Uma profunda raiva aumentou a tensão daquele encontro. A sua avó errara redondamente sobre aquela candidata para um casamento perfeito. Nicole com certeza enganara-a, a fim de se divertir, passando-se por escritora, baseada numa experiência com algumas histórias de terror.
Ele acomodou-se na cadeira, nervoso, e altamente decepcionado com a absurda situação, encarou a mulher sentada à sua frente.
Porquê ela? O que vira a sua avó como atributos especiais que a fazia adequada para ser sua esposa?
Cabelos vermelhos?
Aquilo certamente adoçara a noite exótica em Nova Orleães, mas ali nos trópicos? Aquela pele clara fritaria em Porto Douglas. Loucura total!
Embora ele tivesse de admitir que a coloração dramática e a pele delicada e fina, realmente tinham uma beleza única. Pensara assim dez anos antes e aquilo ainda era verdade. Mas era muito claro que ela não pertencia àquele ambiente. Consequentemente não tinha nenhuma possibilidade de passar uma vida inteira ali…
Estava sentada muito erecta, os joelhos unidos, o chapéu no colo, olhos baixos, projectando uma modéstia que era estranha perante a função que exercera dez anos antes. Com um vestido quase transparente, ele pôde ver que os seios eram pequenos, porém bem feitos. Interessante o facto de usar amarelo, o que não era uma cor discreta.
A mulher estava a fazer algum jogo com ele, decidiu Matt. Então recostou-se na cadeira e relaxou, sabendo que tinha um ponto em seu favor, uma vez que Nicole nunca se poderia lembrar dele. Matt e os amigos estavam a usar máscaras naquela noite, como faz parte da festa do Dia Das Bruxas.
– Está é a sua primeira visita ao norte, certo? – Começou.
Nicole assentiu e, devagar, levantou os olhos para ele.
– Voei para cá há um mês, para fazer uma entrevista com a senhora King.
Olhava-o de modo cauteloso, como se estivesse em modo de alerta. Matt perguntou-se porquê. Necessidade de esconder alguma coisa sobre si mesma? Via-o como uma ameaça para o seu confortável emprego no castelo?
Curioso, sorriu para deixá-la mais à vontade, quando perguntou de forma intrigante:
– Seis meses no castelo não lhe soa como uma sentença de prisão?
A ideia pareceu surpreendê-la.
– Nada disso. Porque pensa assim?
– Oh, ficará presa na companhia da minha avó, e a novidade de viver num lugar novo, especialmente romântico, não compensará as coisas que perderá ou que terá de tolerar – disse ele, observando a reacção de Nicole perante as suas palavras.
Ela baixou a cabeça.
– Não gosta da companhia da sua avó?
– Isso não é relevante – respondeu ele, secamente.
Ela franziu o sobrolho.
– Não foi ao almoço de família ontem.
– Verdade. Não permito que a minha avó dite as regras para a minha vida. Eu tinha outro compromisso e não vi nenhuma razão para o cancelar. – Matt fez uma pausa, esperando investigar o carácter dela. – Ofendeu-se porque não cedi ao comando dela?
– Eu? Claro que não.
– Então porque acha que eu deveria ter ido?
– Eu não acho. Apenas pensei… digo… – Nicole parou, meio confusa.
– Estava apenas a sugerir que os próximos seis meses, sob o mesmo tecto com uma senhora de oitenta anos, pode fazer do castelo King uma prisão para uma jovem acostumada a todo tipo de atracções da vida urbana.
Ela deu um pequeno sorriso.
– Na verdade, acho as pessoas idosas mais interessantes do que as jovens. Viveram mais e algumas tiveram vidas incríveis. Não me posso imaginar entediada na companhia da senhora King.
A expressão de Nicole sugeria que se poderia facilmente entediar na companhia dele, o que o incitou a fazer um comentário irónico:
– Está preparada para se enterrar no passado e deixar a sua própria vida de lado pela duração do projecto?
Ela empinou o queixo em desafio.
– Sempre achei a história fascinante. Acho que há muito que aprender com isso. E não considero nenhuma forma de aprendizagem um desperdício de tempo.
– Uma visão muito académica – apontou, perguntando-se o que ela aprendera daquelas histórias de fantasmas. – Dizem que a história se repete, então o que pode colher disso? – desafiou ele. – A natureza humana não muda.
Ela não respondeu. Por vários momentos olhou-o directamente, num silêncio cheio de antagonismo.
– É contra o projecto, Matt?
– Nem um pouco. Acredito que uma publicação dessas será de interesse para futuras gerações da nossa família – respondeu. – E também acho significante a minha avó ter um registo impresso da vida dela. Um último testamento, o que ela merece muito.
– É contra eu fazer isso?
Directo no alvo! Ele tinha de conceder isso a Nicole Redman. Ela tinha certamente uma bola de cristal para colocar as cartas certas na mesa.
– Porque deveria ser?
– Não sei – disse ela. – É você quem tem de me dizer.
Esperta, a jogar a questão de volta para ele.
– Quantos anos tem, Nicole?
– Vinte e oito.
– Está a sair de um mau relacionamento?
– Não.
– Nem comprometida neste momento?
– Não.
– Nem a procurar um?
– Não – respondeu ela, sem entender.
– Porque não? – insistiu ele.
– Porque deveria estar?
– Achei que fosse um passatempo normal para uma mulher da sua idade.
Nicole enrubesceu. A expressão era de orgulho quando respondeu:
– Então imagino que não me encaixo no seu conceito de normal.
Matt ficou sem resposta. Não ia disparar a sua arma escondida até que soubesse alguns factos sobre as circunstâncias mais recentes dela. Muito poderia acontecer em dez anos. Se ela estivesse a falar a verdade sobre a sua idade, tinha apenas dezoito anos em Nova Orleães. Uma adolescente rebelde podia ter aprendido a ser séria.
Obviamente tinha as qualificações que a sua avó queria para uma boa esposa. Solteira, desimpedida, com idade madura para achar que casamento era uma ideia aceitável e, com certeza, muito atraente nos seus gloriosos cabelos vermelhos.
Mas por que motivo a sua avó escolhera uma ruiva para ele? Por que não uma loira ou uma morena? Ele nunca…
A resposta, de súbito, surgiu. Trish no casamento de Tony. A irmã de Hannah tinha uns longos cabelos castanhos e ele tinha ficado com ela na festa. Sendo uma modelo profissional, era alta e magra, e eles tinham-se divertido muito durante a recepção. Nada sério, apenas um alegre caso, aproveitando a companhia um do outro. Será que a sua avó deduzira que Trish era o seu tipo de mulher?
Ele baixou a cabeça e Nicole tomou essa acção exasperada como se lhe fosse dirigida.
– É um projecto que eu quero fazer – começou, irritada pela sugestão de Matt que procurar por um homem devia ser a sua prioridade. – Entendi pelo que a senhora King me falou, que você fundou esta empresa de turismo porque quis. Também desenvolveu um mercado para frutas exóticas por vontade própria.