— E os outros trinta por cento dos homens? — perguntei. O que eu estava pensando? Para onde foi a vozinha que vivia na minha cabeça? Que deveria estar gritando, Não dê corda! Não se envolva!
— Bem, a porção mais baixa, os homens abaixo da média, sabem do seu lugar. Eles aceitaram que estão entre os quinze por cento da margem inferior e encontraram uma garota em seu nível de atração. Pense nisso. Você vê uma garota. Você sabe que é bem mais bonita do que ela, mas ela tem namorado. Normalmente não paramos e pensamos, Que bom! Mas eu não namoraria com ele. Nós apenas ficamos presas na coisa toda do ela tem namorado e eu não.
Quem soava a dor de cotovelo agora, Garota Barista?
— Isso ainda deixa cerca de quinze por cento dos caras. — Por que eu ainda estava me torturando assim?
— Sim. — A Garota Barista acenou com a cabeça. — Sim. Você está absolutamente certa. E a maioria deles já tem alguém. Eles foram espertos. Eles agarraram uma ótima garota e estão mantendo-a. O resto deles estão apenas descobrindo o que devem fazer. É melhor você se recompor e se manter uma oito antes de ficar velha demais.
Velha demais?
Eu tinha vinte e seis anos. Para o que exatamente eu ficaria velha demais?
— Posso pegar minha bebida?
A frieza na minha voz deve ter ficado óbvia porque ela fez uma careta e começou a fazer o que quer que eles fizessem atrás do balcão para criar aquele mágico mocha. É melhor eu aproveitar agora. Com minha nova falta de renda, os mochas não ficariam mais na coluna de necessidades básicas onde costumavam residir.
Assim que a Garota Barista Criadora de Teorias terminou minha maravilha espumosa, peguei um guardanapo e voltei para a minha mesa de trabalho, ou melhor, minha poltrona confortável e mesa de centro, no canto da cafeteria.
— Não dê ouvidos a ela. — A voz era suave, meio que aguda no final. Combinava com a garota de uma maneira estranha. Ela devia ter mais ou menos a minha idade, com cabelo castanho claro emoldurando um rosto de fada por trás dos óculos.
— Desculpa?
— Não dê ouvidos a ela. Ela está errada. — A garota olhou para o balcão antes de se mexer na cadeira para olhar para mim. — Ok, ela pode não estar errada. A teoria provavelmente é válida. Mas ela tem cerca de nove anos e você não pode colocar um número em algumas coisas.
— Eu gostaria de acreditar que isso seja verdade. Especialmente porque aquele cenário não me favorece muito neste momento. — Não havia nada de atraente em ser sem-teto. Mais um motivo para colocar o meu negócio em funcionamento.
Toda a ideia de que eu tinha que sempre me virar sozinha me irritou ontem à noite. Havia uma razão que “para melhor ou para pior” fazia parte dos votos matrimoniais. Mas isso era algo de um relacionamento real. Não um que você pensasse que era real, mas aparentemente era apenas uma conveniência para uma das partes. Mais uma razão para Jason e eu não sermos casados. E agora, de jeito nenhum eu procuraria um relacionamento enquanto estivesse sem teto e desempregada.
Claro, de jeito nenhum eu procuraria por um relacionamento por um bom tempo de qualquer maneira. Eu estava declarando que a esfera de três metros ao meu redor era uma zona livre de homens. Posso até fazer voltar a moda das saias gigantescas só para fazer cumprir essa nova sanção.
Mas, a garota não tinha terminado.
— Meu namorado, Ben… — Ela abriu um sorriso bobo no rosto. — Ele é maravilhoso. Tipo, o segundo cara mais lindo que eu conheço. Sério. Eu pareço o tipo de garota que um cara bonito se interessaria?
Quase balancei a cabeça. Não porque ela não fosse bonita. Ela era. De uma maneira fofa, a garota-da-casa-ao-lado-que-é-um-tanto-nerd. Eu tinha certeza de que os caras ficariam atraídos por ela apenas por causa de todo aquele brilho vindo dela. E os óculos. Eu nunca tive inveja de meninas com óculos, mas ela parecia usá-los como se fossem apenas parte de seu visual.
Claro, isso poderia ser apenas o brilho de um relacionamento novo, mas eu estava supondo que ela já era adorável mesmo na era pré-Ben.
— Me chamo Jenna Drake. — Ela se inclinou sobre a mesa de centro, a mão estendida.
Foi um gesto muito acolhedor. Ela simplesmente não era uma daquelas pessoas que você dispensava rudemente porque estava tentando trabalhar. Além disso, o nome dela era vagamente familiar enquanto eu lutava para lembrar de onde. Eu estava realmente, realmente esperando que não tivéssemos frequentado a escola juntas ou algo assim.
Era a última coisa que eu precisava. A famosa rede de fofoca da minha pequena cidade ainda estava viva e bem. Minha mãe me ligaria trinta segundos depois de ouvir sobre meu novo status, e eu receberia um sermão sobre as mulheres que vivem sozinhas no mundo.
Obviamente, minha mãe havia acidentalmente voltado no tempo para os anos 40.
Aos seus olhos, só havia uma coisa pior do que não ser casada… ser solteira.
— Kasey Lane.
— Uau! — Ela puxou um caderninho vermelho e rabiscou nele. — É um ótimo nome. Vou roubá-lo com certeza.
Roubar meu nome? Como um roubo de identidade? Eu não tinha certeza do que mais ela estaria falando, mas ela não tinha nenhuma das minhas informações, então percebi que eu estava bastante segura. Eu só teria que me lembrar de não deixar minha bolsa sozinha… ou jogar minha nota fiscal fora.
Ela olhou para cima e deve ter percebido o olhar horrorizado em meu rosto.
— Ah, não, não se preocupe. Não estou roubando nada real. Apenas seu nome. É um ótimo nome — disse ela novamente, desta vez com um sorriso enquanto colocava o bloco de volta em sua bolsa. — Eu sou escritora e você ficaria chocada se eu te contasse como é difícil inventar novos nomes. Quer dizer, há o quê? Milhões deles? E, no entanto, você acaba pensando sempre nos mesmos, todas as vezes. Já tentei nomear quatro caras diferentes, James.
Ela era uma bolinha de energia… uma energia realmente sem foco.
— Desculpa, Eu tento não sair por aí tagarelando. Não sou muito sociável.
Ela parecia realmente pensar isso. Ela não tinha sido nada além de doce, acolhedora e amigável. Se isso fosse não ser sociável, eu teria muitos problemas.
E a Barista Abby… Bem, Abby já estava a cinco passos além de ter problemas. Talvez precise reconsiderar o Coffeesão como meu novo local para passar o tempo.
— Não. Não, tudo bem — interrompi, antes que ela pudesse começar novamente. — Só fiquei um pouco chocada com a palavra roubar. — Pode ser até divertido saber que meu nome foi usado em algum livro. Uma versão famosa da minha não-eu. Eu poderia pegar o livro e mostrar às minhas amigas na próxima vez que marcarmos algo. Olha, este personagem tem o meu nome! Você não consegue isso sendo uma mãe dona de casa. Espera. — O que exatamente você disse que escrevia?
Com a minha sorte, ela escrevia alguma literatura erótica de nicho estranho com a qual eu teria que lidar toda vez que alguém fizesse uma busca sobre mim no Google.
— YA, jovem adulto.
Ah… Isso parecia bastante seguro. Parecia estranho que eles deixassem uma mulher meio louca escrever para crianças, mas o que eu sabia?
Jenna sorriu e começou a tirar mais coisas de sua bolsa. Um notebook e um cabo, um pequeno cronômetro em forma de girafa, uma pilha de páginas rabiscadas.
— Você não costuma trabalhar aqui, não é? — Ela abriu o notebook e recostou-se na cadeira enquanto ele ligava.
— Primeiro dia. Bom mocha.
— É por isso que você não está familiarizada. Este é o meu escritório oficial do: não-aguento-mais-ficar-na-minha-empresa. — Era