Stefan, a quem raramente impressionavam planos alheios, pegou na pasta com indiferença.
– Não tens uma versão digital?
– Não quis guardá-lo no computador, caso o meu pai o encontrasse. O que importa são os números, não a apresentação.
Portanto, o seu pai não sabia nada do projeto. Isso explicava os nervos que tinha detetado sob o tom animado e otimista.
Certamente, tratava-se de um projeto de fim de curso, ao qual teria dedicado as horas mortas próprias de uma herdeira protegida, e ele era o afortunado recetor do seu trabalho.
Tentando ignorar a sensação de que algo não estava bem, Stefan deu uma olhadela à primeira página e surpreendeu-o considerá-la muito profissional.
– Velas? – perguntou, incrédulo. – É essa a tua ideia?
– Velas perfumadas – disse ela, com entusiasmo. – No colégio de freiras onde andei, aprendi a fazer velas e experimentei com diferentes essências. Tenho três.
«Velas, o produto mais aborrecido do planeta», pensou Stefan.
Como poderia livrar-se dela com delicadeza? Ele costumava atirar pessoas de uma grande altura e em seguida espezinhava os seus restos.
Pigarreou enquanto se esforçava para parecer interessado.
– Podes explicar-me o que as torna especiais? – perguntou, rezando para que não se excedesse nos detalhes. Falar de velas era tão interessante como falar do tempo.
– Chamei Descontração a uma, Energia a outra e a terceira é... – Selene ruborizou-se – a Sedução.
A hesitação dela fez Stefan levantar o olhar e bastou-lhe uma olhadela para decidir que a sua primeira intuição fora acertada, era uma herdeira entediada a brincar aos negócios.
E uma vez posto em marcha o seu cérebro, recordou com toda a nitidez a noite em que se tinham conhecido.
Selene era uma adolescente triste, desorientada e tímida. Um patinho feio rodeado de cisnes, do qual o seu pai não tirava os olhos de cima. Nenhum outro homem se incomodara em falar com ela e as mulheres tinham-na ignorado, portanto, ficara sozinha, tão incomodada que era quase doloroso observá-la.
Mas já não era aquela menina, senão uma mulher. E sabia-o.
Stavros Antaxos devia estar a passar as noites em branco. E Stefan pôde imaginar como teria reagido se visse a entrega e a confiança com que a sua filha o olhava naquele momento.
Só ele sabia até que ponto não merecia aquela confiança.
A questão era se Selene sabia qual era a relação entre o seu pai e ele.
A sua atitude e, em consequência, a atmosfera mudaram radicalmente. Com lentidão, Stefan fechou a pasta e olhou fixamente para Selene.
– Portanto, as tuas velas chamam-se Descontração, Energia e Sedução...
– Sim.
– E o que sabes tu de sedução? – perguntou Stefan, insinuante.
Capítulo 2
Fantástico... Em vez de perguntar pela situação do mercado ou pelas previsões de crescimento, Stefan queria falar de sedução.
Selene manteve o sorriso de mulher de negócios que andava a praticar há algum tempo.
O que sabia ela de sedução? Nada. Só sabia que sem a ajuda de Stefan jamais conseguiria tirar a sua mãe da ilha. Por isso, tinha de demonstrar que o seu negócio era viável.
– O que sei de sedução? Não muito, mas, como costuma dizer-se, não é preciso ter percorrido o mundo para saber de geografia.
Selene guardou para si que, além disso, tinha muita imaginação.
Perguntara-se com frequência se a sua insegurança e que Stefan tivesse sido amável com ela naquela noite teriam contribuído para que a sua mente de menina o convertesse num deus, mas a verdade era que era espetacularmente bonito, poderoso, forte e com uma masculinidade primária que a aturdia.
No entanto, não era o seu físico, apesar da sua altura e dos seus ombros largos, o que lhe parecia irresistível, senão algo muito mais indefinido. A suspeita de que sob aquele fato perfeito e a atitude cortês se escondia um homem que podia ser perigoso.
Selene tentou recordá-lo como o vira há cinco anos, mas foi-lhe impossível identificar o desconhecido amável com o homem de negócios frio e sofisticado que tinha diante de si.
Por outro lado, dada a velocidade a que estava a ver o seu plano de negócio, era evidente que lhe parecia muito fraco. A sua mãe tinha razão, não conseguiria que Stefan a ajudasse. Pelo que tinha lido sobre ele, era um homem no topo, rodeado de gente que lhe pedia conselho e que raramente ajudava. Porque ajudaria alguém como ela, sem nenhuma experiência?
Depois de beber um pouco de limonada, Selene não conseguiu aguentar mais a incerteza.
– Honestamente, achas que...? – ia perguntar-lhe se o projeto lhe parecia uma porcaria, mas conteve-se. – Considerarias investir neste negócio?
Selene sentia-se como uma impostora. Stefan devia ter-se dado conta imediatamente de que era a primeira vez que tinha uma reunião daquele tipo.
Ele fechou a pasta e deixou-a sobre a secretária. Com o movimento, a camisa colou-se aos seus braços musculosos e o coração de Selene acelerou. Sonhava constantemente com ele, há cinco anos que pensava diariamente nele.
– Selene? – a voz de Stefan tirou-a da sua abstração, sobressaltando-a.
– Diz.
Pela forma como Stefan a olhava, soube que conseguia ler a mente e tinha a certeza de que a sua era mais fácil de interpretar do que a média. A boca secou-lhe imediatamente. Se Stefan adivinhasse no que estava a pensar, seria melhor que o chão a engolisse.
As pesquisas na internet tinham-lhe acelerado o coração ao saber da sua vida social e da sua relação com as mulheres, as festas, as noites de estreia, a ópera, o balé. A lista era tão interminável como a dos nomes das suas acompanhantes.
– Tens uma amostra das velas? – perguntou ele.
– Sim – Selene mexeu na mala com mãos trémulas. A atração que Stefan exercia sobre ela era tão poderosa que a fazia perder o controlo. A culpa era do seu pai por a ter mantido encerrada. A consequência era que se convertera numa ninfomaníaca.
Stefan Ziakas teria sorte se acabasse aquela reunião com roupa.
Selene olhou-o de soslaio e foi consciente de ter cometido um erro quando viu que ele cravava nela os seus olhos dourados sob as pestanas densas e que a sua boca sensual se curvava num sorriso com o qual qualquer mulher teria perdido a cabeça. E assustou-a descobrir que não se importaria de ser uma delas.
– Estou convencida de que é um negócio com futuro – disse, com o estilo direto e eficiente que tinha praticado tantas vezes diante do espelho. – Também tenho algumas amostras de caixas. Vivemos tempos acelerados e stressantes. As velas perfumadas são um luxo acessível e o mercado já aumentou quarenta por cento.
Enquanto falava, pensou, tal como cinco anos antes, que Stefan tinha uns lábios perfeitos. Já então pensara por uma fração de segundo que ia beijá-la, mas enganara-se.
Stefan tirou-lhe a vela das mãos e observou-a.
– Queres fazer-me acreditar que isto é o negócio do futuro?
– Porque não? Não gostas de velas?
– Queres que te responda sinceramente? – perguntou ele, com um sorriso insinuante.
– Claro – disse ela, recordando que devia agir com profissionalismo.
–