Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III. Luis de Camoes. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Luis de Camoes
Издательство: Public Domain
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Жанр произведения: Зарубежные стихи
Год издания: 0
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de ser seu,

      Se vós quizereis ser sua.

Voltas

      Menina mais que na idade,

      Se para me querer bem

      Vos não vejo ter vontade,

      He porque outrem vo-la tem;

      Tẽe-vo-la, e faz-vo-la crua.

      Porém eu

      Ja tomára não ser meu,

      Se vós não foreis tão sua.

      Nos olhos, e na feição

      Vos vi, quando vos olhava,

      Tanta graça, que vos dava

      De graça este coração:

      Não o quizestes de crua,

      Por ser meu:

      Se outrem vos dera o seu,

      Póde ser foreis mais sua.

      Menina, tende maneira,

      Que ainda não venha a ser,

      Pois não quereis quem vos quer,

      Que queirais quem vos não queira.

      Olhae não me sejais crua,

      Que pois eu

      Quero ser vosso, e não meu,

      Sêde vós minha, e não sua.

– oOo —A HUMA DAMA DOENTEMote

      Da doença, em que ora ardeis,

      Eu fôra vossa mézinha

      Só com vós serdes a minha.

Voltas

      He muito para notar

      Cura tão bem acertada,

      Que podereis ser curada

      Somente com me curar.

      Se quereis, Dama, trocar,

      Ambos temos a mézinha,

      Eu a vossa, e vós a minha.

      Olhae, que não quer Amor,

      (Porque fiquemos iguais)

      Pois meu ardor não curais,

      Que se cure vosso ardor.

      Eu cá sinto vossa dor;

      E se vós sentis a minha,

      Dae e tomae a mézinha.

– oOo —OUTRO

      Deo, Senhora, por sentença

      Amor, que fosseis doente,

      Para fazerdes á gente

      Doce e formosa a doença.

Voltas

      Não sabendo Amor curar,

      Foi a doença fazer

      Formosa para se ver,

      Doce para se passar.

      Então vendo a differença

      Que ha de vós a toda a gente,

      Mandou, que fôsseis doente,

      Para glória da doença.

      E digo-vos de verdade,

      Que a saude anda invejosa,

      Por ver estar tão formosa

      Em vós essa enfermidade.

      Não façais logo detença,

      Senhora, em estar doente,

      Porque adoecerá a gente,

      Com desejos da doença.

      Qu'eu por ter, formosa Dama,

      A doença, qu'em vós vejo,

      Vos confesso, que desejo

      De cahir comvosco em cama.

      Se consentis, que me vença

      Deste mal, não houve gente

      Da saude tão contente,

      Como eu serei da doença.

– oOo —AO MESMO

      Olhae que dura sentença

      Foi amor dar contra mi!

      Que porqu'em vós me perdi,

      Em vós me busque a doença.

      Claro está,

      Que em vós só me achará;

      Qu'em mi, se me vem buscar,

      Não poderá mais achar,

      Que a fórma do que foi ja.

      Que s'em vós Amor se pôs,

      Senhora, he forçado assi,

      Que o mal, que me busca a mi,

      Que vos faça mal a vós.

      Sem mentir,

      Amor me quiz destruir

      Por modo nunca cuidado,

      Pois ha de ser ja forçado

      Pezar-vos de vos servir.

      Mas sois tão desconhecida,

      E são meus males de sorte,

      Que vos ameaça a morte,

      Porque me negais a vida.

      Se por boa

      Tal justiça se pregoa;

      Quando desta sorte for,

      Havei vós perdão de Amor,

      Que a parte ja vos perdoa.

      Mas o que mais temo, emfim,

      He que nesta differença,

      Que se não torne a doença,

      Se me não tornais a mim.

      De verdade,

      Que ja vossa humanidade

      De que se queixe não tem;

      Pois para as almas tambem

      Fez Amor enfermidade.

– oOo —A HUMA DAMA VESTIDA DE DÓMote

      De atormentado e perdido,

      Ja vos não peço, senão

      Que tenhais no coração

      O que tendes no vestido.

Volta

      Se de dó vestida andais

      Por quem ja vida não tem

      Porque não o haveis de quem

      Vós tantas vezes matais?

      Que brado sem ser ouvido,

      E nunca vejo senão

      Cruezas no coração,

      E grande dó no vestido.

– oOo —A DONA GUIOMAR DE BLASFÉ, QUEIMANDO-SE COM HUMA VÉLA NO ROSTOMote

      Amor, que todos offende,

      Teve, Senhora, por gôsto,

      Que sentisse o vosso rosto

      O que nas almas accende.

Volta

      Aquelle rosto que traz

      O mundo todo abrazado,

      Se foi da flamma tocado,

      Foi porque sinta o que faz.

      Bem sei que Amor se vos rende;

      Porém o seu presupposto

      Foi sentir o vosso rosto

      O que nas almas accende.

– oOo —A