Agora, eu estava pagando o preço. Figurativa e literalmente.
Empurrei a porta e respirei o ar com aroma de café. O conforto e o calor aliviaram a minha pele, suavizando cada nervo que estava em alerta máximo desde que a noite havia tomado uma inesperada curva na via de solteirice. Havia coleções de cadeiras estofadas com mesinhas de centro e bancos ao redor de mesas de madeira rústicas. Uma placa de “Leitura Relaxante” repousava contra uma estante de livros no canto com uma coleção de livros usados. Ele até tinha uma lareira contra a parede oposta com a evidência fuliginosa de uso.
Como um oásis desses esteve a um quilômetro de distância da minha casa todo esse tempo e eu nunca soube?
— Posso ajudar? — Atrás do balcão, uma adolescente me olhou com desconfiança, como se eu tivesse acabado de entrar em sua casa em vez de uma cafeteria, ou que estivesse disposta a pagar.
— Vocês ficam abertos até que horas?
— Por quê?
Sério mesmo? Sem querer soar como uma velha, mas essa nova geração é um pouco estranha.
— Porque eu quero pedir um café e relaxar um pouco.
A garota barista me olhou, obviamente tentando descobrir se eu estava mentindo ou não. Quem mente sobre tomar uma bebida em uma cafeteria?
— Até às nove em uma terça-feira — respondeu ela, continuando a me encarar. — Você vai para algum lugar?
Um tanto intrometida, não?
— Não. — Agora era eu quem estava me sentindo um pouco desconfiada.
— Você não acha que está um pouco arrumada demais para só sair para tomar um café?
Bem, era verdade. — Sim.
— Você vai se encontrar com alguém?
— Aqui?
— Sim.
— Por quê?
— Você parece uma daquelas mulheres que saem tarde da noite para encontrar alguém. — Ela se inclinou sobre o balcão e olhou para meus sapatos. — Você está tendo um caso?
— Abby, apenas dê o café à mulher. — A voz era tão rica quanto os grãos de café no balcão, só que sem o retrogosto amargo.
Eu me virei, em direção à voz, surpresa com o cara da qual ela veio. Ele não era o gerente noturno típico. Ele tinha altura média, mas definitivamente era mais bonito do que a média, com um sorriso gentil e cabelo levemente despenteado.
— Olá, me chamo John. — Ele estendeu a mão sobre o balcão. — Se você está aqui para ter um caso, devo avisá-la que instalei câmeras de circuito interno depois que fomos roubados nesta primavera.
Eu não senti uma centelha quando ele apertou minha mão, mas o gesto me fez perguntar por que, por que, eu perdi os últimos três anos com Jason? Já que haviam caras realmente engraçados, legais e gostosões por aí, que provavelmente não iriam te deixar perdida no subúrbio… de novo, eu te pergunto, por quê?
— Não estou tendo um caso… infelizmente. — Não era essa a verdade? Eu era como A Anti-caso.
John olhou para a Garota Barista e depois de volta para mim. — Estranhamente, e essas são palavras que não saem da minha boca com muita frequência, tenho que concordar com Abby. Você está um tanto bem-vestida demais para só vir tomar um café sozinha.
— Bem, isso é o que acontece quando você vai para um jantar romântico e acaba abandonada e sem dinheiro para o táxi.
— Ai!
Abby deslizou o mocha pelo balcão, ainda olhando para mim como se a qualquer segundo eu fosse puxar uma arma e roubá-los.
Em vez disso, tirei meu cartão de débito, considerando um cupcake também, quando John balançou a cabeça.
— Por conta da casa.
Este era seriamente meu novo lugar favorito.
Agradeci e me dirigi para as poltronas perto da lareira. Olhando para o meu telefone, não pude acreditar que eram apenas sete e cinquenta da noite. Minha vida foi completamente aniquilada em menos tempo do que duraria um jantar romântico.
Eu tomei um gole do mocha, um mocha realmente bom, na verdade, e considerei meu próximo passo.
Eu precisava de um lugar para morar, talvez um carro e um emprego, tipo, para ontem. Claro, ontem eu tinha um emprego. A compensação foi de três semanas. Além disso, as duas semanas de férias que eles me deviam me dariam algum tempo para respirar. Não o suficiente para uma respiração profunda. Claro, eu também recebi a pequena quantia da venda dos meus móveis de casa, mas provavelmente teria que comprar coisas novas. O poço só afundava.
— Então, Mocha, qual é o plano? — perguntou John, sentando na cadeira ao meu lado. — Você vai apenas acampar aqui?
Pude ver que o cara estava realmente preocupado. Um completo estranho, preocupado com meu bem-estar. Não pude deixar de pensar que Jason não estaria neste momento pensando se eu estava bem, muito menos se preocuparia com uma estranha.
— Estou apenas tentando recuperar minhas forças para voltar para casa. Vai ser um exercício e tanto com estes saltos.
Ele olhou para mim, olhou para meus sapatos, olhou de volta para mim.
— Minha namorada chegará daqui a pouco se você quiser uma carona. Podemos deixá-la em sua casa, sem problemas.
A namorada dele. Óbvio. Mais uma prova de que todos os bons já foram tomados.
Mas, eu não era de olhar dente de cavalo dado, ou de uma carona.
— Isso seria excelente. Muito mesmo. — Eu olhei para a Garota Barista. — Eu não acho que você poderia dizer a ela que eu estava tendo um caso com sua namorada?
John sorriu. Era incrível como a diferença era sutil entre um sorriso verdadeiro e um sorriso desdenhoso. Era incrível como você pode ter pensado por anos que alguém estava sorrindo para você e então, de um só golpe, você começa a se perguntar se todos aqueles olhares significavam algo menos agradável.
Claro, o universo colocaria o perfeito anti-Jason na minha frente para questionar minha própria cegueira proposital.
— Não ligue para Abby. Ela está em um programa especial de trabalho e estudo para adolescentes. Ela está aprendendo gerenciamento em primeira mão.
— Este programa de estudo e trabalho envolveria checagem com o guardião todas as noites?
O sorriso vacilou. — Não exatamente.
Fiquei surpresa com o quão próximo da verdade eu cheguei com aquele chute.
— Bem, bom para ela. Ela está melhor do que eu.
— Ei, uma noite ruim não é o fim do mundo.
— Verdade. Mas é o combo desempregada-despejada-levar-um-fora que realmente mata uma garota.
— Ah.... Ai, novamente.
— Suponho que você não conheça um lugar para morar ótimo e barato que não precise que eu tenha, sabe, um trabalho, pertences ou um plano?
John se recostou, olhando ao redor enquanto pensava.
— Talvez. — Ele pegou o telefone e mandou uma mensagem para alguém. — Você pode passar aqui amanhã? Posso ter algo para você.
Devia ter feito uma cara tão chocada quanto me sentia, porque John se levantou e me deu o que só poderia ser chamado de um sorriso reconfortante.