Felizmente ele tinha ouvido por acaso a conversa triunfante com Elizabeth King no casamento de Tony, além da proclamada esperança de que ela seria capaz de encontrar uma esposa adequada para o seu terceiro neto. Matt desconfiava que Nicole Redman era a candidata seleccionada.
Ela provavelmente não sabia daquilo, assim como ele também não deveria saber. Mas isso não mudava o jogo. A chegada da rapariga à cena familiar, repetia o modelo anterior da sua avó, empregando uma mulher jovem que acabaria por casar-se com um dos seus netos. Uma vez que ele era o único que permanecia solteiro…
– Muitas pessoas podem fazer pesquisas e escrever uma lista de factos, Matteo – declarou ela em tom de desdém. – Mas ter a habilidade de contar uma história de maneira envolvente é outra coisa. Realmente não quero um livro amador. Isto é importante para mim.
Aquilo era puramente Isabella Valeri King… que não gostava de ser contrariada. Mesmo aos oitenta anos de idade, ainda era uma personagem formidável e Matt amava-a e respeitava-a demasiado para não ceder… um pouco.
– Desculpa-me, avó – pediu ele, rapidamente. – Sabes bem o que queres e se uma autorização de livre trânsito a ajudar no projecto, ficarei muito feliz em fornecê-la.
Aquilo só lhe tomaria um minuto. Uma breve reunião durante o horário de trabalho, sem nenhuma obrigação social envolvida, serviria para satisfazer a sua curiosidade sobre o que tornava Nicole Redman tão adequada para ele aos olhos da sua avó.
– Pensei que a pudesses suprir com mapas rodoviários que ela necessitará quando se resolver aventurar por si mesma. Explicar-lhe as várias áreas de interesse familiar, e qual a melhor forma de lá chegar.
Matt pôde ver o minuto esticando-se para meia hora, mas não tinha meios de recusar a solicitação razoável.
– Certo. Deixarei os mapas prontos para ela. – Com todas as plantações marcadas, do Cape Tribulation ao Innisfail. Aquilo economizaria tempo e evitaria uma maior proximidade dos dois, a qual a sua avó estava indubitavelmente a conspirar.
– Obrigada, Matteo. Quando seria mais conveniente que Nicole chegasse aí?
Nunca. Suprimiu o impulso de falar e respondeu:
– Oh, digamos, dez e meia?
A ligação terminou com aquele consentimento e, por um tempo, ele meditou sobre quão esperta era a sua avó, mantendo-se estritamente nos negócios, sem nenhuma pista de estar a tentar favorecer um encontro pessoal, nem mesmo um comentário sobre Nicole Redman como pessoa, simplesmente a pressionar um encontro com razões puramente comerciais.
Poderia ele estar enganado sobre a conspiração?
Não, aquele era o modo de acção de Isabella.
Tinha surgido com Gina Terlizzi, uma cantora de casamentos, justamente quando Alex estava a planear casar-se com uma mulher da qual a sua avó não gostava. Com razão, Matt tinha de concordar. Ele também não gostara de Michelle Banks e estava feliz por Alex a ter trocado por Gina. Apesar de ter sido a mão de Isabella que produziu o resultado desejado.
Então armara uma armadilha bem organizada para Tony, escolhendo Hannah O’Neill para ser a nova chefe de cozinha do seu catamarã, Duquesa. Independentemente da sua qualificação questionável para ser uma cozinheira. Tony cometera o erro de dar à avó a tarefa de entrevistar as candidatas para chefe de cozinha e optar, o que lhe permitiu presenteá-lo com um caso encerrado que selou o seu destino. Era impossível ignorar as outras qualificações de Hannah quando estas estavam inexplicavelmente diante dele. Tony apaixonara-se imediatamente.
Duas protegidas casaram-se com os seus dois irmãos.
A terceira estava a vir.
Nicole Redman só podia ser o alvo da sua avó. A única dúvida era… que armas tinha ela para o arrastar para o altar? Aquilo adicionou um interesse picante à reunião da manhã seguinte.
Riu-se, confiante, enquanto ligava a televisão.
Independentemente do que fosse aquilo, ele estava inume. Não tinha uma lua-de-mel ligada ao contrato de Nicole Redman com a sua avó. Matt não estava pronto para se casar e ponto final!
Capítulo 2
Nicole parou no último degrau da escadaria que descia para a rua Wharf e olhou para trás, avistando o castelo dos King e maravilhando-se com o facto de um lugar daqueles ter sido construído ali há tantos anos atrás.
O extremo norte de Queensland era muito longe de Roma. Entretanto, Frederico Stefano Valeri, pai de Isabella, certamente tinha empregue a sua herança italiana quando construiu aquele impressionante palacete no topo da montanha, com vista para o Porto Douglas.
Lar e família, pensou Nicole, recordando-se dos dois netos que conhecera no dia anterior, ambos passando a certeza de que cuidariam de qualquer problema que aparecesse. O sentido de herança e tradição familiar estava demasiado vivo neles, nutrido, sem dúvida, pela extraordinária avó. Seria interessante ver se o neto mais jovem se encaixava nos mesmos moldes.
Três irmãos, Alessandro, António, Matteo, carregando o passado para o futuro, dando continuidade aos negócios que tinham sido começados por Frederico quando deixara a Itália em busca de uma vida nova na Austrália, em 1906. Uma família fascinante, com uma história fascinante e um presente igualmente fascinante, decidiu Nicole, virando-se do castelo para continuar a caminhada até ao escritório da King Turismo.
Eram apenas dez horas da manhã, mas o calor já estava a atravessar o seu chapéu de palha. Era muito fácil apanhar uma insolação nos trópicos. Ela tinha sido avisada, e mantinha-se sob a sombra das árvores que margeavam a rua, enquanto descia preguiçosamente a montanha para o principal centro comercial.
De pele clara, usava protector solar nos braços, pernas e rosto para se proteger contra as queimaduras de sol. Ser ruiva tinha desvantagens num país devotado ao sol e cheio de espaços ao ar livre.
Felizmente, sempre amara os livros. Ler e escrever eram os seus grandes prazeres. Estar num ambiente fechado nunca fora um sofrimento, e o facto de ter vivido com o seu pai nos últimos anos da sua vida, deixara-a com o hábito de ser uma pessoa noctívaga. Hábito que teria de mudar enquanto estivesse a trabalhar com Isabella Valeri King.
Contudo, havia um brilho especial nas manhãs em Porto Douglas, uma magia na alvorada sobre o oceano, um tipo de luz que deixava as cores mais vibrantes.
Tudo era diferente. O ritmo desacelerado da cidade, sem agitação e tumulto, o calor do dia seguido por uma inacreditável pancada de chuva na maior parte das tardes. Aquilo estimulava um recado da natureza e a necessidade de viver em harmonia com ela.
Nicole sentia-se muito longe da vida urbana, como se se tivesse mudado para um outro mundo, que funcionava dentro de parâmetros totalmente próprios. Era um mundo muito atraente, que poderia facilmente transformar-se num vício.
Ali estava ela, a andar num ritmo preguiçoso, sandálias baixas calçadas, um vestido amarelo sem mangas que deslizava pelo seu corpo, mínima lingerie, um chapéu de palha na cabeça, exibindo um grande girassol, e não se importava com o que as pessoas pudessem pensar dela. Nenhum estudante para ensinar, nenhum colega académico empurrando-lhe agendas políticas, nenhuma crítica sobre o livro que ela escrevera sobre a vida do seu pai.
Liberdade…
Nicole sorriu, feliz com a sensação. Era como estar a começar uma vida nova, embora nos próximos seis meses tivesse de pesquisar vidas passadas, a escrever uma história. Mas era uma história que não vivera e sobre uma família que tinha sofrido e sobrevivido, e que ainda possuía sucesso. O tipo de família que ela não tinha e que nunca conhecera. Outra atracção… descobrir como era, na verdade, pertencer a um lugar, ter raízes profundas.
Andou pela rua Macrossan