Irritada, Chloe estacionou na rua se apressou pela calçada. Chegou aos degraus quando Rhodes abriu a porta para entrar.
- Bom dia – Rhodes disse, claramente sem querer de fato desejar bom dia.
- Bom dia. Você... veio voando?
Rhodes apenas encolheu os ombros.
- Eu não levo muito tempo para me arrumar de manhã. Tudo bem, Agente Fine. Isso não é uma corrida.
Ao entrarem, elas viram um homem em pé no centro de uma pequena sala. Ele virou-se para elas e seus olhos pareceram se fixar na Agente Rhodes por um momento. Ela estava vestindo uma calça preta bem simples e um top branco conservador. Seu cabelo fora alisado, e ainda que ela tivesse dito que levava pouco tempo para se arrumar, era óbvio que ela havia se maquiado naquela manhã.
- Vocês são do FBI? – O homem perguntou.
- Sim – Chloe disse rapidamente, como se quisesse se certificar de que o homem sabia que haviam duas agentes ali, e não só a loira bonita.
- Agentes Rhodes e Fine – Rhodes disse. – E você é?
- Detetive Ralph Palace, Departamento de Homicídios de Maryland. Estou só fazendo algumas últimas anotações, já que pelo que sei o caso agora é de vocês.
- O que você pode nos dizer para nos ajudar a começar? – Chloe perguntou.
- É muito simples. Um assassinato com relação com gangues. MS-13 é uma gangue grande por aqui, e é com isso que estamos lidando. Os corpos de um marido, mulher e de um filho de 13 anos foram levados ontem à tarde, cerca de sete horas depois da ligação para a polícia. Temos relatos de tiros, e o lugar acabou assim. – Ele apontou com os braços em volta, indicando a bagunça no apartamento. – Uma rápida pesquisa da polícia revelou que o pai já teve laços com uma gangue rival, os Binzos.
- Se o MS-13 está envolvido, porque a agência de imigração ainda não está nessa? – Chloe perguntou.
- Porque ainda não temos provas – Palace disse. – Quando se trata de crimes de gangues com relação com imigrantes, temos que ter muita certeza. Do contrário, podemos esperar processos de tratamento injusto com grupos étnicos. – Ele balançou a cabeça e suspirou. – Então, se vocês conseguirem encontrar provas aqui de um jeito ou de outro, será ótimo.
Ele seguiu para a porta da frente, pegando um cartão de visitas da carteira. Não foi nenhuma surpresa ele ter entregue o cartão diretamente a Rhodes.
- Me ligue se você precisar de algo mais.
Rhodes nem se preocupou em responder ao guardar o cartão. Chloe imaginou que ela fosse o tipo de garota que já estava acostumada a ter caras olhando sempre para ela, desde o colégio ou a faculdade. Essa cena com o Detetive Palace havia sido, com certeza, apenas mais um desses momentos cansativos.
Chloe olhou em volta do lugar por um momento. A mesa de café na frente do sofá estava virada. Algo—um refrigerante escuro ao que parecia—havia sido derramado da mesa durante a briga. O líquido escuro estava misturado com o que claramente era sangue seco no tapete branco que cobria a sala inteira, até a cozinha anexa. Havia mais sangue espalhado pelas paredes. Havia também algumas manchas no chão de linóleo da cozinha.
- Como você quer dividir isso aqui? – Rhodes perguntou.
- Não sei. Se houve tiros, tem uma boa chance de alguma bala ter acertado a parede ou o chão. E pelo bagunça que temos aqui, não foi um simples tiro. Teve briga. E isso me diz que provavelmente vamos encontrar digitais em algum lugar também.
Rhodes assentiu.
- Também precisamos descobrir como o assassino entrou. Você olhou a porta da frente? Não tem sinais de entrada forçada. Isso significa que um dos membros da família deixou o cara entrar—talvez fosse alguém que eles conheciam bem e confiavam.
Chloe concordou com tudo e encontrou-se impressionada com Rhodes pelo fato dela já ter analisado a porta da frente antes mesmo de ter entrado na casa.
- Por que você não olha lá fora e procura sinais de entrada forçada? – Rhodes sugeriu. – Vou ver se há algum sinal de qualquer tipo de arma que tenha sido usada aqui... procurar algum fragmento de bala ou algo assim.
Chloe assentiu concordando, mas já estava sentindo que Rhodes estava fazendo o possível para se colocar como líder da investigação. No entanto, levou aquilo na boa. Baseado no que Palace havia lhes dito—e no fato do caso ter sido entregue a duas novas agentes com a supervisão de um diretor assistente—ela sabia que aquela era considerada uma tarefa pequena em um esquema bem maior. Então, se Rhodes já queria mostrar certa força, isso não era algo com o que se preocupar. Pelo menos não por enquanto.
Chloe saiu do apartamento, imaginando cenários em sua mente. Se o assassino fosse alguém que a família conhecia, por que a luta? Se o assassino havia usado uma arma, três tiros um atrás do outro não teriam dado muito tempo para qualquer tipo de reação ou luta. Mas a porta de fato não tinha sinais de ter sido aberta a força. Então, realmente, encontrar algum sinal de entrada forçada era mais provável do que imaginar que o assassino havia entrado livremente. Mas se não fora pela porta da frente, então por onde?
Ela caminhou vagarosamente em volta do prédio, percebendo que chamar aquilo de prédio era um exagero. A cada passo, percebia mais e mais que se tratava de uma casa urbana, talvez oferecida por algum plano do governo. A casa estava na ponta de um grupo de quatro construções idênticas, separadas por uma listra de grama morta entre cada uma.
O lado esquerdo não tinha nada. Havia apenas um pequeno tanque da gás e uma torneira com uma mangueira de água inutilmente enrolada no chão. Mas quando chegou aos fundos, ela viu várias oportunidades. Primeiro, havia três janelas. Uma dava para a cozinha, e as outras duas para os quartos. Havia também degraus de concreto que levavam à porta dos fundos. Chloe checou essa porta e encontrou-a destrancada. Ela levava a uma área muito pequena, que parecia servir como um lugar para deixar os sapatos e casacos. Alguns poucos pares de sapatos sujos estavam no chão e um casaco sujo e velho estava pendurado em um gancho na parede. Ela checou a porta e a maçaneta e, pelo que pode ver, não havia nenhum sinal de entrada forçada em um passado recente.
Então ela foi até cada janela, procurando por algo suspeito, e não se decepcionou. Na terceira janela, que dava ao que parecia ser o quarto principal, havia dois pedaços removidos do quadro. Eles haviam sido removidos com força, e pareciam estar lascados. Um estava na parte de baixo, onde estava o quadro, encostado. O outro ficava na parte de cima do quadro. O mesmo objeto usado para quebrar o quadro havia danificado também o vidro, ainda que não com força o suficiente para quebrá-lo.
Chloe não queria tocar em nada, com medo de danificar qualquer digital que pudesse ter sido deixada ali. Mas, na ponta dos pés, pode ver um pedaço particular de madeira, que teria permitido que alguém do lado de fora empurrasse a trava da janela.
Ela voltou para dentro da casa pela porta dos fundos e foi até o quarto principal. Não havia nenhum sinal claro de que alguém entrara pela janela. Mas ela sabia que uma varredura completa poderia contar uma história diferente.
- O que você está fazendo?
Chloe virou-se e viu Rhodes parada na porta do quarto. Ela tinha uma expressão cética no rosto, como se estivesse estudando Chloe.
- Alguém mexeu nessa janela pelo lado de fora – Chloe disse. – Precisamos encontrar digitais.
- Você tem luvas de evidências? – Rhodes perguntou.
- Não – Chloe disse. Ela achou aquilo irônico. Se tivesse começado o dia como membro da Equipe de Evidências, como planejara, ela teria as luvas consigo. Mas depois de Johnson ter mudado seu departamento, ela não havia pensado em trazer equipamentos básicos de evidência para o caso.
- Eu tenho no meu carro – Rhodes respondeu. Ela então jogou um molho de chaves para Chloe com um olhar irritado. – No porta-luvas. E por favor tranque quando sair.