Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela. Patrizia Barrera. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Patrizia Barrera
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Серия:
Жанр произведения: Историческая литература
Год издания: 0
isbn: 9788835412007
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onde havia muito mais que o valor da fiança! Uma enorme riqueza resultante do tráfico clandestino, que atraiu não só os oficiais da lei.

      Um dos agentes presentes naquela manhã de 24 de outubro de 1874 era um certo Jesus (!) Bilderrain, um policial de reputação macabra conhecido por ser ganancioso, ladrão e profundamente racista. Houve também várias queixas contra ele por crimes de roubo, principalmente de galos de briga. Ele também era um apostador inveterado e, junto com seu irmão Ygnacio, controlou e organizou os famosos blocos eleitorais contra a comunidade latina de Los Angeles em nome do Partido Democrata por anos, evitando assim que a minoria étnica votasse.

      No entanto, esse sujeito foi visto como um exemplo de excelência. Jesus foi reverenciado como um herói pelos juízes e pela imprensa quando a investigação sobre o massacre teve início e suas palavras passaram a valer como ouro.

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      Ao contrário do que se acredita, na China, o ópio não era utilizado com as mesmas finalidades patológicas e viciantes como no Ocidente, mas sim para fins terapêuticos e religiosos. Foi apenas depois da queda do império Qing e das guerras anglo-chinesas de 1830 a 40 que a substância foi deliberadamente distribuída pela própria Inglaterra em grandes quantidades entre a população chinesa, a fim de aumentar seu monopólio e converter a maior parte das safras agrícolas necessárias em plantações de ópio, adequadas para exportação em todo o mundo. A China tentou conter a propagação, mas sem sucesso. Após as migrações para a América, o mau hábito e os tráficos a ele associados desembarcaram no Novo Continente administrados, de comum acordo, tanto pela máfia chinesa quanto pelo próprio governo dos Estados Unidos. Na foto, um salão de ópio chinês clássico de 1890. ia...

       Bilderrain afirmou que, na noite de 24 de outubro, havia ido ao Negro Alley com outros homens, porque haviam sido atraídos por alguns tiros. Entrou em um beco, foi ferido e pediu a ajuda do agente Thompson, que foi morto por tiros disparados pelo próprio Yuen. O assassinato a sangue frio parece ter então incitado a multidão, que se organizou em pouco tempo e invadiu a área, levando ao massacre. Embora atroz, todo o episódio foi tratado como uma loucura generalizada causada por uma rixa contra os chineses, que aparentemente afundavam a cidade na fome e no vício, enquanto obtinham quantias fabulosas de dinheiro. Foi inclusive desenterrada a história de que os chineses estavam coletando essas somas em nome de um mandarim que tinha a ambição de tornar-se governador da Califórnia. Uma farsa que remonta à corrida do ouro, mas que foi considerada verdadeira por alguns livros da época e que infelizmente já havia sido usada como argumento para as famosas Leis Raciais, que determinavam que “nenhum chinês poderia testemunhar em julgamento contra um branco" .

      Embora o massacre tenha ocorrido praticamente diante dos olhos de todo o mundo, graças também aos relatórios implacáveis escritos em tempo real por H.M. Mitchell, repórter do Star, o julgamento terminou rapidamente, absolvendo a cidade como "vítima do horrendo comércio chinês e do clima de violência de sua máfia". Não há dúvida de que poderes políticos influentes levaram ao arquivamento do caso, os mesmos que mais tarde usaram a memória do massacre para fazer cumprir a infame "Lei de Exclusão Chinesa", de 1882.

      A verdade dos fatos, como sempre, é muito mais amarga e até banal. Na origem do massacre, que feriu profundamente a alma estreita e racista dos falsos moralistas da época, há ganância e roubo.

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      As autoridades estadunidenses, principalmente a polícia local, sempre mantiveram relações íntimas com a máfia chinesa. Detinham o controle exclusivo não apenas sobre o ópio e especiarias, mas, acima de tudo, sobre o comércio — oficial ou clandestino — de mão de obra e produtos chineses que eram importados para os Estados Unidos a baixíssimo custo. O que afetava negativamente os preços dos produtos nacionais, que, portanto, despencavam. Além disso, os grandes empreendimentos, como as ferrovias, que recebiam enormes subsídios do Estado, costumavam recorrer a trabalhadores chineses, preferindo-os aos americanos e europeus, porque custavam menos e trabalhavam em dobro. Durante a era dos primeiros sindicatos, os chineses foram usados como “fura-greves” pelos próprios empresários para vetar as reivindicações da classe trabalhadora. Tudo isso inflamou enormemente a opinião pública, que passou a ver os chineses como perigosos e inclinados à prática de concorrência desleal. A foto mostra a parte de trás de uma clássica loja de especiarias em Chinatown, na década de 1880. alia...

      O escândalo que se seguiu à tragédia evidenciou o quão pobre e cruel era a alma dos protagonistas. Graças às inúmeras investigações e depoimentos de sobreviventes, sobretudo do próprio Hing, que colocou nas ruas provas documentais do conluio e de “favores” entre ele, a máfia e a polícia local. Em seguida, toda a documentação e as peças processuais foram arquivadas e todo a matança foi varrida para debaixo do tapete. Elas só tornariam a aparecer muitos anos depois, graças às pesquisas exaustivas dos historiadores e às conjunções favoráveis, que veem a China hoje como a grande potência econômica do futuro.

      Para além de qualquer consideração possível, o interesse principal deste livro é informar e ajudar a tornar conhecidos os grandes acontecimentos do passado, ligados à velha América do Norte e sua relação primitiva com a comunidade chinesa. Portanto, direi apenas como as coisas realmente aconteceram naquela noite de 24 de outubro de 1882 em Chinatown.

       Bilderrain e seus companheiros foram ao Negro Alley naquela noite para roubar o ouro de Yuen, um "favor" pedido pelo próprio Hing a fim de acertar as contas com o canalha do Yuen. A aliança e proteção de Hing, no entanto, não foram suficientes para salvar Bilderrain dos tiros dos capangas de Yuen que guardavam o beco. É preciso dizer que Bilderrain não era um xerife oficial, mas um dos muitos vigilantes autorizados pela própria polícia a "manter a ordem" no gueto. Por isso, as autoridades fechavam os olhos para os acordos privados entre os vigilantes e a máfia chinesa. Mais ainda quando tratavam-se de promover o tráfico clandestino ou assassinatos privados. Por outro lado, a polícia recebia grande parte dos lucros e controlava todos os eventos programados, graças a uma densa rede de informantes. Sendo assim, a polícia também havia sido informada das intenções dos vigilantes naquela noite. Sua única tarefa era observar, deixar acontecer e, se necessário, liberar o local de quaisquer obstáculos. O próprio marechal Frances Baker, chefe da polícia de Los Angeles, tinha acordos pessoais com a máfia. Sua especialidade era a recuperação de escravas chinesas que, às vezes, conseguiam escapar e tentavam embarcar clandestinamente rumo à Europa. As recompensas pelo ato heroico de resgate das mulheres pobres, legalmente acusadas de furto, eram muito altas. Assim, a ganância amarrou com um nó duplo a polícia a uma ou outra das gangues rivais, geralmente a que pagasse mais.

       Com base nas declarações subsequentes de Yuen, que havia escapado do massacre, Bilderrain estava mesmo na companhia de Hing naquela noite e, por causa disso, abriram fogo contra ele. Em retrospecto, há de se acreditar nele. As duas facções da máfia viram-se então diante de um acerto de contas e a única tarefa da polícia era permanecer neutra.

       Para isso, foram postos à espreita dois velhos conhecidos de Los Angeles. Policiais heroicos que já haviam se destacado em ações perigosas durante os distúrbios mexicanos, como a captura e o assassinato do bandido Tiburcio Vásquez. Chamavam-se Emil Harris e George Garde. A tarefa deles era ficar à vista sem se intrometer, aconteça o que acontecesse. Diante da multidão enfurecida, não só não levantaram um dedo, como ameaçaram aqueles que tentaram fazer algo para impedir os linchamentos, conforme testemunhos confiáveis. No entanto, eles nunca sentaram no banco de réus e mais tarde foram promovidos aos cargos mais altos da polícia.

      Sabe-se que Thompson foi morto a tiros quase imediatamente. Um evento frequente e nada surpreendente em Chinatown, onde, na semana anterior ao massacre, foram registradas 44 vítimas nos becos, incluindo quatro policiais. Robert Thompson não era nenhum santo. Pelo contrário, a maioria o conhecia como um tratante, vigarista e agiota, bem como o dono do infame salão Blue Wings, cujo imperativo era sexo e drogas. Então O QUÊ desencadeou a ira de 500 pessoas naquela noite? Uma loucura que permitiu ao povo torturar,