– Não falemos dele. Recebi um e-mail esta semana do Hot Spa de Atenas – guardava a notícia há dias. – Recordas que te disse que era uma cadeia muito exclusiva e que têm hotéis spa em Giz, Corfu e Santorini? Mandei-lhes amostras das minhas velas e dos meus sabonetes, e entusiasmaram-se. Usaram-nos nos seus tratamentos e vários clientes insistiram em comprá-los por um dinheirão. Agora, querem fazer-me uma encomenda. É a minha grande oportunidade
Estava tão empolgada com a notícia, que a reação da sua mãe a dececionou.
– O teu pai nunca deixará que o faças.
– Não tenho de lhe pedir permissão para viver a minha vida como quero.
– E como vais fazê-lo? Necessitas de dinheiro para montar o negócio e ele não to dará.
– Eu sei. Por isso, tenho um plano alternativo – apesar de Selene só costumar falar depois de se assegurar de que ninguém a ouvia, olhou para a porta, que ela mesma tinha fechado, mesmo sabendo que ele nem sequer estava na ilha. – Vou-me embora esta noite. Não poderei telefonar-te durante vários dias e não quero que te preocupes comigo. Toda a gente pensará que fui passar uma das minhas semanas de reclusão e meditação no convento.
– Como vais fazê-lo? Os seguranças impedir-te-ão. Avisá-lo-ão.
– Uma das vantagens de ser a filha isolada e tímida de um homem temido é que ninguém esperará ver-me, mas, mesmo assim, tenho um disfarce.
A sua mãe olhou para ela, aterrorizada.
– E se não chegares ao continente, o que farás?
Selene tinha tudo planeado, mas não pensava partilhar o seu plano nem sequer com a sua mãe.
– Calma, pensei em tudo. Confia em mim e virei buscar-te. Por agora, deves ficar para manter as aparências e não levantar suspeitas. Assim que tiver o dinheiro, virei buscar-te.
A sua mãe agarrou-lhe o braço com força.
– Se conseguires fugir, não voltes. É demasiado tarde para mim.
– Não fales assim – Selene abraçou-a. – Voltarei e partiremos juntas.
– Oxalá pudesse dar-te o dinheiro de que necessitas...
Selene pensava o mesmo. Se a sua mãe tivesse mantido a independência, não se encontrariam naquela situação, mas a primeira e mais sagaz manobra do seu pai fora assegurar-se de que a esposa não tivesse rendimentos próprios. Ao princípio, a sua mãe vira-o como uma prova de amor. Só mais tarde se apercebera de que não queria tanto cuidar dela como controlá-la.
– Tenho o suficiente para chegar a Atenas. Lá, pedirei um empréstimo para montar o negócio.
– O teu pai tem contactos. Nenhum banco te dará dinheiro, Selene.
– Eu sei. Por isso mesmo, não penso ir a um banco.
A sua mãe abanou a cabeça.
– Quem vai ser capaz de enfrentar o teu pai? Ninguém.
– Enganas-te. Há um homem que não o teme – disse Selene, sentindo que o coração lhe acelerava.
– Quem?
– Stefanos Ziakas – disse Selene, fingindo uma indiferença que não sentia.
A sua mãe empalideceu.
– Ziakas é igual ao teu pai: egoísta e cruel. Não te deixes enganar pelo seu carisma e pela sua beleza. É perigoso.
– Não é verdade. Conheci-o há anos, naquela festa que deu num iate e em que interpretámos o nosso papel de família ideal. Foi muito amável comigo – disse Selene, ruborizando-se.
– Foi para irritar o teu pai. Odeiam-se.
– Quando falou comigo, não sabia quem era.
– Eras a única rapariga de dezassete anos na festa e não duvides de que sabia quem eras – disse a sua mãe, intranquila. – Senão, porque achas que te dedicou tanto tempo quando estava acompanhado da atriz Anouk Blaire?
– Disse-me que era aborrecida, que só estava com ele para potenciar a sua carreira e que só se preocupava com o seu aspeto. Disse que eu era muito mais interessante e conversámos toda a noite.
Selene recordava ter-lhe contado coisas sobre os seus sonhos e os seus projetos de futuro que não tinha partilhado com ninguém e ele levara-a a sério. Ao ponto de que, quando lhe perguntara se a achava capaz de ter um negócio próprio, lhe dissera algo que não tinha esquecido: «Podes fazer o que quiseres se realmente o desejares».
E esse momento tinha chegado.
A sua mãe suspirou.
– A menina e o milionário. E, por essa conversa, achas que te ajudará?
«Volta daqui a cinco anos, Selene Antaxos, e falaremos.»
Selene quisera fazer mais do que falar com ele. Intuíra que se dera conta de que a sua vida era uma grande mentira e tinha sentido uma maior cumplicidade com ele do que com qualquer outra pessoa no mundo. Fora a primeira vez que alguém a ouvira e, desde então, sempre que necessitava de consolo pensava no que lhe dissera.
– De certeza que me ajudará.
– Temo que, mais do que ajudar-te, te faça mal. Não tens experiência com homens como ele. Tu mereces alguém amável e bondoso.
– Não é o que necessito neste momento. Necessito de alguém com coragem para enfrentar o meu pai. Quero montar o meu próprio negócio e Ziakas saberá orientar-me. Ninguém o ajudou e antes de fazer trinta anos já era milionário.
Selene encontrava inspiração na história de Ziakas. Se ele o conseguira, porque não o conseguiria ela?
Tirando energia da angústia, a sua mãe endireitou-se.
– Achas mesmo que podes recorrer a Ziakas e pedir-lhe dinheiro? Mesmo que conseguisses fugir da ilha, não acederá a ver-te.
– Estou convencida de que estás enganada. E sei como sair da ilha – Selene não queria revelar o seu plano, nem deixar que a sua mãe debilitasse a sua autoconfiança, portanto, levantou-se. – Voltarei amanhã. Tenho tempo de sobra antes de o pai voltar... da sua viagem.
Era assim que se referiam às ausências do seu pai, embora ele não se esforçasse minimamente para disfarçar as infidelidades.
Não queria pensar no que faria se a sua mãe, como noutras ocasiões, se recusasse a ir-se embora. Só sabia que queria escapar da prisão que Antaxos representava e os acontecimentos da semana anterior tinham confirmado a sua decisão.
Inclinou-se para beijar a sua mãe.
– Sonha com a tua nova vida. Poderás rir-te novamente, voltarás a pintar e os teus quadros voltarão a vender-se.
– Não pinto há anos. Já não tenho o impulso.
– Porque te tiraram a vontade de viver, mas recuperá-la-ás.
– E se o teu pai voltar antes do esperado e descobrir que te foste embora?
Selene sentiu-se à beira de um abismo e percebeu que necessitava de um ponto de apoio.
– Isso não vai acontecer – disse, com determinação.
Stefan pôs os pés sobre a secretária.
Atenas, a cidade em crise que o mundo observava com inquietação, despertava em torno do edifício dos seus escritórios centrais. Tentavam convencê-lo a levar o seu negócio para outra cidade, Nova Iorque ou Londres, para qualquer sítio desde que deixasse para trás a traumatizada capital da Grécia, mas Stefan ignorava-os.
Não estava disposto a abandonar o lugar que lhe tinha permitido chegar a ser quem era. Ele sabia o que significava