Que o sangue todo he vermelho.
Se elle mais alto o dissera,
Este pelote puzera:
Que o seu eco lhe responda;
Que su padre era de Ronda,
Y su madre de Antequera,
E quer cobrir o ceo co'huma joeira.
Fraldas largas, grave aspeito,
Para Senador Romano.
Oh que grandissimo engano!
Que Momo lhe abrisse o peito!
Consciencia, que sobeja,
Siso, com que o mundo reja,
Mansidão outro que si;
Mas que lobo está em ti,
Metido em pelle de oveja!
E sabem-no poucos.
Guardae-vos de huns meus Senhores,
Que ainda comprão e vendem;
Huns, qu'he certo, que descendem
Da geração de pastores:
Mostrão-se-vos bons amigos;
Mas se vos vem em perigos,
Escarrão-vos nas paredes;
Que de fóra dormiredes,
Irmão, que he tempo de figos;
Porque de rabo de porco nunca bom virote.
Que direis d'huns, que as entranhas
Lh'estão ardendo em cobiça,
E se tẽe mando, a justiça
Fazem de teas de aranhas?
Com suas hypocrisias,
Que são de vossas espias:
Para os pequenos huns Neros,
Para os grandes tudo feros.
Pois tu, parvo, não sabías,
Que lá vão leis, onde querem cruzados?
Mas tornando a huns enfadonhos,
Cujas cousas são notorias;
Huns, que contão mil histórias
Mais desmanchadas que sonhos;
Huns mais parvos que zamboas,
Qu'estudão palavras boas,
A que ignorancia os atiça:
Estes paguem por justiça,
Que tẽe morto mil pessoas,
Por vida de quanto quero.
Adonde tienen las mentes
Huns secretos trovadores,
Que fazem cartas d'amores,
De que ficão mui contentes?
Não querem sahir á praça;
Trazem trova por negaça;
E se lha gabais, qu'he boa,
Diz qu'he de certa pessoa.
Ora que quereis que faça,
Senão ir-me por esse mundo?
Ó tu, como me atarracas,
Escudeiro de Solia,
Com bocaes de fidalguia,
Trazido quasi com vacas;
Importuno a importunar,
Morto por desenterrar
Parentes, que cheirão ja!
Voto a tal, que me fara
Hum destes nunca fallar
Mais com viva alma.
Huns, que fallão muito, vi,
De que quizera fugir;
Huns que, emfim, sem se sentir,
Andão fallando entre si;
Porfiosos sem razão;
E desque tomão a mão,
Fallão sem necessidade;
E se algum'hora he verdade,
Deve ser na confissão;
Porque quem não mente… Ja m'entendeis.
Oh vós, quem quer que me lerdes,
Qu'haveis de ser avisado,
Que dizeis ao namorado
Que caça vento com redes?
Jura por vida da Dama;
Falla comsigo na cama;
Passêa de noite e escarra;
Por falsete na guitarra
Põe sempre: Viva que ama,
Porque calça a seu proposito.
Mas deixemos, se quizerdes,
Por hum pouco as travessuras,
Porqu'entre quatro maduras
Leveis tambem cinco verdes.
Deitemos-nos mais ao mar;
E se algum se arrecear,
Passe tres ou quatro trovas.
E vós tomais côres novas?
Mas não he para espantar;
Que quem porcos ha menos,
Em cada mouta lhe roncão.
Ó vós, que sois Secretarios
Das consciencias Reais,
E que entre os homens estais
Por Senhores ordinarios;
Porque não pondes hum freio
Ao roubar, que vai sem meio,
Debaixo de bom governo?
Pois hum pedaço de inferno
Por pouco dinheiro alheio
Se vende a Mouro e a Judeo.
Porque a mente, affeiçoada
Sempre á Real dignidade,
Vos faz julgar por bondade
A malicia desculpada.
Move a presença Real
Huma affeição natural,
Que logo inclina ao Juiz
A seu favor: e não diz
Hum rifão muito geral,
Que o Abbade donde canta, dahi janta?
E vós bailais a esse som:
Por isso, gentís pastores,
Vos chama a vós mercadores
Hum que só foi pastor bom.
Se vossa Dama vos dá
Tudo quanto vós quizestes,
Dizei-me: p'ra que lhe déstes
O que vos ella fez ja?
Sendo os restos envidados,
E vós de cachas mil contos
Sabeis com quão poucos pontos,
Que lhos achastes quebrados;
Se o que tẽe, isso vos dá,
Vós mui bem lho merecestes,
Porque se a cacha lhe déstes
Tinha-vo-la feita ja.
Menina