“Chantelle não tem dificuldades”, Emily disparou, defensiva e subitamente protegendo a menina que começava a ver como filha. “Ela precisa de amor e cuidado. Daniel e eu somos as melhores pessoas para dar isso a ela”.
Vanessa suspirou profundamente. “Não duvido”, disse, resignada. “Só acho que você não pensou bem sobre isso. Tem visto como Katy me deixa exausta às vezes, e ela é sangue do meu sangue. Escolhi tê-la. Chantelle foi empurrada para você. Ela é quase um ultimato de Daniel. Você nunca pediu por isso. Só acho que precisa recuar um pouco e refletir se é isso que você quer”.
Ela apertou o braço de Emily. Nesse momento, Chantelle voltou com uma sacola de papel cheia de doces e barras de chocolate.
“Uau”, Emily disse, “olha quantos doces”.
Mas sua voz não estava tão alegre e descontraída como antes. As palavras de Vanessa a perturbaram, haviam sido como uma faca afiada cortando sua felicidade e deixado uma pedra de dúvida dentro dela. Seria realmente capaz de cuidar de Chantelle?
CAPÍTULO QUATRO
Na volta para casa, Chantelle estava exausta. Conseguiu ficar acordada durante o jantar que Daniel havia preparado, mas bocejou o tempo todo.
“Talvez ela devesse ir para a cama mais cedo?” Emily disse. “Acordou super cedo. E as aulas começam amanhã, então, precisa estar descansada”.
Daniel concordou e elas subiram até o quarto de Chantelle, colocaram-na na cama e então leram uma história até que menina adormeceu.
Quando saíram do quarto, fechando a porta em silêncio, Emily refletiu sobre os últimos dias cuidando de uma criança. Havia sido mais divertido do que esperava. Mas as palavras de Vanessa ainda ecoavam em sua mente, fazendo-a duvidar de si mesma.
Eles desceram as escadas em silêncio, sem querer que o ranger do assoalho acordasse a pequena.
“Adoraria pegar o barco para ver o pôr do sol”, Daniel disse. “O que me diz? Um encontro?”
Emily franziu o cenho. “Não podemos deixar Chantelle sozinha”.
Daniel começou a rir. “Que bom que Serena está vindo pra cá”.
Emily parecia ainda mais confusa. “Hã?”
Daniel apenas sorriu. “Bem, enquanto as duas estavam fora, tomei a liberdade de arrumar uma babá. Ela chegará às sete”.
A expressão preocupada de Emily se transformou num sorriso. “Sério?” Não podia conter sua animação. Fazia tanto tempo desde seu último encontro com Daniel que não percebia o quanto desejava por isso. Ela o abraçou e o beijou demoradamente.
“É melhor me preparar”, ela disse, sorrindo, e subiu as escadas correndo para se vestir.
Serena chegou pontualmente às 19h, trazendo seu perfume adocicado e charme artístico consigo.
“Alguém está vestida para matar”, ela disse, ao ver a roupa de Emily.
Emily corou. Nunca aceitou bem elogios. “Obrigada pela ajuda. Estamos muito gratos por termos uma noite a sós”.
“Sem problemas”, Serena disse. “Quero muito relaxar e ler alguns romances cafonas”.
Emily e Daniel foram até a porta, mas antes de terem a chance de sair, esbarraram em alguém. Era o amigo de Cynthia, Owen, o jovem e tímido pianista que esteve antes na pousada para afinar o antigo piano de seu pai, e a quem Emily havia convidado para vir tocar quando desejasse.
“Ah, humm, desculpe, vocês estão de saída, posso voltar outra hora”, Owen disse, balbuciando as palavras e brincando com a partitura que tinha nas mãos.
“De jeito nenhum”, Emily disse. “Entre e toque. Serena está aqui, então, você pode tocar o quanto quiser”.
Owen sorriu timidamente e agradeceu a Emily, e depois seguiu para a sala de estar.
Enquanto Emily e Daniel desciam trotando os degraus do terraço, a bela música tocada ao piano por Owen flutuava atrás deles.
*
A água lambia os muros do porto enquanto Daniel ajudava Emily a entrar no barco. O céu ainda estava azul, apesar do crepúsculo se aproximar.
“Aonde vamos?” Emily perguntou, depois de se acomodar.
“Queria explorar outra ilha”, Daniel disse.
Emily se lembrou da última vez que tinham feito isso, quando ela havia descoberto o farol e as pinturas que seu pai reuniu. Tinha certeza de que poderia haver alguma pista para o desaparecimento do seu pai nelas, mas assim como a maioria das pistas que ela havia seguido, aquela parecia dar numa rua sem saída: só o nome de uma pintora já falecida.
Daniel deu partida no motor e o barco começou a se afastar da doca. A água estava calma, e a maré, baixa. O barco cortava o mar com facilidade. Emily segurava firme, animadíssima por sentir o vento em seus cabelos, e grata por ter reforçado a maquiagem!
O céu já ficava rosado quando chegaram nas margens da ilha que Daniel queria explorar. Ele saltou do barco e ajudou Emily a descer, então, os dois caminharam de mãos dadas ao longo da praia. Ao longe, as luzes de Sunset Harbor cintilavam.
“É tão lindo”, Emily disse, sonhadora. Havia se apaixonado pelo lugar, por sua pousada e pela menininha dormindo profundamente nela.
“Acha que Serena ficará bem?” Daniel perguntou.
“Desde que Chantelle continue a dormir, não haverá nada com o que se preocupar”, Emily replicou.
Daniel ficou em silêncio. “Gostaria de te agradecer”, ele disse, um pouco tímido.
“Pelo quê?” Emily perguntou.
Por ser tão incrível com Chantelle. E por tudo. Fiz você passar por um triturador, sei disso. Não tinha certeza se me perdoaria”.
Emily engoliu em seco. Lembrar-se daquelas dolorosas semanas sem Daniel ainda a machucavam muito. Vê-lo reconhecer o que a fez passar era restaurador.
“Não acho que tinha escolha”, Emily disse. Ela podia ouvir sua voz vacilar. “Assim que te vi com ela... era tudo que sempre quis, Daniel. Eu te amo tanto que dói”.
Então, eles pararam de caminhar e Daniel se virou para fitá-la. Enxugou a lágrima no rosto dela com o polegar, e então tomou-o nas mãos.
“Eu também te amo, Emily”, completou.
Então, pressionou seus lábios nos dela. Emily se derreteu neles, sentindo mais uma vez aquela paixão crua que apenas Daniel podia acender dentro nela. Ela o envolveu em seus braços, sentindo seus músculos firmes sob a camisa enquanto passava as mãos por todo o seu corpo. Ouvir Daniel finalmente murmurar aquelas três palavras que ela esperava ansiosamente ouvir fez seu corpo ganhar vida de uma maneira nunca vista. A paixão havia sumido de seu relacionamento com Ben há anos, e apesar das noites maravilhosas que havia passado com Daniel, esta era a primeira vez em que ela sentia tanto desejo, tanta vontade.
Ela se afastou dele. Seus olhos brilhavam de desejo. Ela nunca o havia beijado daquela maneira antes.
“Quero você, Emily”, Daniel disse, sem fôlego. “Agora e para sempre”.
Emily se aproximou então, puxando Daniel para si novamente pelos ganchos do cinto de seu jeans. Ela o queria perto dela, junto a si. Queria sentir cada centímetro dele. Naquela ilha abandonada, com o sol se pondo, Emily não podia pensar em outra coisa que quisesse mais do que Daniel. Inteiro.
*
As estrelas cintilavam acima deles. As ondas quebravam suavemente. Emily estava deitada nos braços