Superamos sem esforço, quase todas as selecções, que se desenrolaram durante dias, pressionadas pela carga, coragem e entusiasmo inimagináveis, abatendo a nossa timidez e mostrando, mesmo para nós, uma invulgar disponibilidade para com a liderança.
O teste com o psicólogo foi, para Stefy, o mais duro.
Eu fui a primeira a entrar numa sala luminosa onde encontrei um homem que teve a tarefa do último examinador, antes da cuidada visita medica final.
Foi para mim, uma agradável e relaxante conversa, mas verifiquei que o homem procurava de pôr-me em embaraço, enquanto eu procurava não ceder às suas intenções.
Estava feliz.
Inesperadamente e depois de uma breve entrevista inicial de apresentação, ele sustentou que não acreditava que eu fosse aquela pessoa positiva, correcta e social na qual eu tinha-me descrito, respondi-lhe que isso me desapontava, mas que não me preocupava e que o seu juízo, talvez, resultou através da nossa apressada apresentação.
Fui convidada para participar ao teste sucessivo.
Saindo pisquei o olho para Stefy.
«Nada a temer, vai tranquila» lhe disse.
Stefania entrou logo a seguir.
Passaram poucos minutos e a vi sair com a cara escura.
«Que se lixe, mas quem pensa de ser este mal-educado?»
«Stefania, diga-me, o que aconteceu?»
«Não percebo quem seja este homem, mas certamente não gostaria mais por ventura lidar com um tipo como ele!»
«Afirmou que os meus cabelos estão desarrumados e a minha roupa inadequada!»
«Cabelos desarrumados? Roupa inadequada?»
«Que mal-educado!»
«Como é que se atreve?»
«Fez perguntas absolutamente inoportunas, muito privadas, e eu lhe respondi que não era da sua conta! Depois me disse: mas quem pensas de ser? E eu, naquele momento, perturbada e com todas as fúrias, lhe respondi para cuidar melhor as suas palavras. Depois bati a porta na cara dele!»
Era a prova que testava o nosso grau de tolerância ao stress, com um trabalho de contínuo contacto com o publico esta é um dote necessário.
Inútil dizer que Stefania não foi convidada à prova sucessiva.
Voltou para casa chocada, questionando-se o que tivesse falhado. O seu namorado foi o único feliz pelo êxito negativo do teste, e os seus interrogatórios permaneceram para sempre sem uma resposta.
Começou para mim, pelo contrário, um curso que durou três meses onde fui instruída a extinguir o fogo, e de como comportar-se em casos de emergências.
Estudei, além disso, os aspectos técnicos de diferentes tipos de avião e a composição das tripulações, alguns sinais de medicina para a habilitação às tarefas de primeiros socorros e, depois de ter superado os exames de técnica, medicina e inglês junto da civilavia (entidade competente para a emissão das cartas de pilotos aviadores), eu estava pronta para subir no avião com a roupa que tinha tanto esperado de usar: aquela de hospedeira.
Durante o curso encontrei três raparigas e ficamos amigas:
Eva, Valentina e Ludovica.
Partilhamos durante aquele período o mesmo quarto do hotel e, depois de ter sido assumidas, decidimos de alugar uma casa em Fregene, localidade marítima situada perto do aeroporto de Roma Fiumicino, a nossa base de partida.
Começou desta forma a nossa aventura.
Eu, Eva, Valentina, Ludovica.
A casa tinha dois quartos, cada uma com uma cama casal, e a única casa de banho era frequentadíssimo: difícil conseguir encontrá-lo livre, assim como o telefone de casa.
Procuramos de adaptarmo-nos àquela situação e conseguimos conviver não sem pequenas divergências, procurando descer para qualquer mínimo compromisso, aquele mais difícil era decidir quando e quem tivesse que lavar os pratos sujos.
Eva tinha uns lindíssimos cabelos ruivos, ondulados e macios que caiam nos ombros, os seus olhos cor castanho claro pareciam verdes nos dias mais ensolarados, a sua fisionomia era franzina e esbelta; provinha de Bergamo alta, como dizia ela, e tinha um espírito de napolitana verídica, comunicativa e calorosa; amava a sua desordem, trazia sempre uma máscara para o rosto para experimentar e frequentemente girava pela casa com a sua preferida, aquela de argila ventilada de cor verde, e aplicava o óleo de amêndoas doces para amolecer os cabelos.
Ludovica não cessava por acaso de falar e não sabia em nenhuma ocasião como fazer para bloquear aquele rio totalmente cheio de palavras mal tivesse aberto a boca.
Ela era loira com uns lindíssimos caracóis, olhos dum azul intenso e uma pele lisa e clara, as suas formas eram amanteigadas e harmónicas; muito arrumada e cuidada – o oposto de Eva – trajava fatiotas de marcas e conservava as suas camisolas de lã, cada uma no saco plástico transparente; cozinhava muito bem.
Provinha da Sardenha, e namorava com um rapaz, seu conterrâneo, que muitas vezes parava na nossa casa, de vez em quando forçando a companheira do quarto, Eva, a dormir no sofá da sala.
Ludovica era fanática pela ondulação artificial dos cabelos.
Eu dormia no outro quarto com a Valentina que era uma rapariga cheia de vida e entusiasmo, muito sensível, honesta e generosa.
Os seus cabelos eram escuros e direitos, cortados à tigela, os olhos pretos, muito profundos e sensuais, a conformação física era magra e bem moldada.
Valentina gostava, à noite, ficar até tarde antes de ir à cama, melhor se na companhia do seu aperitivo aromático preferido: Montenegro com gelo. De manhã contemporizava na casa de banho porque as suas lentes de contacto lhe davam muita maçada.
Éramos muito chegados.
«Hoje fomos convidados à festa de bem-vindos em casa daqueles pilotos que vivem na rua Masotta, em frente da nossa casa!» exultou Eva.
«Por que não dar um salto?» disse.
«Sim» consentiu Valentina.
»Estou curiosa para conhecer melhor os nossos vizinhos.»
Ludovica foi logo para secar o cabelo, eu experimentei quase todos os vestidos que estavam dentro do guarda-vestidos e questionei-me se nunca teria conseguido fechar o zipe nos lados daquelas fantásticas calças azuis. Eva aplicou o seu novo óleo perfumado a lírio-do-vale e Valentina correu para maquilhar-se em primeiro lugar.
Felizes, efectuamos os primeiros passos em direcção daquele pequeno mundo em si, até então desconhecido: o reino dos voadores, diferente daquele dos únicos passageiros, como usa distinguir quem trabalha nos aviões.
O que notamos logo neles foi o conhecimento e a frequentação de lugares que nós tínhamos apenas sonhado de visitar e a felicidade extrema ao alcançá-los devido ao hábito de viajar; a capacidade de adaptar-se em qualquer parte do mundo dada ao conhecimento da população e dos territórios, da cultura e das tradições; elevado número de amizades em diversos lugares que podíamos manter na vida pois que constantemente frequentados; a abertura mental necessária para estar em contacto com o mundo e os seus habitantes, a capacidade de entrar imediatamente em empatia com estranhos mal conhecidos sem os usuais embaraços iniciais, para além de tantas manias e fixações que cada um levava consigo da própria residência dentro da mala, a sua pequena segunda casa.
Uma vez que se tornarão voadoras, o serão por toda a vida, nos disse em voz baixa, como se fosse uma verdade ocultada, uma marca que levaríamos para sempre. Percebemos que começar a voar teria sido como viver duas vidas paralelas que se alternam todas as vezes que se parte para o trabalho e mal se regressa