Maldito fosse, deixara.
Adoraria apagar todas as lembranças dessa noite, mas tinha cada segundo gravado na mente. Naquela manhã, acordara com a sensação de que fora o primeiro a possuí-la e de que algo correra mal. Era uma sensação que o incomodava e que crescia à medida que o tempo passava.
Esfregou a nuca com uma mão e amaldiçoou a memória enganosa.
Natasha não era virgem. Estivera casada e tentara ter um filho com o marido!
Passaram mais cinco minutos antes de ouvir movimentos e ela aparecer à porta.
Soube a resposta ao vê-la.
– Tem de haver… algum erro – balbuciou Natasha. – Tenho de fazer outro teste.
Ficara tanto tempo a olhar para o resultado positivo que os olhos se tinham toldado.
Durante duas semanas, recusara-se a acreditar que podia acontecer.
Tinham sido inconcebivelmente insensatos, mas a natureza não podia ser tão desumana com eles. O remorso e o desprezo por si próprios com que teriam de viver não eram castigo suficiente?
Uns olhos verdes e inflexíveis fixaram-se nela e passou um instante antes de ele falar.
– Esse teste é o mais confiável do mercado. Se é positivo, estás grávida. Isso só deixa um enigma por resolver, quem é o pai?
Com medo de desmaiar, sentou-se no chão e abraçou os joelhos.
– Quando foi a última vez que o Pietro e tu…?
O desagrado que se refletia na sua voz, embora não tivesse acabado a frase, foi como uma onda abrasadora na sua cabeça gelada e, pela primeira vez na sua vida, não soube o que dizer ou fazer. Sempre, quando tivera um dilema, a resposta fora muito clara, tinha de fazer o que os pais queriam. Fora por isso que se casara com Pietro. No entanto, naquele momento, não pensava nos pais.
– Tenho de interpretar, pelo teu silêncio, que o Pietro e tu foram… ativos até à sua morte?
Como podia responder? Não podia.
– Se o teu último período foi há um mês, parece lógico pensar que estivemos juntos quando eras mais fértil. No entanto, todas as mulheres têm ciclos diferentes e se o Pietro e tu… foram íntimos até à sua morte, existe a possibilidade de ele ser o pai. Quem mais está na lista?
A cabeça dava voltas porque ele, como médico, entendia muito melhor do que ela como o corpo funcionava e não entendeu o que queria dizer.
– O quê…?
– Não te faças de parva. Com quem mais foste para a cama no último mês?
– Isso é insultante – queixou-se ela.
Ele deixou escapar uma gargalhada.
– Não me interpretes mal, estás a representar muito bem o papel de viúva desconsolada, mas, quando estiveste comigo, parecia que estavas com cio e não seria de estranhar que estivesses com outros.
Com o cio? Natasha tapou os ouvidos e cravou as unhas no couro cabeludo. Como era possível que ele, um médico, não tivesse percebido?
Houvera um momento, quando a penetrara, em que parara, mas só durara um instante, porque o beijara com avidez para que continuasse o que começara… e tivera medo de que descobrisse a verdade.
– Estou à espera da resposta. Quantos?
Natasha lembrou-se de que houvera um tempo, muito longínquo, em que o leve sotaque italiano do seu inglês impecável fora como um bálsamo para ela. Supôs que fosse o que acontecia quando se criava, do zero, uma empresa que valia milhares de milhões, a humanidade mais elementar desaparecia com os princípios.
– Nenhum. Não houve ninguém.
– Uma ecografia vai dizer-nos a data da conceção com precisão e, assim, poderemos saber quem é o pai.
O tom cortante de Matteo afetou-a.
A ideia de uma ecografia, de ver esse ser minúsculo que crescia dentro dela… De repente, percebeu que estava grávida, que ia ser mãe.
Levou uma mão à barriga, apagou o rosto crispado de Matteo da mente e imaginou a vida que estava a gerar-se dentro dela. Cumprimentou o bebé em silêncio e sentiu uma felicidade avassaladora.
Há muito tempo que queria ter um filho. Depois do que acontecera com Pietro, pensara que seria um caminho comprido e tortuoso, se conseguisse e se aceitasse seguir o caminho que ele queria para o ter. No entanto, acontecera como por arte de magia.
Ia ter um bebé.
– Como podes estar a sorrir neste momento? – perguntou Matteo. – Parece-te divertido?
Parou de sorrir, embora não soubesse que o fazia, e endireitou-se. Fosse o que fosse que o futuro proporcionava, mesmo que fosse apenas humilhação, tinha de pensar nessa pequena semente. Não podia cair no desânimo, seria forte, seria uma mãe.
– Estou grávida – afirmou. – Não podes saber há quanto tempo o desejo e, sim, vou sorrir e alegrar-me com a conceção do meu filho porque é um milagre.
– Então, tencionas tê-lo.
– Como podes perguntar uma coisa dessas?
Aproximou-se, pôs-lhe uma mão na nuca e observou-a como se a examinasse.
– Porque te conheço, Natasha – declarou ele. – És egoísta, só pensas em ti e no que te dá jeito.
Natasha, atónita, ficou em silêncio devido à sua proximidade, ao calor da sua pele, às carícias quase distraídas dos seus dedos, devido às lembranças da única vez que tinham estado juntos. Pestanejou várias vezes, para que o cérebro funcionasse outra vez, respirou fundo, levantou uma mão, agarrou a mão dele, cravou-lhe as unhas e retirou-a do pescoço. Endireitou-se o máximo possível, embora fosse quase trinta centímetros mais baixa do que o metro e oitenta dele.
– Não me conheces – replicou ela. – Se me conhecesses, não terias tido de me perguntar se ficaria com o bebé. Farei mais do que ficar com ele, vou amá-lo e criá-lo.
Já o desejara uma vez. Se lhe tivessem dito, quando tinha dezoito anos que, sete anos mais tarde, estaria à espera de um filho de Matteo, daria saltos de alegria. No entanto, não podia dizer-lhe porque não acreditaria.
Esfregou a mão onde lhe espetara as unhas.
– Espero, pelo bem do teu filho, que as tuas palavras não sejam tão vãs como costumam ser, mas o tempo dirá. Tenho uma amiga em Florença que gere uma clínica ao lado da minha e que tem os equipamentos mais modernos e precisos. Vou levar-te lá. Ela poderá descobrir a data da conceção para que possamos determinar se existe a possibilidade de eu ser o pai. A discrição dela está garantida e ambos concordamos que a discrição é imprescindível.
Natasha fez um esforço para respirar.
Estava tudo a acontecer muito depressa. Não podia permitir que a manipulasse, mas também era verdade que tinha de fazer o que fosse melhor para o bebé e que precisava de toda a discrição que conseguisse até decidir o que ia fazer.
As repercussões eram terríveis e não queria pensar nelas. Quantas vidas ficariam arruinadas quando se soubesse a verdade?
O pior de tudo era que nunca poderia dizer toda a verdade, pois ninguém podia sabê-la. Como Matteo não podia saber que ela já conhecia uma clínica excelente em Paris e que também garantia a discrição. Também não podia