Mais para baixo, na rua Wharf, estava a marina onde António, Tony, operava a linha de catamarãs King Cruzeiros, levando turistas para o recife Great Barrier. Aquela era a sua empresa pessoal, mas também cuidava das plantações de chá, que pertenciam à sua família. Nicole pretendia conhecer o escritório da empresa King Cruzeiros, depois da reunião com Matteo, Matt.
Virou na rua Owen, a qual conduzia ao escritório principal da King Turismo. A companhia de transportes era uma ideia de Matt e um dos tours que ele fazia era para a sua fazenda de frutas exóticas, uma extensão das plantações de frutas tropicais que era a sua responsabilidade nos negócios da família.
Era interessante que nenhum dos três irmãos tinha simplesmente aceite as suas heranças e contentado em viver delas. O que podiam ter feito, devido à prosperidade de todas as plantações. Claro, variedade era sempre uma situação saudável em qualquer negócio financeiro, mas Nicole suspeitava que o sangue pioneiro corria fortemente nas veias daqueles homens. Talvez fosse o desafio de perseguir mais coisas que os impulsionava.
Certamente Alex e Tony King eram diferentes de todos os homens de cidade que ela conhecera. Eram muito civilizados, educadíssimos, e ainda tinham uma masculinidade que era, de alguma forma, mais agressiva. Nos olhos da mente, Nicole podia ver os dois a lutar, ombro a ombro, emanando a atitude de que nada os iria derrubar. Talvez fosse pura imaginação, mas aquela era a impressão que tivera deles.
Será que o terceiro irmão era como os outros dois?
Foi com essa pergunta em mente que Nicole entrou no escritório da King Turismo. Um rapaz de rosto puro, perto dos vinte anos, estava sentado numa enorme mesa em forma de «L». Levantou os olhos da papelada de trabalho, olhou-a rapidamente e esboçou um sorriso de boas-vindas.
– És a menina Redman?
– Sim.
Ele apontou para a porta que ficava ao lado da sua mesa.
– O chefe está aí no escritório. Separou todos os mapas para ti. – Os olhos azuis piscaram, como se aquela informação reflectisse alguma piada particular. – Eu mesmo marquei os locais de interesse principais, para não se perder – acrescentou ele, fazendo com que Nicole se perguntasse se ele fora informado de que ela era a navegadora mais perdida do mundo.
O rapaz abriu-lhe a porta.
– Menina Redman – anunciou, antes de ela sequer pensar em tirar o chapéu.
Tudo aconteceu tão rápido que Nicole se viu dentro da sala de Matt King, com o chapéu ainda na cabeça e o bom sentido completamente disperso por estar a confrontar o homem. Não como Alex. Nem como Tony. Aquele irmão era absurdamente bonito, extremamente sexy. Matt era uma obra-prima.
Os cabelos eram negros, brilhantes e encaracolados, um convite atormentador para serem tocados. Os cílios longos e espessos destacavam os olhos cor de chocolate. E a pele cor de jambo parecia ser tão macia, que os dedos de Nicole formigaram de desejo de deslizar por ela. E, acima de tudo, um corpo de tirar o fôlego.
Ele saiu de trás da mesa, alto, grande, vestindo uma camisa azul desportiva e umas calças de sarja azul-marinho, dentes brancos a cintilar, e Nicole sentiu como se cada gota de oxigénio se estivesse a esvair dos pulmões. O coração disparou no peito. Foi o puro instinto de defesa que a fez levantar as mãos, tirar o chapéu e colocá-lo à sua frente, como uma barreira contra o impacto da aproximação dele.
A acção fê-lo parar e as faces de Nicole coraram de vergonha. Que coisa desajeitada a fazer, nada graciosa. E provavelmente despenteara os cabelos. Ele estava a olhar para eles.
Matt franziu as sobrancelhas quando a olhou, os olhos brilhantes, parecendo tão negros quanto os seus cabelos, e com um poder tão penetrante que a fez tremer por dentro.
Nicole teve a estranha sensação que ele estava a procurar por algum sinal de identificação. O que a forçou a recobrar o bom sentido e falar:
– A sua avó enviou-me. Sou Nicole Redman.
– Red… – disse ele num tom irónico. Então pareceu recordar-se. – Desculpe-me por olhá-la. Mas essa cor de cabelos não é muito comum. Surpreendeu-me. – Ele deu um passo para frente e ofereceu-lhe a mão. – Matt King.
Ela retirou a mão direita do chapéu e cuidadosamente apertou a dele.
– Prazer em conhecê-lo – conseguiu dizer, absorvida pela onda de choque proveniente do toque masculino, com o máximo de controlo que pôde obter. Uma onda de calor latejou o seu braço e fez o coração acelerar.
O olhar dele deslizou até à sua boca, estudando-a, como se procurasse desvendar segredos que ela não estava a revelar.
– Nicole Redman… – ele pronunciou o nome bem devagar, como se testasse o sabor e a textura. – Esta reunião está atrasada, mas sem dúvida, num instante trocaremos todas as informações necessárias.
Matt devia estar a referir-se a não ter comparecido no almoço familiar de domingo, ainda que o olhar estivesse a indicar algo mais. Sentou-se na cadeira que ele indicou, sem dizer nada.
Nicole ficou imensamente grata por aquilo. Os joelhos pareciam geleia. As pernas também estavam bambas.
Não que não tivesse uma pista de como Matt King poderia ser. Afinal, conhecera os seus dois irmãos no dia anterior, ambos bonitos e carregando uma aura de poder. Ela fora capaz de os ver objectivamente. Mas Matt era diferente. Por que se sentia tão afectada por ele?
Era uma loucura. Ela tinha vinte e oito anos e conhecera centenas de homens. Provavelmente, milhares. Mas nenhum deles invadira o seu interior daquela maneira. Talvez estivesse a sofrer uma insolação e simplesmente não sabia. Pensando naquilo, ficou levemente zonza. E muito quente. Se se sentasse quieta apenas por um ou dois minutos, ficaria bem.
Tirou a carteira do ombro e colocou-a ao pé da cadeira, pôs o chapéu no colo e focou o girassol. Quando Matt King se sentasse no seu lugar e começasse a conversar, ela estaria pronta para o encarar e agir normalmente.
Tudo o que precisava dele era a autorização de livre trânsito nos autocarros turísticos e os mapas da cidade, marcados pelo assistente dele. Aquilo não levaria muito tempo, graças a Deus. Algumas palavras educadas e estaria fora dali.
Estava trémula, o coração disparado… Com certeza, teria de ser mais cuidadosa naquele calor tropical. Conduzir, não andar. Aquela era a resposta. Quando Matt King falasse, ela levantaria o olhar, sorriria e tudo estaria certo.
Capítulo 3
Não havia engano, assegurou Matt a si mesmo enquanto, vagarosamente, dava a volta à mesa para se sentar na sua cadeira.
Os reluzentes cabelos vermelhos levaram-no, imediatamente, para uma noite em Nova Orleães há dez anos. Uma noite antes do Dia das Bruxas naquela extraordinária cidade. As feições delicadas, a pele branca perfeita, os grandes olhos expressivos, o contorno sensual da boca… tudo aquilo veio-lhe à mente como um relâmpago. Uma jovem alta e magra, vestindo um manto preto com acabamento em seda roxa, longos cabelos ruivos esvoaçantes, não presos num rabo-de-cavalo como estavam agora.
Ele vira-a palestrar para o grupo de turistas do lado de fora da Loja Vudu do Reverendo Zombie. Assistira-a, ouvira-a, apreciando-lhe a aparência teatral, enquanto ela capturava a atenção do grupo com o seu discurso aberto sobre Histórias de Terror. Ouvi-la a falar com sotaque australiano, acrescentava-lhe apenas mais poder de sedução.
Ficara ali por um tempo, fascinado pela aparência e performance dela. Provavelmente teria ficado mais, não fossem os amigos com os quais estava, que tinham insistido em levá-lo a um dos coloridos bares do bairro francês.
Todavia, Matt recordava-se claramente dela… os cabelos, a face, a pele alva, acrescentada ao impacto das suas histórias sobre fantasmas. O que fez surgir uma questão: que história contara ela à sua avó para conseguir