— Não sou mais criança e não quero voltar para Tóquio! — Kira se intrometeu novamente, à beira das lágrimas.
— Quero partir antes que o novo período escolar comece. Vou dividir meu tempo entre casa e a embaixada, enquanto você pode ficar na casa da minha mãe, como antes. Já entrei em contato com a antiga escola de Kira e eles têm uma vaga para ela. Ela só vai ter que passar no exame e poderá frequentar o ensino médio — continuou seu pai despreocupado, deixando sua filha muito ansiosa. Ela parecia à beira de um colapso nervoso.
— Não, não, não, não, não! — A jovem continuava gritando, fechando os ouvidos.
— Kira, você sabia que ficaríamos aqui apenas quatro anos! — Seu pai tentou fazer com que ela usasse a cabeça, segurando seus ombros, mas ela começou a se contorcer e chorar desesperadamente.
— Não, não, não! Não quero ir embora! Quero ficar aqui! Em Princeton! Com Lucas!
— Sinto muito, meu bem. Mas isso é impossível!
— Não, eu não quero — gritou Kira com toda força, empurrando o pai com violência para longe, saindo correndo pela porta dos fundos até a garagem para pegar sua bicicleta.
Os gritos de reprovação do pai e os gritos desesperados da mãe foram completamente inúteis.
Ofegando e com terror no fundo do seu coração pelo que estava acontecendo, a garota pegou a bicicleta e antes que seu pai pudesse alcançá-la, ela correu para a rua e começou a pedalar com todas as suas forças. Ela sabia que a casa do menino que ela amava ficava a cinco quilômetros de distância.
Quando ela chegou à suntuosa e majestosa villa da família de Scott, todos os músculos das suas pernas estavam queimando e ela sentia dor na garganta por causa do esforço.
Felizmente, havia um vento fraco naquele dia, então cada lágrima que ameaçavam escorrer pelo seu rosto, secavam antes de cair.
Usando a pequena passagem que Lucas fizera três anos antes ao quebrar uma parte da cerca, Kira conseguiu entrar furtivamente na villa e correu sem fôlego até a mansão.
Ela sabia que o pai de Lucas nunca permitiria que ela entrasse, como sempre aconteceu naqueles quatro anos, mas ela conseguiu identificar a janela do quarto do amigo, então correu por baixo e o chamou, com o pouco de fôlego que lhe restava.
Após gritar o nome de Lucas sete vezes, ela ficou abalada pelas lágrimas e caiu de joelhos no cascalho, rezando para que fosse apenas um pesadelo terrível.
Ela pulou e de repente se levantou assustada quando sentiu um toque leve no ombro.
Ela temia que pudesse ser Darren Scott ou sua própria mãe, mas, felizmente, assim que se virou, ela viu o rosto abatido e triste de Lucas.
Ela olhou para ele, tentando enxugar aquelas lágrimas irritantes que faziam o mundo de verdade ao redor dela piscar.
Lucas havia retirado o curativo, então Kira podia ver o ferimento entre os pelos da sua sobrancelha. No entanto, ela ficou ainda mais abalada com seus olhos inchados e vermelhos, já que não estava mais acostumada com eles.
De maneira instintiva, ela procurou por um lenço no bolso, para que pudesse enxugar seu ar assustado, mas ela havia se esquecido de tudo quando fugiu de casa.
— Kira — sussurrou o menino. Ele ficou devastado quando viu sua amiga chorando. Isso era algo inesperado e fez com que ele se sentisse muito mal novamente.
— Lucas… — Kira saltou, jogando-se em seus braços. Ela o abraçou com toda força, como se temesse que o vento pudesse levá-lo para longe dela.
Ela sentiu os braços de Lucas retribuírem o abraço, abraçando-a completamente.
— Desculpe, Kira — murmurou o menino abatido, abafando suas palavras por entre os cabelos compridos e sedosos dela.
— Oh, Lucas! Por favor, me perdoe. Não quero perdê-lo — soluçou Kira, abraçando-o ainda mais forte.
— Nem eu — Lucas estava tremendo.
Kira podia ouvir o coração do amigo batendo cada vez mais rápido enquanto a respiração ficava irregular.
Ela sabia que ele estava chorando e isso a fez desmoronar.
Ela esteve cuidando dele por anos e passou a conhecê-lo, amá-lo e apoiá-lo. Então, naquele momento, ela não conseguia acreditar no que diria a ele logo em seguida.
— Meu pai foi transferido de volta para Tóquio. Ele quer que minha mãe e eu voltemos para o Japão com ele. — Ela conseguiu dizer sem se afastar de Lucas, mas, de repente, ele deu um passo para trás, assim que percebeu o que ela quis dizer.
Kira estremeceu por causa dessa separação repentina. Então ela viu Lucas olhando para ela com uma expressão destruída.
— Eu não quero, mas… — Kira tentou explicar
— Então não faça isso! Não vá. Não me deixe sozinho… você também não. Estou te implorando — gaguejou Lucas e começou a tremer. Ele já tinha perdido a mãe e perderia sua melhor amiga em breve.
Por que todas as mulheres que ele amava o abandonavam mais cedo ou mais tarde?
— Não quero deixá-lo sozinho — declarou Kira séria, tentando recuperar um pouco de clareza.
— Então não volte para o Japão! — implorou Lucas com uma voz tão dolorida que pareceu uma punhalada no coração de Kira.
A resposta escapou dos seus lábios antes que ela pudesse pensar sobre isso.
— Tudo bem — respondeu ela, começando a matutar para encontrar uma solução.
O sorriso que finalmente se espalhou no rosto de Lucas valia mais do que mil presentes de Natal.
— Você promete?
Elizabeth geralmente dizia a filha para que não fizesse promessas que não pudesse cumprir, mas Kira não tinha dúvidas sobre o que aconteceria: ela tentaria ficar em Princeton com Lucas, por bem ou por mal.
— Prometo — disse ela, fazendo uma cruz no coração.
A felicidade crescente no rosto de Lucas tornou-se imediatamente contagiosa. Enquanto se abraçavam mais uma vez, Kira jurou para si mesma que faria qualquer coisa para ficar perto do seu melhor amigo.
Infelizmente, sua mãe buzinou do seu carro, que estava estacionando no lado de fora do portão da propriedade, interrompendo-os, então Kira tinha que voltar para casa.
— Coloque seu curativo de novo ou vai ficar com uma cicatriz — disse Kira preocupada, roçando o dedo indicador na sua sobrancelha machucada. Te vejo amanhã. Em casa.
— Vamos ter uma ótima partida de Super Mario , ok? — sugeriu Lucas, sentindo-se mais sereno, antes que sua amiga saísse pela passagem secreta que usou para entrar.
— Vou arrasar você! — Kira o desafiou alegremente antes de entrar no carro, mas assim que Lucas desapareceu da sua vista, ela sentiu algo quebrando dentro de si, bem no meio do peito.
Ela seria capaz de cumprir sua promessa a Lucas?
ADAM
Tóquio, Japão, 11 de novembro de 2015
Quando ele alcançou a antiga ala do prédio, seu coração estava batendo rápido.
Ele olhou ao redor com cautela, certificando-se de que tivesse deixado para trás todas as garotas com tesão que sempre