– Sim, eu sei.
– Mas escapou-me que o nosso casamento não passava pela sua melhor fase e essa não é a melhor maneira de começar outra vez – suspirou Dario.
– Podem recomeçar se ainda se amarem como antes. A questão é… ainda se amam, Dario?
– Eu não posso falar por ela.
– Então fala por ti mesmo. Sei que te casaste com Maeve porque te pareceu que era o mais honrado, mas a mim parecia-me que corria tudo bem.
– Até que começou a correr tudo mal.
E aí estava o problema. Será que poderiam esquecer o que se tinha passado alguma vez e voltarem a confiar um no outro?
– Maeve ama-te, Dario. Tenho a certeza disso.
– Oxalá eu também a tivesse. Mas não te estou a ligar para te sobrecarregar com os meus problemas, ligava-te para te perguntar por Sebastiano.
– Estamos todos muito bem. Marietta é uma ajuda enorme. E quanto a Cristina, está encantada com o primo e está sempre a brincar com ele. Além disso, Sebastiano é uma criança maravilhosa; só chora quando tem fome ou quando há que lhe mudar a fralda.
– É a única coisa boa em todo este desafortunado assunto.
– E Sebastiano é demasiado pequeno para entender o que aconteceu.
– Esperemos que nunca saiba – Dario fez uma pausa. – Alguém da família foi vê-lo?
– Se te referes à nossa mãe, sim. Veio esta manhã e depois à tarde outra vez. Insiste em que deveria estar com ela e eu insisto em que deve estar comigo.
– Pensei que tinha voltado para Milão com o papá. A última coisa que Maeve precisa neste momento é de se encontrar com ela.
– Infelizmente, parece decidida a ficar. Mas não te preocupes, eu posso lutar com ela. E Lorenzo também, portanto não deixaremos que se intrometa.
Dario sabia que era verdade.
– Agradeço-vos muito aos dois que me estejam a ajudar tanto. Dá um beijo ao Sebastiano por mim, eh? Ia vê-lo, mas…
– Não – interrompeu a irmã. – É importante que esta noite fiques em casa com Maeve. Seria horrível se despertasse a meio da noite e não soubesse onde está.
Quanto tempo duraria aquilo?, questionou-se Dario depois de desligar. O doutor Peruzzi aconselhara paciência, mas ele nunca tinha sido um homem particularmente paciente. Estava há demasiados dias afastado do seu trabalho porque não conseguia concentrar-se, passava as tardes com um copo de uísque como companhia e demasiadas noites sozinho, numa cama feita para dois.
Irritado, saiu para a varanda para respirar um pouco de ar fresco. A noite tinha caído e uma dúzia de candeeiros ao redor da piscina brilhavam suavemente na escuridão.
Uma vez, não há muito tempo atrás, Maeve desejara-o como ele a desejava. E, à noite, na piscina, faziam amor com uma urgência que alcançava o desespero. Ele enterrava a sua boca na de Maeve por medo de que alguém a ouvisse gritar de prazer… ele continha-se, esperando prolongar o encontro até que não pudesse aguentar mais. E depois deixava-se ir, com uma urgência e um ardor que quase faziam com que o seu coração parasse.
Então, porque é que estava sozinho agora? Porque é que Maeve estava a dormir num quarto que não era o do casal?
Um som quebrou o silêncio da noite, mais próximo do que o murmúrio das ondas, um passo tão hesitante que poderia ter pensado que era a sua imaginação se não viesse acompanhado por uma fragrância que conhecia tão bem: bergamota, junípero e tangerina siciliana com um toque de alecrim. A fragrância de Maeve. Sabia porque ele mesmo a tinha comprado para ela.
Quando voltou a cabeça encontrou-a na soleira da porta, usava uma roupa larga que a fazia parecer ainda mais frágil. Nunca lhe tinha parecido mais etérea, mais desejável.
– Pensei que estavas a dormir.
– Não conseguia dormir.
– Demasiadas emoções?
– Talvez – Maeve deu um passo em frente. – Ou talvez tenha dormido demasiado e já esteja na hora acordar.
Capítulo 3
Dario permanecera imóvel, olhando para ela com uma expressão tão indecifrável que Maeve quase perdera a coragem e voltara para o seu quarto. Para a sua suíte, decorada em tons suaves, a mais luxuosa que alguma vez vira. A casa de banho tinha um banho turco e uma banheira suficientemente grande para duas pessoas. Entre a casa de banho e o quarto havia uma sala e lá fora, no jardim, em frente ao mar, um jacuzzi.
Um oásis de tranquilidade e, no entanto, Maeve não era capaz de a encontrar. Desde que entrara na casa sentia-se embargada por uma sensação desoladora. Sentia-se vazia, sozinha.
Alguma coisa horrível tinha acontecido ali, alguma coisa que ia além de um casamento com problemas. E a sensação de que tinha havido uma tragédia, alguma coisa que nem sequer queria contemplar, perseguia-a. Aquela villa espectacular ocultava um segredo terrível e Maeve estava decidida a descobrir qual era.
E quisesse ou não, o seu marido teria de lho revelar.
– Não me vais oferecer uma bebida? – perguntou-lhe, embora tivesse o pulso tão acelerado que mal conseguia respirar. Nada de novo, certamente. Tinha vivido grande parte da sua vida com um medo que tinha aprendido a disfarçar.
– Não sei se podes beber álcool.
– Porque não? Era alcoólica?
Dario riu, um som agradável, masculino.
– Não, absolutamente.
– Ah, que alívio. Por um momento receei que fosse uma dessas raparigas que começam a dançar sobre a mesa depois de beber uma cerveja.
– Eu não sabia que bebias cerveja. Preferes champanhe e nunca mais de um copo ou dois. Além disso, também nunca te vi a dançar sobre uma mesa.
– Então porque é que não me queres dar uma bebida?
– Não é bom misturar a medicação com o álcool.
– Não estou a tomar nenhuma medicação. Há semanas que não tomo nada.
– Estou a ver – murmurou Dario, passando uma mão pelo queixo. – Nesse caso, fazemos um trato: vamos jantar e abro uma garrafa do teu champanhe favorito.
– Muito bem. Além disso, tenho fome.
– Óptimo! – ele sorriu. – Se me perdoares um momento, direi à cozinheira que seremos dois para jantar.
– Sim, claro.
Maeve saiu para o jardim, com as pernas trémulas, e deixou-se cair sobre uma rede.
Dali podia ver uma enorme piscina infinity estrategicamente colocada de forma a parecer que ia agarrar-se à beira de um precipício. Uma ilusão, é claro, que só os muito ricos podiam permitir-se. Mas a profusão de buganvílias em redor era obra da natureza.
Dario voltou alguns minutos depois com uma garrafa de champanhe e, depois de o servir, tocou com o seu copo no dela.
– Salute.
– Salute. E obrigada.
– Porquê?
– Por tudo o que fizeste por mim. No hospital disseram-me que enviavas flores todos os dias e que pagavas as contas.
– Sou o teu marido, Maeve.
– Sim, bom, sobre isso…
– Relaxa, cara. Não mencionei a nossa relação como um prelúdio para exigir os meus direitos conjugais.
– Ah!