Daniele tomou as rédeas da reunião e explicou como estava o projeto e que Matteo e ele tencionavam viajar para Caballeros durante as próximas duas semanas. Esperava-se que a construção começasse pouco depois.
– Tão cedo? – conseguiu perguntar ela.
– É Caballeros, não a Europa – respondeu Daniele. – A burocracia não é como aqui.
– Tiveste alguma ideia para a publicidade? – perguntou Francesca.
– Lamento muito, mas não. Vou começar a pensar e envio-vos algumas ideias um dia destes.
Esfregou a cabeça com a esperança de não estar a prometer algo que não ia conseguir cumprir. Quanto mais publicidade tivessem, mais doações receberiam e, quantas mais doações recebessem, mais pessoal poderiam contratar.
Ela, como familiar mais próxima de Pietro, era a responsável. Tudo o que dizia respeito à fundação do marido recaía sobre os seus ombros e, até à data, evitara qualquer responsabilidade… e evitaria todas as responsabilidades, se dependesse dela.
Em algum momento, em breve, teria de pensar nas coisas com clareza, mas, naquele momento, tinha a cabeça tão cheia e dispersa ao mesmo tempo que não conseguiria decidir o que queria comer ao pequeno-almoço.
Não podia continuar assim. Não sabia se era por causa do choque da morte de Pietro ou por causa do que acontecera com Matteo, mas tinha de recuperar a integridade.
Tinha um futuro pela frente e, mais cedo ou mais tarde, teria de decidir o que queria fazer com ele. Até ao momento, e que ela soubesse, passá-lo-ia sozinha. Não voltaria a casar-se, não voltaria a permitir que alguém, nem um homem nem os pais, tivesse o controlo da sua vida.
– Não há pressa. – Francesca fez um ar de cansaço. – No fim da semana que vem, seria bom.
O suplício acabou finalmente. A família levantou-se e ela também tentou, mas enjoou-se tanto que teve de se agarrar à beira da mesa.
Francesca, que estivera sentada ao seu lado, foi a primeira a perceber e agarrou-a pelo pulso.
– Passa-se alguma coisa?
Natasha abanou a cabeça.
– Só estou cansada. Certamente, deveria comer alguma coisa.
Francesca observou-a antes de ceder.
– Sabes onde estou se precisares de alguma coisa.
Era uma oferta risível se se tivesse em conta que Francesca tinha tão mau aspeto como devia ter, mas a cunhada fizera-a de coração e não se riria, mesmo que tivesse as forças necessárias.
Sentiu que ardia com o olhar, igualmente penetrante, de Matteo e só pôde respirar com tranquilidade quando todos se foram embora.
Mandou a empregada fazer uns recados. Precisava de estar sozinha e agradeceu a Pietro por ter acedido a deixar que o resto dos empregados fossem externos, como ela pedira. Era triste que tivesse tido de pedir essas coisas…
Fora tudo triste no seu casamento e a sua duração fora a menor das tristezas. Não tivera nenhuma autonomia.
Já passara o enjoo e percebeu que tinha fome. Tivera náuseas ao acordar e saltara o pequeno-almoço, o que evitara ter de tomar a decisão do que comer e, além disso, conseguira esquecer-se de almoçar.
Abriu o frigorífico e tentou pensar no que lhe apetecia comer. A empregada deixara-o bem sortido e podia escolher demasiadas coisas. Depois de deliberar, pegou num pedaço de queijo e procurou umas bolachas para o acompanhar.
O estômago queixava-se quando finalmente desembrulhou o queijo, mas sentiu um vómito ao cheirá-lo. Atirou o pedaço de queijo para o lixo. Levou uma mão à barriga, tapou a boca com a outra e respirou fundo com a esperança de que as náuseas passassem.
Tinham acabado de passar quando a campainha da porta tocou.
Ficou imóvel e pensou se devia abri-la ou não. A casa estivera cheia durante as últimas duas semanas e só queria estar sozinha.
Voltou a tocar.
Podia ser a sogra… Vanessa, a mãe de Pietro, visitara-a muitas vezes desde que se tinham casado e visitara-a ou ligara-lhe todos os dias desde que o filho morrera. O que estava a sentir não podia comparar-se com o que Vanessa sentia.
Mesmo assim, embora continuasse a tentar convencer-se de que ia encontrar a sogra adorável à porta, não pôde surpreender-se quando viu Matteo.
– O que queres? – perguntou Natasha, agarrando-se à ombreira da porta.
– Quero dar-te isto.
Deu-lhe uma caixa comprida e estreita, um teste de gravidez.
Capítulo 3
O rosto dela empalideceu mais.
– Não estou grávida.
– Faz o teste e prova-o. Não me vou embora até o fazeres.
Ela desviou o olhar por cima do seu ombro.
– Esperas alguém? – perguntou ele, num tom cortante. – Outro amante talvez?
– A Vanessa gosta de me visitar.
– A mãe desconsolada que visita a viúva emocionada? Que bonito…
Enojava-o que a tia, como todos os Pellegrini, achasse que tudo começava e acabava com Natasha. Fora a preocupação e compaixão de Francesca pela jovem viúva que começara uma série de acontecimentos que o levara àquele momento.
– Se não queres que me encontre aqui e tenhas de lhe explicar porque tenho isto na mão, recomendo-te que me deixes entrar – continuou Matteo.
Ela suspirou e afastou-se.
Pela segunda vez nesse dia, entrou em casa de Pietro com o mesmo desprezo por si próprio do que da primeira vez. Só estivera uma vez naquela casa antes de Pietro morrer e fora enquanto Natasha estivera em Inglaterra a visitar os pais.
– Tiveste o período desde…?
Não conseguiu acabar a pergunta, mas ela corou por ser tão íntima.
– Não – sussurrou Natasha.
– Quando devias tê-lo?
– Há alguns dias – respondeu ela –, mas nunca fui regular. Não significa nada.
– Estás cansada, tens dores nas costas e foste três vezes à casa de banho durante a reunião de duas horas. O meu voo de regresso a Miami sai dentro de três horas. Faz o teste. Se o resultado for negativo, poderei sair de Pisa e ambos esqueceremos o que aconteceu.
Nenhum deles falou do que aconteceria se o resultado fosse positivo.
Natasha olhou para a caixa antes de lha arrebatar e afastar-se. Ele ouviu que subia a escada e que fechava uma porta.
Matteo, uma vez sozinho, foi para a sala, sentou-se no sofá e segurou a cabeça enquanto esperava. Na sala contígua, havia um bar muito bem sortido e Pietro e ele tinham bebido juntos. Sentiu vontade de se servir de um copo, mas a rejeição foi mais forte. Já se servira da esposa do primo e amigo e não queria beber o seu álcool.
Lera as instruções e sabia que o resultado do teste se saberia em três minutos. Olhou para o relógio e verificou que Natasha estava há dez minutos no andar de cima. O tempo parecia eterno e só podia ocupá-lo a olhar para os móveis escolhidos pelo homem que fora como um irmão para ele. Não conseguia ver a influência de Natasha na decoração.