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a seu lado para servir como intérprete. Tentou não parecer ameaçadora, estendendo sua mão direita aberta, com o braço esticado.

      - Não vamos machucar vocês. Ergam suas mãos acima da cabeça. Depois de revistarmos vocês para ver se têm armas, o pessoal vai cuidar de vocês. Vão ficar em segurança.

      Alice traduziu a mensagem, e cinco das mulheres obedeceram e ergueram os braços. Todavia uma não se moveu. Parecia drogada, apática, num transe. Foi quando Tess percebeu que ela segurava na mão um pequeno aparelho com um botão sob o polegar.

      - Ai, meu Deus, é uma mulher-bomba suicida!

      Todos se afastaram da mulher. Tess e Alice ficaram paradas, percebendo o olhar apavorado da mulher, evitando qualquer movimento brusco que pudesse assustá-la. Carmen e Claudine sacaram suas pistolas e apontaram para a cabeça da mulher.

      - Fiquem longe! - Tess advertiu as colegas. - Ponham suas armas de volta no coldre.

      O General Okafor chegou ao local e ordenou que suas tropas apontassem os rifles para a jovem mulher. Tess percebeu o que acontecia, e fez um gesto para o general conter seus homens, que preparavam suas armas para atirar na mulher-bomba. Deu um passo cauteloso na direção da mulher, e percebeu que era apenas uma moça bem jovem, tremendo incontrolavelmente.

      - Major Turner, esta batalha não é sua! – o general implorou. - Jogue-se no chão e meus homens irão executá-la.

      - Não posso, general. Se a moça apertar o botão, Alice e eu não teremos chance de escapar.

      Tess não estava exagerando. Já tivera experiência suficiente em combate para saber que uma explosão dessas mataria qualquer um que estivesse dentro do seu alcance. Ficar deitada no chão não iria adiantar.

      Carmen começou a entrar em pânico. Vendo sua melhor amiga presa numa situação de vida ou morte, teve vontade de ir até lá para ficar a seu lado. Tess não conseguia acreditar.

      - Carmen, que doideira está fazendo? Volte!

      - É tarde demais para isso. Não vou deixar você e Alice nesta situação. Continue falando com a moça.

      Tess sabia que Carmen era obstinada, e tão vulnerável quanto ela mesma. Deu mais um passo na direção da moça.

      - Venha cá, moça. Solte essa coisa que tem na mão. Você é jovem demais para morrer. Aqueles homens não vão mais poder lhe fazer mal. Vamos levar você de volta para casa, para junto de sua família.

      Alice traduziu.

      A moça começou a tremer. Os soldados nigerianos ainda estavam com as armas apontadas para ela.

      - General, mande seus homens baixarem as armas. Estão deixando a moça nervosa. Eu estou cuidando disso.

      O general fez sinal para seus soldados baixarem as armas.

      - Viu só? Não tem motivo para ter medo.

      Com cuidado, Tess deu mais um passo à frente. Estava quase a ponto de tocar a moça.

      Carmen sentiu náusea, e lutou para controlar seu estômago, impensadamente tendo posto em risco a si mesma e o bebê que carregava dentro de si. Colocou as mãos sobre a barriga e tentou conter as lágrimas. Tess deu-lhe um olhar rápido e percebeu o que acontecia.

      Então abriu um largo sorriso e deu o último passo que faltava para chegar à garota, que parecia estar saindo de um transe. Tess não tinha certeza de se isso seria um bom sinal, e foi rápida em tirar o detonador da mão dela. A moça desmaiou em seus braços.

      As tropas vieram correndo para arrancá-la do abraço de Tess.

      - Deixem-na em paz! – gritou ela, mas não adiantou.

      Os soldados agarraram a moça e a passaram para os especialistas em demolição, que removeram o cinturão de explosivos amarrado em seu corpo e a levaram embora.

      Tess deu meia-volta e viu Carmen vomitando no chão. Ela e Claudine a colocaram num jipe.

      - Vá com ela, Claudine. Nós nos veremos logo em seguida.

      Então foi atrás do grupo de soldados que levava a moça suicida, e viu Alice dando conselhos a ela, confortando aquele farrapo humano.

      - Ela me contou a história toda, Tess. O Boko Haram a sequestrou uns meses atrás, e ela passou uns tempos no inferno. Então eles a drogaram e amarraram um cinturão suicida nela. Contou que esta é a nova tática do Boko Haram. Pretendem soltar mais mulheres assim, porque acham que é mais difícil elas serem notadas. Era uma monstruosidade, até mesmo para os padrões deles.

      O General Okafor se aproximou.

      - É verdade Andamos recebendo vários relatórios de mulheres-bomba em diversos vilarejos. Essas meninas são vitimadas duas vezes. São capturadas, sofrem toda sorte de abuso, e então são forçadas a se matar, levando mais pessoas inocentes consigo.

      Antes de retornar à base, Alice levou Tess a um campo em Yola, no nordeste da Nigéria, onde muitas das meninas sequestradas e resgatadas ficavam abrigadas. Infelizmente, nem tudo terminava bem, visto que muitas delas ainda tinham de enfrentar o estigma da “noiva libertada”.

      Conversaram com uma jovem, chamada Zara, e seu tio. Ela tinha 17 anos quando o Boko Haram a sequestrou, junto com muitas outras. Como milhares de outras moças, livres ou ainda em cativeiro, ficara profundamente traumatizada. Alice pediu que ela contasse a sua experiência horrível um ano depois de ter sido libertada, e o sofrimento que ela continuava tendo de enfrentar.

      - O Boko Haram nos deixava escolher: casar-se com um de seus combatentes ou ser escrava. Eu escolhi me casar. – contou Zara.

      No final, a diferença era pequena, descontando a criança que ela daria à luz em breve. A vida no cativeiro era terrível e perigosa, porque os aviões da força aérea vinham regularmente bombardear a grande floresta de Sambisa, onde os militantes armavam seus acampamentos. Depois de alguns meses, foi salva por soldados nigerianos e devolvida à sua família.

      - As mulheres lá em casa logo perceberam que ela estava grávida de três meses. – disse seu tio Mohamed, que continuou a história. - Somos uma família mista, alguns cristãos e outros muçulmanos. Antes de ser raptada, Zara era cristã, mas o Boko Haram a casou com um deles e a tornou muçulmana. A família ficou dividida entre o que fazer, e pensaram seriamente num aborto. No final, decidiram manter a gravidez, e Zara deu à luz um menino. Foi então que começaram os problemas, porque Zara foi banida da comunidade.

      - As pessoas na minha vila me chamam de esposa do Boko Haram. Não querem que eu chegue perto. Não gostam de mim. – disse Zara enquanto uma lágrima rolava pelo seu rosto.

      Ela precisava ficar dentro da pequena área murada em torno da sua casa, com medo de sair e ter de enfrentar os insultos cruéis das crianças do bairro, as mensagens de ódio que seus pais haviam lhes ensinavado.

      - O pessoal da vila não gosta do meu filho. Quando ele ficou doente, ninguém quis me ajudar a cuidar dele. – ela contou.

      - No último fim de semana fez muito calor. Zara foi dormir com o filho na área murada, uma cobra entrou lá e matou o menino. Ele tinha apenas nove meses de idade.

      - Alguns dos familiares ficaram contentes por ele ter morrido, dizendo que foi a vontade de Deus. – prosseguiu Zara. - Ficaram contentes que o sangue do Boko Haram foi retirado da família, que Deus atendera suas preces.

      O tio prosseguiu.

      - Às vezes ela pensa em ir à escola para se tornar médica e ajudar as pessoas. Mas quando a insultam, ela fica brava e