— Tem uma vida feliz, moça. Uma família cheia de amor e carinho. Um lugar especial em seu coração para… Kehr.
Davina arfou.
Como ele sabia o nome do irmão? Ela torceu os lábios.
— Rosselyn contou de meu irmão.
Ele abriu os olhos e sorriu.
— Bem, eu também vi o rapaz na vida dela, mas o que eu disse do seu irmão, aprendi com você. Não acredita em vidência?
Davina pigarreou.
— Não disse nada para me convencer de que é vidente, senhor.
Uma risada retumbou desde o centro do peito dele, e o coração dela bateu forte contra as costelas. As pálpebras fecharam em concentração.
— Mel. Tem uma paixão especial pelo mel. E seu irmão compartilha essa paixão com você. — ele abriu os olhos e balançou a cabeça. — Tsc, tsc, tsc… Ora, moça. Você e Kehr precisam ser mais cautelosos em seus ataques noturnos. Vocês dois se entregarão se comerem tanto de uma vez. Sugiro que reduzam os assaltos para evitar problemas.
Ele piscou.
O rosto de Davina ardeu de vergonha, mas logo deu lugar à admiração. Como ele poderia saber que ela e Kehr escapavam pelos corredores do castelo à noite para assaltar o suprimento de mel?
Broderick se inclinou para frente e sussurrou:
— Não tenha medo, moça. Seu segredo está seguro comigo.
Davina baixou a cabeça, escondendo o sorriso, e depois ficou hipnotizada enquanto o gigante voltava a mão dela para a luz da lamparina e estudava as linhas. Ela deslizou para frente quando uma ruga se formou na testa dele.
— O que vê, senhor?
Seus rostos estavam muito próximos enquanto a voz profunda a advertia.
— Não posso mentir para você, moça. Seria um desastre.
— Um desastre?
— Sim. — os olhos verde-esmeralda dele perfuraram os dela. — Tempos nada agradáveis estão para chegar. Mas não deve perder a fé. Possui muita força. Use essa força e segure com firmeza o que lhe é mais caro, pois é isso que a ajudará a atravessar os tempos difíceis que estão por vir.
— O que está para acontecer, senhor? — ela o pressionou.
— É desconhecido para mim. Não sei os detalhes. As linhas na palma da mão não revelam detalhes mais específicos, apenas dizem que há conflitos em seu futuro. Basta lembrar-se do que falei. Mantenha-se firme em sua força.
Ele levou os lábios à mão dela e beijou os nós dos dedos antes de soltar. Aturdida e boquiaberta, ela olhou para ele, sentia-se enraizada na banqueta. O canto da boca dele se curvou, revelando a covinha, e ela devolveu o sorriso, conseguia ouvir o bater do coração no próprio peito.
Broderick pigarreou e acenou com a cabeça em direção à cesta. Ela sorriu mais ainda, ainda o encarando, e ele acenou com a cabeça em direção à cesta mais uma vez. Retribuiu o aceno, olhou para a cesta e quase se engasgou ao perceber. Ele queria que ela o pagasse! Muito envergonhada por seu comportamento ridículo e deslumbrado, ela se atrapalhou para puxar alguns lingotes da bolsa em sua cintura e os colocou na cesta, correndo para fora da tenda sem olhar para trás.
Davina parou perto da entrada, recuperando o fôlego e desejando que seu rosto parasse de queimar. Engolindo em seco, ela se virou para a cigana.
— Obrigada por sentar-se com Rosselyn, Amice.
Colocando mais moedas na mão da mulher, Davina deu um sorriso inquieto enquanto Rosselyn entregava a xícara de chá vazia a Amice. Agarrando a mão de Rosselyn, Davina arrastou a criada para longe, tentando deixar o constrangimento de lado.
— Senhora, o que a incomoda? — Rosselyn parou Davina, agarrando-a pelos ombros e confrontando-a.
As palavras saíram da boca de Davina depressa enquanto ela agitava as mãos como um pássaro ferido.
— Ora, eu agi como uma paspalha! Fiquei sentada olhando para ele como uma corça. Ele era tão bonito, Rosselyn! Meu coração não para de bater no meu peito! O que me atormenta? — Davina abanou o rosto em uma tentativa fracassada de esfriar a queimação em seu rosto.
Rosselyn riu e abraçou Davina.
— Minha querida Davina, acredito que o cigano roubou seu coração!
Davina tapou a boca com as mãos.
— Pelos santos! Deixei o presente do meu irmão na mesa!
Aprumando-se na medida do possível, Rosselyn voltou para a tenda do vidente.
— Venha, então. Vamos voltar e buscá-lo.
Davina puxou a mão de Rosselyn com toda a força, puxando a amiga de volta.
— Não! Não posso voltar a encará-lo. Eu vou, com certeza, morrer de… de…
Rosselyn esfregou os ombros de Davina como se para confortá-la.
— Não se preocupe! Busco para você. Venha comigo e fique atrás da carroça para que ele não a veja.
Elas se arrastaram pelo canto e olharam o entorno da carroça do quiromante. Amice parecia estudar as xícaras de chá, inclinando-as para frente e para trás. Broderick saiu da tenda, e Davina agarrou Rosselyn, puxando-a de volta para fora de vista.
— O que está fazendo, Amice? — o som da voz dele, grossa, fez os joelhos de Davina cederem, e ela se atreveu a espiar ao redor da carroça com Rosselyn.
— Uma pequena leitura das folhas de chá. — disse ela em francês, mantendo os olhos fixos nas folhas.
Rosselyn se virou para Davina e deu de ombros, pois Rosselyn não falava francês. Davina indicou que contaria a ela mais tarde e trocou de lugar com Rosselyn para ouvir melhor a conversa.
— Das duas jovens? — ele perguntou.
— Sim. — Amice sorriu. — O coração dela é seu e para sempre, meu filho.
O gigante ergueu a sobrancelha com curiosidade.
— De quem?
— Da doce Davina. — disse Amice, agitando uma das xícaras no ar enquanto olhava para a outra.
Davina quase desmaiou com as batidas rápidas de seu coração.
— Bobagem, a menina não vai se lembrar de mim quando estiver em idade de arrumar marido. — ele riu. — No entanto, a clara admiração dela, por mim, foi muito lisonjeira. Ela é bonita agora, mas será ela quem vai roubar corações quando chegar à idade adulta.
Ele me acha bonita! Ele me acha bonita!
Davina gastou toda sua energia para não saltitar como uma pulga. Ela mordeu o dedo indicador para silenciar uma risadinha inebriante.
— Ela é que vai roubar seu coração, meu filho. — Amice entregou a xícara, e Davina abriu a boca com admiração.
Ele olhou para dentro da xícara, franziu a testa e a devolveu a Amice. Dando de ombros, ele sorriu e entregou o embrulho com o presente de Kehr.
— Bem, já que ela vai voltar e ser meu verdadeiro amor, dê isso a ela. — Amice por fim parou de olhar o fundo da xícara e se atentou ao pacote. — Ela saiu com tanta pressa que deixou esse fardel na tenda. — Balançando a cabeça, ele se virou e voltou para a tenda. Amice continuou sorrindo, lendo as folhas de chá.
Davina agarrou-se à lateral da carroça, a boca ainda aberta.
Vendo