Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela. Patrizia Barrera. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Patrizia Barrera
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Серия:
Жанр произведения: Историческая литература
Год издания: 0
isbn: 9788835412007
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é surpreendente naquela noite não é apenas o eco de um homicídio cometido à luz do dia, mas também a extrema velocidade com que a multidão se organizou e como um só homem invadiu o bairro e a dividiu em grupos, cada um com uma tarefa específica. Saltou imediatamente aos olhos do mundo o fato de o massacre ter sido um evento premeditado em que várias figuras ilustres da cidade, bem como políticos proeminentes, haviam admitido por conta própria estarem envolvidos. Vamos a alguns nomes. A começar por H.M. Mitchell, repórter do Star, antigo xerife do condado e que depois se juntou à riquíssima família Glassel. Em suma, diz-se que ele havia se tornado líder do Partido Democrata também graças ao seu artigo sobre o massacre, o qual justificava ressaltando que a cidade era "vítima dos chineses e da ilegalidade".

      E o que dizer do rico comerciante J.H. Weldon? Que logo após o episódio, foi beber em um bar local com a camisa ensanguentada e gritando de alegria: "Tô feliz! Esta noite matei três chineses”! Harris Newmark, um dos maiores e mais afortunados empresários de Los Angeles, confessou abertamente que viu Thompson no chão e foi para casa festejar. O QUÊ, ninguém sabe. Porém, o empresário não parecia alheio aos fatos. Principalmente quando foi descoberto durante o julgamento que ele tinha relações próximas com os policiais Celis e Kerren, por sua vez suspeitos de terem atirado em Thompson ou o jogado no beco onde sabia-se que os mafiosos estavam escondidos. E o que pensar do chefe de polícia Francis Baker? Afirmou no julgamento que em todo aquele alvoroço de gritos, torturas e incêndios, "naquela noite, depois de ter rodeado o edifício Coronel, onde os mafiosos haviam se refugiado, foi se deitar", deixando a cidade à mercê da multidão.

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      Uma imagem rara do massacre de Chinatown. As vítimas oficiais dos linchamentos foram dezenove, mas toda a área foi saqueada e queimada e muitos ficaram feridos. a...

      A verdade dos fatos, os documentos processuais e toda a documentação de um julgamento simulado que mostrou a alma podre de uma cidade inteira só vieram à tona graças ao árduo trabalho de John Johnson Jr., que, 140 anos após o massacre, conseguiu obter acesso à famosa biblioteca de Hungtington.

      

      Os dados mostram inequivocamente que a política, as instituições e os interesses privados estiveram na origem não só do massacre, mas também da crise econômica, do clima de desespero generalizado e do caos total no qual a Califórnia, e sobretudo a cidade de Los Angeles, havia mergulhado. Baseando-se em um substrato de racismo constitucional que privou os chineses de qualquer direito humano e de uma dimensão jurídica, foi fácil identificá-los como inimigos da comunidade e, consequentemente, manipular a opinião pública.

      A VERDADE SOBRE O MASSACRE

      Os antecedentes

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       Tudo começou em 1869, quando foi concluída a ferrovia transcontinental de Utah, a Pacific Transcontinental, que estava no centro de um gigantesco plano de reconstrução do governo dos Estados Unidos para impulsionar a economia após o desastre da Guerra Civil.

      As transcontinentais, ou seja, a união da costa do Pacífico com o Atlântico, significavam comércio, expansão e riqueza em um período em que as grandes ferrovias começavam a espalhar-se timidamente pela Europa. O setor empresarial norte-americano era, conforme seu histórico, gigantesco e muito respeitado e foi um modelo para o sistema capitalista que se espalhou a partir de então. É claro que para tal negócio era necessário investir rios de dinheiro e o governo contraiu uma enorme dívida pública, contando com o fato de que voltaria a poder gastar com a venda do ouro. Graças ao sistema New York Gold Exchange, que tinha a função não só de favorecer o mercado livre, mas também de controlar o preço do ouro e mantê-lo estável.

       Isso atraiu um bando de especuladores, como James Fisk e Jay Gould e outros canalhas como eles, que manipularam o então presidente Ulysses Grant. Fizeram-no confiar a tarefa principal de comprar e vender o metal amarelo a um de seus comparsas, o tal general Daniel Butterfield, que se tornou então o tesoureiro-chefe dos Estados Unidos. Ele convenceu Grant de que era necessário que o governo comprasse o metal, que então deveria ser colocado de volta em circulação para que a economia permanecesse estável. No entanto, Butterfield não o vendeu, mas comprou-o em nome de Gould e Fisk, o que causou uma forte alta dos preços e uma inflação perigosa.

      Percebendo o golpe, o governo então vendeu quatro milhões de dólares em ouro em 24 horas, causando o colapso de seu valor. Obviamente, o infame mecanismo é muito mais complicado do que isso, mas espero que essa narrativa simples dos fatos dê uma ideia da tremenda crise econômica que ele gerou. Agravada ainda pelo subsequente escândalo da Pacific Transcontinental Railroad, que se descobriu, por sua vez, ter sido especulada com base em subsídios estatais, inflando absurdamente os relatórios de despesas e estabelecendo um verdadeiro monopólio sobre os territórios de sua competência, dos quais o Estado foi excluído.

      A crise atraiu um grande número de investidores, bloqueou indústrias e forçou o fechamento de milhares de empresas. Entre diversos estados, a Califórnia, que havia acabado de concluir sua ferrovia, deixando milhares de desempregados nas ruas, foi um dos mais afetados. A maior parte dessa mão de obra era de chineses, contratados em massa pelas empresas graças às ações do governo, que, como vimos, organizava o tráfico da China, aliciando trabalhadores a preços baixos. Juntamente com os desempregados da ferrovia de Utah, eles amontoaram-se em Chinatown, o único lugar nos Estados Unidos capaz de recebê-los. Ali, a máfia providenciou para que fossem acomodados e passassem a trabalhar para ela. Exceto para o mercado clandestino e a importação de produtos orientais. Entretanto, havia pouco trabalho disponível e os únicos a sobreviver foram mais uma vez os chineses, que se adaptaram a trabalhar quinze horas por dia por alguns centavos.

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      Didascalia...Inaugurada em 1869, a Pacific Railroad era uma joint venture que envolvia duas grandes empresas criadas para esse propósito: a Union Pacific e a Central Pacific. Havia também um grande envolvimento do governo dos Estados Unidos. A construção da ferrovia, que unia dois pontos estratégicos para o comércio norte-americano, a saber, a costa atlântica com a Califórnia e o Pacífico, representou o início da era moderna não só para o país, mas para todo o mundo, abrindo caminho para o sistema ferroviário. Foi um empreendimento gigantesco, mas o escândalo que se seguiu sobre orçamentos "inflacionados" e subsídios estatais quase causou o colapso do sistema democrático americano, dado o envolvimento comprovado do presidente Ulysses Grant.

       Pouquíssimas pessoas nos Estados Unidos estavam cientes das condições terríveis em que esses escravos modernos eram mantidos. Vinham sequestrados de sua terra natal, muitas vezes em nome dos Estados Unidos, ou imigravam para a América para escapar da fome. Com a família refém na China e as leis estadunidenses que, com a desculpa de coibir a introdução clandestina de mulheres

      destinadas à prostituição, proibia as esposas de juntarem-se aos maridos, esses pobres coitados não tinham vida própria e estavam à mercê de três inimigos: a pátria, os Estados Unidos e a máfia, que trabalharam em uníssono para melhor explorá-los. A prosperidade das lojas em Chinatown era frequentemente fictícia e pouquíssimos realmente beneficiaram-se delas. Os rendimentos dos jogos de azar, das casas de ópio e das bebidas iam diretamente para as mãos da máfia, que por sua vez pagava uma boa parte às autoridades locais. Os próprios Estados Unidos engordavam os bolsos com o comércio de produtos chineses, que em 1870 passou também a incluir frutas, verduras, peixes e gêneros de primeira necessidade que eram "adquiridos" no exterior a custo baixíssimo. Diversas empresas locais fecharam as portas, porque não podiam competir com esses preços. Por volta de 1880, toda a economia nacional passou a depender das importações e exportações com a China. O país asiático, com base em uma filosofia oriental, segundo a qual “se não se pode derrotar o inimigo por fora, derrote-o por dentro," impôs um comissário para verificar "as condições de seus súditos em uma pátria estrangeira". Na prática,