— É impossível. — ele grunhiu por entre os dentes. — A voz que ouço deve vir do túmulo.
A mulher diante dele puxou o capuz para trás e revelou os cabelos longos e dourados que ele conhecia tão bem. Evangeline, sua esposa prostituta, balançou a cabeça e olhou para ele com olhos arregalados. Os lábios de Broderick se curvaram em um rosnado, e ele engoliu a bile que subiu em sua garganta.
Evangeline choramingou e caiu de joelhos.
— Querido Pai do céu, como pôde me escolher para enfrentar meu marido? Ele com certeza irá escolher o caminho das trevas se for eu aquela a mostrar a luz. Por que não pôde enviar outra pessoa?
A raiva invadiu seus sentidos.
Broderick se levantou, deu um passo na direção dela. A dor crescente em seu coração ameaçou afogá-lo como uma torrente de ondas, e ele lutou contra as lágrimas que ardiam nos olhos. Veria a luz expirar dela como testemunhou acontecer com Maxwell e Donnell.
Evangeline arfou e ergueu as palmas das mãos, continuou seu devaneio com uma rápida sucessão de palavras.
Broderick bateu em uma parede invisível e caiu no chão. Contorcendo-se em agonia, a raiva desapareceu. Através de uma nuvem turva de consciência, ele cambaleou enquanto os dois guardas Vamsirianos o ajudaram a se sentar na cadeira, antes de voltar para o canto. Evangeline baixou as mãos e permaneceu ajoelhada no chão de pedra do outro lado do cômodo. Assim que voltou a si, ele limpou a garganta.
— O que é essa magia, bruxa?
Ela franziu a testa.
— Não sou uma bruxa, Broderick. Sou membro do Tzava Ha'or: o Exército da Luz. Deus nos deu certas medidas de proteção contra… — ela franziu os lábios e baixou o olhar, uma respiração trêmula sacudiu seus ombros, e ela ergueu o queixo, encarando-o com os olhos cheios de lágrimas. — Contra o sangue dos amaldiçoados.
Broderick agarrou os braços da cadeira para se levantar, mas lembrou-se do último encontro dele com a proteção de Deus e reconsiderou.
— Como pode estar viva e entre aqueles que deveriam ser filhos especiais de Deus? — ódio temperava cada sílaba que ele conseguiu dizer entredentes, ela implorou com os olhos, o que só o fez tremer ainda mais de raiva e tristeza: — Por que você ainda vive?
— Eu corri… — ela sussurrou em meio às lágrimas, revivendo o passado. —, corri para longe da batalha, floresta adentro, por horas. Quando caí de exaustão, fui atacada por ladrões que… — ela fechou os olhos e engoliu em seco. — forçaram-se a mim e me deixaram para morrer.
— E mesmo assim se ajoelha diante de mim. — Broderick lutou contra a simpatia que sentia. — Continue.
— Não sei quanto tempo fiquei ali deitada, mas acordei e fui, aos tropeços, para a estrada, onde um grupo de monges quase me atropelou com uma carroça. Eles me levaram para um convento onde as irmãs cuidaram de mim; onde me tornei um membro do Exército da Luz. — Evangeline olhou para Broderick com uma centelha de esperança em seus olhos vidrados. — Fui ensinada que Nosso Senhor é um Deus que perdoa e ama, Broderick. Por favor, não dê as costas a Ele escolhendo este caminho das trevas. Ele pode curar você e perdoar tudo. Perdoou até a mim!
— Eu não! — ódio sacudia seus membros e deu-lhe força para resistir à agonia que rasgava seu corpo, tremor quebrou suas palavras. — Acredita que todas as vidas que tirou com sua traição podem ser ignoradas com tanta facilidade? Você é a razão para eu estar aqui buscando vingança contra meu inimigo, alguém cuja cama você compartilhou. Permanece nos braços protetores de Deus enquanto meu corpo morre como um escravo de sangue.
— Deus pode curar você, Broderick! Ele libertou outros que se tornaram escravos de sangue. Junte-se ao Exército da Luz e Ele pode curá-lo.
Os dois guardas Vamsirianos flanquearam Broderick quando ele fez menção de ir na direção dela. Ele lutou com os braços deles, contra a angústia de sua alma, contra a injustiça que atormentava a vida dele sem cessar.
— Você está louca ao pensar que eu aceitaria de você, ou de um Deus que abriga traidores. Deveria estar morta, mas está sentada diante de mim, oferecendo-me a salvação. Supôs que eu iria perdoá-la só por ser a portadora de tal oferta?
Evangeline fez uma reverência e balançou a cabeça.
— Não. — ela sussurrou. — Também estou surpresa por estar viva. Como tal, ainda sou sua esposa, e você detém o direito de fazer comigo o que quiser.
Evangeline ergueu as mãos de novo, murmurando outra série de frases estranhas.
Broderick respirou melhor com a diferença perceptível na atmosfera, a pressão diminuindo em seu corpo. Os Vamsirianos ao seu lado também olharam ao redor, admiração em seus olhos. A parede invisível que ela havia erguido deve ter caído. Broderick tentou avançar, mas os Vamsirianos o contiveram. Incapaz de lutar contra eles, ele se rendeu.
— Escolho o caminho da imortalidade, tornando-me assim, morto para você. Já que Deus perdoou suas transgressões, tenho certeza de que a igreja anulará nosso casamento patético. Deus é seu marido agora e que ambos sofram as consequências disso!
Evangeline caiu no chão aos prantos enquanto escoltavam Broderick para fora dali.
Posicionando-o diante do Conselho mais uma vez, os dois Vamsirianos soltaram Broderick, e ele reuniu toda força que pôde para permanecer de pé.
— Escolhi me tornar um Vamsiriano. — ele anunciou com uma voz rouca.
Broderick olhou para Angus que, para sua surpresa, exibia um sorriso de satisfação nos lábios.
Os Anciões assentiram e se voltaram para Cordelia, ela se adiantou e olhou para Angus. O medo dominava seus olhos, e ela cruzou os braços sobre os seios fartos, voltando-se para o Conselho.
— Eu revogo minha reivindicação sobre Broderick MacDougal.
Os olhos do Ancião Rasheed se arregalaram, assim como os de seus colegas.
— Está afirmando que não deseja transformar Broderick MacDougal, razão pela qual fomos convocados?
Cordelia deu um passo para trás e engoliu em seco.
— Sim. — respondeu com uma voz trêmula.
O Ancião Rasheed se levantou, e Cordelia teve sensatez suficiente para se encolher.
— Testa minha paciência, mulher! Ainda posso decidir esfolá-la viva!
— Ancião Rasheed, se me permite.
Angus deu um passo à frente, descruzando os braços.
Rasheed suspirou resignado.
— Sim, Angus Campbell. — ele disse com um aceno de desprezo. — Como requisitado, a princípio, ao vir perante o conselho, esta pobre criatura é sua para fazer como desejar. Acabe com sua miséria.
Sentando-se, Rasheed colocou a cabeça entre as mãos.
— Não, Ancião Rasheed. — Angus olhou para Broderick. — Estou propondo que eu mesmo faça a transformação.
Os olhos arregalados de Broderick não foram os únicos a fazer com que todos prestassem atenção em Angus Campbell.
— Por que faria uma coisa dessas? Enfim tem a oportunidade de se livrar de minha existência. Aproveite e faça o que o Ancião Rasheed aconselha… acabe com meu sofrimento.
Broderick estremeceu com uma onda de dor.
— Embora eu goste de vê-lo sofrer — Angus zombou. —, não há nenhuma satisfação em matá-lo em um estado tão fraco. Meu espírito nunca descansará. — Angus se aproximou de Broderick, sorrindo com malícia para seu corpo curvado e profanado. — Deve estar disposto a fazer a transformação, Rick, ou