O velho lentamente se virou e levantou sua manga. Sua mão parecia perfeitamente normal. Inclusive, quando Caitlin olhou mais de perto, uma mão parecia muito mais jovem do que a outra. Era muito misterioso. Ele tinha a mão de um rapaz e 18 anos. Rosa e saudável – como se ele tivesse ganhado uma nova mão.
Caitlin não conseguia acreditar. Jesus era real. Ele realmente curava pessoas.
Ver a mão daquele homem, um homem que havia tido lepra, completamente curado, lhe deu um arrepio na espinha. Era muito emocionante. Pela primeira vez, ela tinha esperança de que ela talvez o encontrasse, e talvez encontrasse seu pai, e o Escudo. E que talvez eles a levassem até Scarlet.
“Você sabe para onde eles foram?” Caleb perguntou.
“Jerusalém, pelo que ouvimos falar,” gritou um dos outros pescadores, por cima do barulho das ondas.
Jerusalém, Caitlin pensou. Parecia tão distante. Eles haviam voado todo aquele caminho até ali, Cafarnaum. E, agora, parecia uma caçada a gansos selvagens, eles teriam que retornar de mãos abanando.
Mas ela podia sentir a Estrela de David queimando em sua mão, ela sentia que havia uma razão para eles terem chegado a Cafarnaum. Sentia que havia algo mais, algo que eles precisavam encontrar.
“Um de seus discípulos ainda está aqui,” um pescador comentou. “Paulo. Você pode perguntar a ele. Talvez ele saiba para onde eles estavam indo.”
“Onde está ele?” Caitlin perguntou.
“Onde todos eles passam seu tempo. Na antiga sinagoga,” o homem respondeu. Ele se virou e apontou por cima de seu ombro.
Caitlin se virou e viu, por cima de seu ombro, ali, em uma colina, com vista para o oceano, um pequeno e belo templo de calcário. Mesmo naquela época, ele já parecia antigo. Adornado com colunas intrincadas, estava virado para o mar, com uma vista direta para as ondas quebrando. Mesmo a dali, Caitlin podia sentir que este era um lugar sagrado.
“É a sinagoga de Jesus,” um dos homens disse. “É onde ele passava todo o seu tempo.”
“Obrigada,” Caitlin agradeceu, e começou a ir naquela direção.
Enquanto ela andava, o velho a alcançou e pegou seu braço com sua nova mão, curado. Caitlin parou e olhou para ele. Ela podia sentir a energia que pulsava pela mão dele, em seu braço. Ela diferente de tudo que ela já havia sentido. Parecia uma energia confortante, curadora.
“Você não é daqui, é?” o homem perguntou.
Caitlin sentiu que ele olhava em seus olhos e podia dizer que ele tinha algum pressentimento. Percebeu que não tinha motivo para mentir.
Devagar, ela sacudiu a cabeça. “Não, não sou.”
Ele a encarou por um longo tempo e então lentamente assentiu, satisfeito.
“Você irá encontrá-lo,” ele disse a ela. “Posso sentir.”
Caitlin e Caleb caminharam até a costa, as ondas quebravam ao lado deles, o cheiro de sal no ar era pesado. As brisas frescas eram refrescantes, especialmente depois de tanto tempo no calor do deserto. Eles se viraram e começaram a subir uma pequena colina, no topo da qual estava situada à antiga sinagoga.
Caitlin olhou para cima à medida que eles se aproximavam: era construído de calcário desgastado, parecia que estava lá há milhares de anos. Ela podia sentir a energia que saia daquele lugar; um lugar sagrado, ela sabia. A porta grande, arqueada, estava entreaberta e rangia conforme o vento, sacudida pela brisa do oceano.
Enquanto subiam o morro, eles passaram por blocos de flores silvestres, que cresciam, aparentemente, diretamente da rocha, em uma variedade de cores cintilantes. Eram as mais belas flores Caitlin já havia visto, tão inesperadas, tão improváveis naquele lugar desolado.
Eles chegaram ao topo da colina e caminharam até a porta. Caitlin sentiu a Estrela de Davi queimando dentro de seu bolso, sabia que era por causa do local.
Ela olhou para cima e viu, por trás da porta, embutido na pedra, uma grande estrela de Davi dourada, cercada por letras hebraicas. Era incrível pensar que ela estava prestes a entrar em um lugar onde Jesus havia passado tanto tempo. De alguma forma, ela esperava entrar numa igreja, mas, quando ela pensou sobre isso, ela percebeu que isto não fazia sentido, uma vez que as igrejas ainda não haviam sido construídas até depois que ele morreu. Parecia estranho imaginar Jesus naquela sinagoga, mas, novamente, afinal de contas, ela sabia que ele tinha sido judeu e um rabino e, por isso, tudo fazia sentido.
Mas qual a importância que tudo isso tinha para a sua busca por seu pai? Para o Escudo? Ela sentia cada vez mais que tudo aquilo estava ligado, todos os séculos e os tempos e os lugares, todas as buscas nos mosteiros e igrejas, todas as chaves, todas as cruzes. Ela sentiu que uma linha que ligava tudo estava ali, bem diante de seus olhos. No entanto, ela ainda não sabia ainda do que se tratava.
Claramente havia algum elemento sagrado, espiritual conectado ao que quer que ela precisava encontrar. O que também lhe parecia estranho pois, afinal de contas, aquele era um mundo de vampiros. Mas, novamente, enquanto pensava sobre isso, ela percebeu que era também uma guerra espiritual, entre as forças sobrenaturais do bem e do mal, entre aqueles que queriam proteger a raça humana e aqueles que queriam prejudicá-la. E, claramente, o que quer que ela descobrisse, teria enormes impactos não apenas para a raça dos vampiros, mas para a raça humana também.
Ela olhou para a porta entreaberta e se perguntou se eles deveriam apenas entrar.
"Olá?" Caitlin chamou.
Ela esperou alguns segundos, sua voz ecoando. Nenhuma resposta.
Ela olhou para Caleb. Ele acenou com a cabeça e podia dizer que ele também sentiu que estavam no lugar certo. Ela estendeu a mão, colocou sua palma sobre a antiga porta de madeira e a empurrou. Ela rangeu ao se abrir e eles entraram no prédio às escuras.
Estava fresco ali, protegidos do sol, Caitlin precisou de um momento para que seus olhos se adaptassem. Lentamente, eles se ajustaram, e ela examinou o local diante dela.
Era magnífico, diferente de tudo que já tinha visto. Não era grande, assim como muitas igrejas que havia visitado; era, na verdade, uma edificação humilde, construída em mármore e calcário, adornada com colunas e com entalhes no teto. Não havia bancos, nem lugares para sentar – apenas um espaço amplo e aberto. Na outra extremidade, havia um altar simples, em vez de uma cruz por cima, lá estava uma grande estrela de David. Atrás, tinha um pequeno armário de ouro, com imagens de dois grandes pergaminhos esculpidos nele.
Apenas algumas pequenas janelas com forma de arco cobriam as paredes e, apesar de entrar luz solar por alguns lugares, lá estava meio escuro. O local estava tão silencioso, tão imóvel. Caitlin podia ouvir apenas as ondas se quebrando ao longe atrás dela.
Caitlin e Caleb trocaram olhares e, então, juntos caminharam lentamente pelo corredor, indo em direção ao altar. Enquanto caminhavam, seus passos reverberavam pelo mármore, Caitlin não conseguia afastar a sensação de que estavam sendo observados.
Alcançaram o fim do corredor e pararam diante do armário dourado. Caitlin examinou os diagramas gravadas no ouro: eles eram tão detalhados, tão complexos, que ela lembrou daquela igreja em Florença, da Duomo e de seus portas douradas. Era como se alguém tivesse passado a vida esculpindo aquilo. Além das imagens de pergaminhos, letras hebraicas foram incorporadas ao redor. Caitlin perguntou o que estava lá dentro.
"A Torá", veio uma voz.
Caitlin se virou, chocada ao ouvir outra voz. Ela não entendia como alguém poderia ter se mantido tão quieto, como havia passado despercebido por ela – e como é que alguém poderia, acima de tudo, ler sua mente. Só uma pessoa muito especial poderia alcançar este feito. Ou um vampiro, ou uma pessoa santa, ou ambos.
Caminhando em direção a eles, veio um homem vestindo uma túnica branca com o capuz puxado para trás, ele tinha cabelos longos e desgrenhados marrom claro e uma barba por fazer.