E quanto a Naomi? Seu emprego com Saskia? Como seria?
De repente, nada disso importava. Esse sentimento com o qual Lacey foi atingida quando viu a loja parecia amor à primeira vista. Ela estava se jogando de cabeça.
"E então? O que você acha?" perguntou a ele.
O velho parecia um pouco atordoado. Lacey não podia culpá-lo. Ali estava uma estranha mulher americana vestida com roupas de brechó, pedindo-lhe para alugar sua loja quando ele já havia decidido vendê-la.
"Bem... eu..." ele começou. "Seria bom mantê-la na família um pouco mais. Agora também não é o melhor momento para vender, com o mercado do jeito que está. Mas eu preciso falar com minha esposa, Martha, primeiro".
"Claro", disse Lacey. Ela rapidamente rabiscou seu nome e número em um pedaço de papel e entregou a ele, surpresa com a determinação que sentia. "Leve o tempo que precisar".
Ela precisava de tempo para resolver seu visto, afinal, e elaborar um plano de negócios, finanças, estoque e tudo mais. Talvez ela devesse começar comprando uma cópia do Guia para Leigos sobre como Abrir uma Loja.
"Lacey Doyle", disse o homem, lendo o papel que ela lhe entregara.
Lacey assentiu. Dois dias atrás, esse nome não lhe era familiar. Agora parecia o dela novamente.
"Eu sou Stephen", ele respondeu.
Eles apertaram as mãos.
"Aguardo ansiosamente a sua ligação", disse Lacey.
Ela saiu da loja, com o coração disparado de antecipação. Se Stephen decidisse alugá-la, ela ficaria em Wilfordshire em uma base muito mais permanente do que havia planejado. A ideia deveria assustá-la. Mas, em vez disso, deixou-a encantada. Parecia tão certo... Mais do que certo. Parecia o destino.
CAPÍTULO CINCO
"Eu pensei que eram férias!" a voz furiosa de Naomi explodiu através do celular entre a orelha e o ombro de Lacey.
Ela suspirou, diminuindo o tom da fala de sua irmã, enquanto digitava no teclado do computador da biblioteca de Wilfordshire. Lacey estava checando o status do seu formulário online solicitando a mudança de seu visto de turista para um que lhe permitisse abrir uma empresa.
Depois da reunião com Stephen, Lacey se jogou na pesquisa e ficou sabendo que, com inglês nativo e uma quantidade considerável de capital no banco, a única outra coisa exigida era um plano de negócios decente, algo em que ela tinha muita experiência, graças à tendência de Saskia de transferir responsabilidades para os ombros de Lacey, que estavam muito além de seu salário. Lacey levou apenas algumas noites para compilar o plano e apresentá-lo, um processo indolor que a deixou mais do que certa de que o universo estava dando uma ajudinha para essa sua nova vida.
Quando ela se logou no portal oficial do governo do Reino Unido, viu que sua solicitação ainda estava como "pendente". Ela estava tão desesperada para seguir em frente que não conseguiu evitar um pouco de decepção. Então seu foco voltou à voz de Naomi em seu ouvido.
"Eu NÃO POSSO acreditar que você vai se mudar!" Sua irmã estava gritando. "Permanentemente!"
"Não é permanente", explicou Lacey, com calma. Ao longo dos anos, ela havia ganhado prática em como não piorar o humor de Naomi. "O visto vale apenas por dois anos".
Ops. Movimento errado.
"DOIS ANOS?" Naomi gritou, com uma raiva chegando a um tom febril.
Lacey revirou os olhos. Ela sabia que a família não apoiaria sua decisão. Naomi precisava dela em Nova York para servir de babá, afinal, e a sua mãe basicamente a tratava como um animal de estimação para apoio emocional. A mensagem alegre que ela havia digitado no grupo das Garotas Doyle havia sido recebida com a gratidão de uma bomba nuclear. Dias depois, Lacey ainda estava lidando com as consequências.
"Sim, Naomi", ela respondeu, desapontada. "Dois anos. Eu acho que mereço, não é? Eu dei catorze anos a David. Quinze ao meu emprego. Nova York me teve por trinta e nove. Estou chegando aos quarenta, Naomi! Eu realmente quero ter vivido minha vida inteira em um só lugar? Ter uma única carreira? Ter vivido com um único homem?"
O rosto bonito de Tom brilhou em sua mente quando ela disse isso, e ela sentiu suas bochechas esquentarem imediatamente. Ela estava tão ocupada organizando sua nova vida em potencial que não voltou à confeitaria — e sua expectativa de cafés da manhã lânguidos ao ar livre foi temporariamente substituída por uma banana embrulhada e uma mistura para frappuccino da loja de conveniência. De fato, acabara de lhe ocorrer que, se esse acordo desse certo com Stephen e Martha, ela alugaria a loja em frente à de Tom e o veria pela janela todos os dias. Seu interior se contorceu de prazer só de pensar.
"E Frankie?" Naomi choramingou, trazendo-a de volta à realidade.
"Enviei-lhe alguns fudges pelo correio".
"Ele precisa da tia!"
"Ele ainda me tem! Não estou morta, Naomi, só vou morar no exterior por um tempo".
Sua irmã caçula desligou na cara dela.
Trinta e seis anos, quase dezesseis, Lacey pensou ironicamente.
Quando ela colocou o celular de volta no bolso, Lacey notou algo na tela do computador piscar. O status do formulário de inscrição havia mudado de "pendente" para "aprovado".
Com um grito, Lacey pulou da cadeira e deu um soco no ar. Todos os idosos jogando paciência nos outros computadores da biblioteca se viraram para olhá-la, alarmados.
"Desculpem!" Lacey exclamou, tentando moderar sua empolgação.
Afundou na cadeira novamente, sem fôlego. Ela conseguiu. Tinha luz verde para colocar seu plano em ação. E tudo flui tão bem que Lacey não pôde deixar de suspeitar que o destino tinha dado uma mãozinha...
Mas havia um último obstáculo. Ela precisava que Stephen e Martha concordassem em alugar a loja.
*
Lacey caminhava ansiosa pelo centro da cidade, sem pressa. Ela não queria se afastar muito da loja porque, no segundo em que recebesse a ligação de Stephen, voltaria direto para lá com seu talão de cheques e uma caneta e assinaria o bendito acordo antes que algum traço de auto-sabotagem lhe dissesse que ela não podia fazer aquilo. Mas Lacey era excepcionalmente talentosa em admirar vitrines e começou a trabalhar, dando uma olhada em tudo o que a cidade tinha para oferecer. Enquanto ela passeava, seus mocassins baratos comprados no aeroporto engancharam nos paralelepípedos, fazendo-a tropeçar e torcer o tornozelo. Foi então que Lacey percebeu que precisava mudar sua aparência casual de brechó, se quisesse ser levada a sério como uma mulher de negócios em potencial.
Ela se dirigiu à boutique que ficava ao lado da loja vaga que ela esperava que em breve fosse dela.
E também posso aproveitar para conhecer meus vizinhos, pensou.
Ela entrou e percebeu que era um lugar de aparência minimalista, abastecido com apenas alguns itens selecionados. A mulher atrás do balcão levantou os olhos quando ela entrou, erguendo altivamente o nariz ao avaliar as roupas de Lacey de cima a baixo. A mulher era magra e tinha uma aparência um tanto severa, mas seus cabelos castanhos ondulados eram penteados exatamente da mesma maneira que os de Lacey. Seu vestido preto a fazia parecer uma espécie de clone "do mal" de si mesma, pensou ela, brincalhona.
"Posso ajudá-la?" a mulher perguntou com uma voz fraca e desagradável.
"Não, obrigada", respondeu Lacey. "Eu sei exatamente o que quero".
Ela escolheu um terno de duas peças do cabide, o tipo que estava acostumada a usar em Nova York, e depois fez uma pausa. Queria mesmo replicar aquele