Zoe concentrou-se na tarefa, centrando a cadeira do menino e pondo-lhe o cinto de segurança.
– É um menino muito tranquilo – comentou Anton, que observava a manobra.
– Só tem três semanas. Os bebés só comem e dormem, a não ser que se passe alguma coisa – disse ela, baixando-se para beijar o nariz do menino.
Anton admirou mais uma vez a qualidade de ouro líquido do seu cabelo e os seus dedos longos e magros.
– Quem é o homem que há na tua vida? – perguntou, deixando-se levar pela curiosidade.
Zoe recostou-se e deitou o cabelo para trás antes de responder.
– Quem diz que há um homem?
– Fechaste o portão do jardim atrás de alguém que se foi embora precipitadamente e perguntava-me que homem era capaz de fugir em vez de ficar a proteger-te.
Ao pensar em Susie, Zoe sorriu. Embora tivesse tido vários namorados, não tinha mantido nenhuma relação importante nem chegara a sofrer por amor. Mas não tencionava dar essa informação a Anton Pallis.
– Não penso que a minha vida pessoal seja da tua incumbência.
– É se alguém puder vender uma história sobre ela à imprensa.
Zoe apercebeu-se de que se referia à informação que podia ter dado a um amante sobre os segredos familiares.
– E a mulher com quem sais? – perguntou Zoe, contra-atacando. – Seria capaz de vender um exclusivo?
Anton sorriu com desdém.
– Eu não conto segredos. Além disso, perguntei primeiro.
– Eu também não – disse ela, irritada com o efeito que aquele sorriso teve sobre ela. – E se houvesse algum homem, penso que se consideraria deslocado depois de me ver a entrar neste carro contigo.
– Porque não poderia competir com a minha beleza e o meu encanto irresistível? – brincou ele, embora Zoe pensasse que tinha ambas as coisas em abundância.
– Pensava no teu dinheiro e no de Theo. Têm demasiado para surgirem adversários. Embora tenha de admitir – acrescentou, – que os teus atributos físicos te tornam um adversário difícil.
Anton deixou escapar uma gargalhada profunda e Zoe riu-se com ele.
Era a primeira vez que se ria desde o início daquelas semanas terríveis e sentiu-se culpada.
– É a tua vez – disse ela, concentrando a sua atenção nele. – Sais com alguém?
– Não.
– A imprensa diz outra coisa. E a modelo de Nova Iorque?
Anton deu um suspiro fingido de resignação.
– Algumas mulheres adoram publicidade. Acabámos depois de conceder essa entrevista.
– O meu pai diz sempre… – Zoe calou-se bruscamente e olhou para o chão.
– O que costumava dizer o teu pai? – perguntou Anton, com delicadeza.
Zoe ia dizer que o seu pai dizia sempre que os bens materiais não importavam, só o amor. Mas tinha um nó na garganta.
– Encontrei-me com ele algumas vezes – disse Anton. E ela levantou a cabeça. – Eu era muito pequeno e pensava que ele era muito velho, embora só tivesse dezoito anos. Levou-me a jogar futebol, algo que nunca ninguém tinha feito…
Zoe engoliu em seco.
– Nem com o teu pai?
– Tinha morrido no ano anterior. Mal me lembro dele. Viajava muito por negócios e era demasiado importante para brincar comigo. Já chegámos – disse, parecendo aliviado por ter uma desculpa para interromper aquela conversa.
Zoe olhou para a frente a tempo de ver que o carro de polícia que os precedia virava para a direita ao mesmo tempo que a limusina diminuía a velocidade e atravessava um portão. Olhando para trás, viu que os dois carros de polícia bloqueavam o vazio. Atrás deles, viu parar uma caravana de jornalistas que os seguira e viu a frustração nos rostos deles, que saíram dos seus carros a protestar. Aliviada, virou-se para a frente. Mas o alívio desapareceu imediatamente.
– O que é isto? – perguntou, alarmada.
– O nosso próximo meio de transporte – disse Anton.
– Mas… é um avião!
Observando o perfil aerodinâmico do seu avião privado, Anton respondeu:
– É o que parece.
Capítulo 4
Tentando dominar o pânico, Zoe murmurou.
– Disseste que era um helicóptero. Vamos para tua casa de avião?
– Sim – confirmou ele, enquanto o motorista saía e ia abrir a sua porta.
Ao humedecer os lábios, Zoe sentiu que lhe tremiam.
– Onde é a tua casa?
Zoe apercebeu-se de que devia ter feito aquela pergunta com antecedência. Anton permanecia imóvel, mas o seu olhar de aço fez com que, intuitivamente, ela agarrasse a cadeirinha.
A tensão eletrizou o ar.
Quando o motorista abriu a porta, Anton segurou o vidro para o parar, sem desviar o olhar de Zoe.
– Vamos para a Grécia – disse.
– Para a Grécia? – exclamou ela, ficando em guarda. – Mas disseste que…
– Não disse que a minha casa era em Inglaterra – disse ele, como se esperasse que Zoe aceitasse a situação sem discutir.
Mas não foi assim.
– Nem eu nem o meu irmão vamos para a Grécia – disse Zoe, ao mesmo tempo que tentava soltar o cinto de segurança do menino.
– E onde tencionas ir? – perguntou Anton.
– Para casa.
– Como?
– A pé, se for preciso! – exclamou ela. E olhando para ele, acrescentou: – Ou talvez vá falar com a imprensa e lhes diga que és um trapaceiro e um mentiroso e que me sequestraste.
Pela primeira vez, Anton fez um ar de irritação.
– Talvez tenha mentido por omissão – disse. – Mas não te enganei nem estou a raptar-te.
Zoe continuou a tentar soltar o cinto da cadeirinha.
– E o que é isto, umas férias?
– Por exemplo.
– Quem nos espera ao fim da viagem, Anton Pallis, Theo Kanellis?
A forma como pronunciou ambos os nomes, como se a envenenassem, tirou Anton do sério.
– Não – disse, segurando com firmeza na cadeirinha quando Zoe finalmente a soltou. – Queres parar e ouvir?
– Para que continues a mentir? Achas que sou idiota? – Zoe fechou ambas as mãos à volta da asa da cadeirinha. – Pediste-me para confiar em ti e já vês de que me serviu!
– Podes confiar em mim – insistiu Anton. – Não vamos para casa de Theo. Juro-te pela minha honra que a oferta de um refúgio era sincera.
Zoe olhou para ele desdenhosamente antes de soltar uma mão e apalpar a porta, para tentar abri-la.
– Devia ter sabido que a tua amabilidade era mentira – disse, num tom trémulo. – Afinal de contas, és o seu representante. Não é de estranhar que o meu pai tenha evitado todos vocês.