não era possível classificar um oriental de acordo com um padrão fixo. A lei de 1875 de fato definia a diferença entre uma pessoa "branca e uma afro-americana", concedendo direitos iguais a elas e a seus descendentes norte-americanos. No entanto, não foi capaz de definir uma separação substancial entre "branco e amarelo", também porque os orientais tinham cromaticidades mais heterogêneas do que os africanos e traços somáticos menos evidentes. Limitava-se a classificá-los como "não brancos" e, portanto, excluídos do direito de cidadania. Logo, qualquer chinês naturalizado norte-americano continuava sendo um estrangeiro.
Porém, já havia outras leis que limitavam os direitos dos asiáticos nos Estados Unidos, especialmente dos chineses. Por exemplo, em 1858, a Califórnia promulgou uma lei que proibia o acesso a cargos estaduais aos chineses. Também a Califórnia, em 1879, aprovou uma nova Constituição a partir da qual o governo apropriou-se do direito absoluto de determinar os requisitos fundamentais para a residência no estado. Mais uma vez apegando-se à advertência da indeterminação da raça, negou o direito de residência aos chineses, expulsando os que já residiam em seu território. Mas, anteriormente, em 1875, o congresso havia bloqueado a imigração de trabalhadores e prostitutas chineses por uma década, com o objetivo oficial de conter a máfia e reabilitar o território norte-americano. Para resumir, entre 1856 e 1880, até trinta leis diferentes limitaram ou negaram os direitos fundamentais dos chineses em solo estadunidense, contrariando os acordos do famoso Tratado de Burlingame, sem qualquer manifestação da imprensa ou da opinião pública. O descontentamento gerado pela crise econômica abriu um sulco entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses, cujas atividades continuaram a florescer. Visados pelo governo e pelo povo, fechados em sua comunidade, apegados aos costumes ancestrais e desdenhosos de misturarem-se com os brancos, logo tornaram-se os bodes expiatórios ideais. Suportando estoicamente as ameaças, o saque e a destruição de suas lojas, o corte de suas tranças em público, as provocações e até os primeiros avisos dos linchamentos que se seguiriam, os chineses continuaram seu trabalho silencioso, conscientes de estarem pisando em um campo minado. A situação degenerou lenta mas inexoravelmente até o golpe de 1871, ano em que se viram protagonistas do maior linchamento em massa da história dos Estados Unidos, que infelizmente ficou conhecido como "O Massacre Chinês de Los Angeles".
O MASSACRE DE LOS ANGELES
A tragédia começa
O triste episódio foi realmente um espelho daqueles tempos e lançou uma luz opaca e terrível sobre a cidade em crescimento. Aconteceu na "Calle de los Negros", o gueto mais pobre de Chinatown, onde, misturados às lavanderias, empórios e pequenas atividades comerciais, mexicanos e chineses, os imigrantes menos apreciados pela população norte-americana, viviam em contato próximo. Os anais da época descrevem-na como “uma zona dura, com uma longa estrada de terra com cerca de doze metros de largura repleta de bordéis, casas de apostas, empórios e residências de lama e palha”. A população era predominantemente masculina, dadas as leis norte-americanas que limitavam a imigração de mulheres chinesas. Porém, a máfia conseguia infiltrá-las, quase sempre com a ajuda das autoridades locais. Desse modo, entre famílias e prostitutas, a população chinesa da Calle de los Negros cresceu cerca de 200 vezes em apenas dez anos e prosperou maravilhosamente. Gerando um forte clima de descontentamento entre a população branca, afligida pela recessão do pós-guerra e ciente de não conseguir acompanhar os preços baixos e as exaustivas horas de trabalho dos comerciantes chineses, que também mergulharam toda a área no vício.
A tragédia batia à porta e estourou pontualmente em 24 de outubro de 1871.
Fontes oficiais relataram a desculpa usual como a causa do linchamento. Ou seja, o assassinato de um xerife local, Robert Thompson, durante um conflito com a máfia chinesa. O que aparentemente despertou a raiva da multidão (!) a ponto de torturar, mutilar e enforcar cerca de vinte pobres miseráveis chineses pegos ao acaso.
As justificativas já não se sustentavam e, se adicionarmos ainda que, após um julgamento ridículo, apenas oito pessoas foram identificadas como culpadas do massacre, inicialmente acusadas de "homicídio culposo" e então completamente absolvidas — embora testemunhas tenham indicado elas e trinta outros sujeitos como responsáveis pelo ocorrido —, fica claro que algo estava errado.
Comecemos dizendo que o massacre não foi um evento repentino, mas sim que alguns fatos anteriores contribuíram para alimentar as tensões e o ódio entre norte-americanos e chineses. Reuni muitas informações do livro The Chinatown War, que recomendo que você leia.
Poucos dias antes, o chefe de um dos vários clãs da máfia chinesa, um certo Yo Hing, havia organizado o sequestro, motivado por dinheiro, de uma das poucas mulheres casadas em Chinatown. Chamava-se Yut Ho e diziam ser belíssima.
Isso foi possível, porque Yo Hing tinha estreitas relações financeiras com as administrações locais, principalmente os xerifes e os oficiais da lei, que não apenas fechavam os olhos aos crimes, como também recebiam uma grande porcentagem dos lucros.
É claro que a facção rival, representada pelo chefe e comerciante de tecidos Sam Yuen, não engoliu o insulto, que minava seu poder local. Com a ajuda de outras autoridades norte-americanas, Yuen conseguiu desembarcar em São Francisco uma gangue de guerreiros Tong recém-chegada da China e armada até os dentes.
Na noite de 23 de outubro, o esquadrão de assassinos liderado por Ah Choy, irmão da mulher sequestrada, iniciou um tiroteio contra Yuen. Sam Yuen saiu ileso, mas Choy foi mortalmente ferido e abandonado em agonia em um dos becos de Chinatown. Apesar de ter ordenado o sequestro com forte apoio da polícia local, Yo Hing denunciou Yuen como o mandante da tentativa de assassinato e o mandou para a prisão. Foi estabelecida uma fiança no valor de dois mil dólares, uma quantia anormal para a época, especialmente para um chinês. A intenção era fazer seu rival apodrecer na prisão pelo tempo necessário para engordar os bolsos de juízes e advogados, condená-lo à