Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma Darcy. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Emma Darcy
Издательство: Bookwire
Серия: Ómnibus Geral
Жанр произведения: Языкознание
Год издания: 0
isbn: 9788413752747
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é tão grave como se possa imaginar.

      Pensando que tinha tirado a pior conclusão possível, Dario decidiu ouvir o neurologista.

      – O que está a sugerir, doutor Peruzzi?

      – Não estou a sugerir nada, estou a dizer que a sua esposa sofre de amnésia. Resumindo, não tem lembranças… do seu passado recente.

      A hesitação do doutor foi breve, mas bastante significativa para despertar, de novo, os medos de Dario.

      – Até que momento? Não se recorda do acidente?

      – Isso é o que torna esta amnésia fora do comum. Em geral, a amnésia retrógrada refere-se só aos eventos que tiveram lugar imediatamente antes do trauma. Neste caso, no entanto, a perda de memória da sua esposa estende-se a um período mais longo. Lamento dizer-lhe que parece não se recordar de si nem da sua vida de casada.

      Amnésia retrógrada, amnésia psicogénica, amnésia histérica… termos que não tinham significado nada para Dario um mês antes, mas com os quais se familiarizara neste último mês.

      – Está a dizer que a amnésia é psicológica em vez de fisiológica?

      – É o que parece – respondeu o doutor Peruzzi. – Mas a boa notícia é que raramente é uma condição permanente. Com o tempo, é praticamente certo que a sua esposa recuperará a memória.

      – Quanto tempo?

      – Isso não podemos prever. Pode recordar-se de tudo assim que voltar a um sítio que lhe seja familiar, mas certamente demorará dias ou talvez semanas, com lembranças ou retalhos de lembranças que voltarão a pouco e pouco. O que deve perceber é que não vai ganhar nada tentando forçá-la a recordar-se seja do que for, seja por que razão for, não consegue recordar-se de nada. Fazê-lo seria em detrimento do seu bem-estar. Mas isto, signor Costanzo, leva-me ao aspecto mais importante desta conversa: nós já fizemos a nossa parte. Agora você deve fazer a sua.

      – Como?

      Como. Esta palavra açoitara-o durante um mês, suplicando respostas que ninguém lhe podia dar. Como pudera ignorar o descontentamento de Maeve? Como, afinal de contas, eles se tinham comprometido um com o outro quando ela poderia ter procurado outro homem? Como podia ter demonstrado tão pouca fé nele, no seu marido?

      – A paciência é a chave para o sucesso. Pode levá-la para casa, mas não deve expô-la imediatamente a estranhos. Deve fazer com que se sinta segura e a salvo consigo.

      – Como vou fazer isso se ela nem sequer se lembra de mim?

      – Quando ela tiver recuperado um pouco explicar-lhe-emos quem você é. Não temos outro remédio senão fazê-lo porque deve saber que não está sozinha no mundo. Mas perdeu um ano da sua vida, uma experiência aterradora para qualquer um. Faça-a ver que se importa com a pessoa que ela recorda que é. E depois, quando tiver um pouco mais de confiança, vá-lhe apresentando a pouco e pouco o resto dos membros da família.

      – O resto da minha família inclui o nosso filho de dezassete meses. O que sugere que faça com ele até lá? Devo dizer-lhe que é filho da empregada?

      – O sentimento de culpa ao descobrir que tem um filho do qual não se recorda poderia deixar-lhe cicatrizes emocionais permanentes. Esse assunto é o mais delicado de todos porque vai contra a natureza de uma mulher ter esquecido que teve um filho.

      – Estou a ver.

       E era verdade, sem dúvida: Maeve tinha despertado do coma, mas não estava curada.

      – Mais alguma coisa?

      – Sim – respondeu o neurologista. – Neste momento, não espere que Maeve seja sua esposa em todos os sentidos. A intimidade com um homem que, embora seja o seu marido, para ela é um completo estranho é uma complicação que devemos evitar a qualquer custo.

      Fantástico. Não podia fazer uso da única coisa que sempre funcionara entre eles. E, além disso, teria de mandar Sebastiano para casa da sua irmã.

      – Posso fazer mais alguma coisa, além de dormir noutro quarto e enviar o meu filho para outro sítio?

      – Claro que sim – respondeu Peruzzi. – A sua mulher perdeu a memória não o intelecto, de modo que lhe fará perguntas. Responda honestamente, mas não elabore as respostas e, sobretudo, não tente apressá-la. Pense em cada dado que lhe revelar como um traço na tela vazia da sua memória. Quando tiver preenchido traços suficientes, ela começará a preencher o resto por si mesma.

      – E se não gostar do que for descobrindo?

      – Então será imperativo que você, signor Costanzo, continue a apoiá-la. Maeve deve saber que pode confiar em si, independentemente do que tenha ocorrido no passado. Pode fazer isso?

      – Sim – respondeu ele. – Enquanto isso, posso visitá-la?

      – Não posso proibi-lo, mas sugiro-lhe que não o faça. Agora o importante é que ela recupere fisicamente e o seu aparecimento só serviria para comprometer essa recuperação.

      – Entendo – murmurou Dario. – E agradeço-lhe muito que me tenha telefonado.

      – Oxalá tivesse notícias tão boas para todos os meus pacientes – suspirou o médico. – Voltarei a ligar-lhe quando Maeve estiver preparada para voltar para casa. Enquanto isso, pode ligar-me quando quiser para pedir informações sobre os progressos da sua esposa. A mim ou a qualquer membro da equipa. Ciao, signor Costanzo, e boa sorte!

      – Grazie e ciao!

      Depois de desligar, Dario aproximou-se da janela, pensativo. No jardim da casa, em frente ao seu escritório, estava Marietta Pavia, a ama que contratara depois do acidente, sentada sobre uma manta, a brincar com Sebastiano.

      Que uma mulher pudesse esquecer um marido de quem estava cansada era compreensível, embora não muito lisonjeador, mas como era possível que Maeve tivesse esquecido o seu filho?

      Atrás dele, uma voz autoritária interrompeu os seus pensamentos:

      – Ouvi o suficiente para saber que Maeve está melhor.

      Dario voltou-se para enfrentar a sua visitante. Com o cabelo preto preso num coque perfeito, um imaculado vestido de cor creme e um colar de pérolas ao pescoço, Celeste Costanzo poderia ter passado por uma mulher de quarenta e cinco anos quando na verdade estava prestes a fazer sessenta.

      – Pareces vestida para uma festa, mas deverias estar a relaxar na ilha, mãe.

      – Estar fora do olhar público em Pantelleria não é razão para não me vestir bem… e não mudes de assunto. O que te disse o neurologista?

      – Que Maeve saiu do coma e espera que se recupere completamente.

      – Então vai sobreviver?

      – Tenta disfarçar a tua desilusão – suspirou Dario. – Afinal de contas, é a mãe do teu neto.

      – Depois do que se passou, não entendo porque é que continuas a defendê-la.

      – Mas essa é a questão, mãe, não sabemos o que aconteceu. Das duas pessoas que poderiam saber, uma está morta e a outra perdeu a memória.

      – Ah, então esse é o jogo dela agora, não é? Fingir que não se recorda de nada, que não tinha tentado deixar-te e levar a criança – a mãe fez um gesto de desprezo. – Que conveniente para ela!

      – Isso é uma tolice e tu sabes. Maeve não está em posição de fingir e mesmo que assim fosse, os médicos têm demasiada experiência para não se aperceberem.

      – Então tu acreditas nesse diagnóstico?

      – Tenho que acreditar e tu também.

      – Receio que não, filho.

      – Aconselho-te a que repenses a tua posição, se queres ser bem-vinda a minha casa – respondeu Dario.

      Celeste