- Chloe, como você está? – ela perguntou. Foi estranho ouvir a voz de Danielle com uma ponta de felicidade.
- Muito bem. Me mudei hoje. Pensei que seria legal celebrar com uma visita sua, uma garrafa de vinho e alguma comida nada saudável. Mas então lembrei do seu novo trabalho.
- É, estou trabalhando muito – Danielle disse, rindo.
- Você está gostando?
- Chloe, eu estou amando. Quer dizer, faz só três semanas, mas é como se eu tivesse nascido para esse trabalho. Eu sei que é só um emprego de bartender, mas...
- Bom, você é gerente assistente também, certo?
- Sim. Essa definição ainda me assusta.
- Fico feliz por você estar gostando.
- Bom, e você? Como é o apartamento? Como foi a mudança?
Chloe não queria que Danielle soubesse que ela havia feito a mudança sozinha, então deu uma resposta genérica—que também odiou.
Não foi tão ruim. Ainda tenho que tirar as coisas da caixas, mas estou feliz por estar aqui, sabe?
- Com certeza eu vou querer ir aí tomar o vinho e comer porcarias com você. Como vai o resto?
- Sinceramente?
- Danielle ficou em silêncio por um momento antes de responder.
- Hum... Sim.
- Estive pensando no pai. Estive pensando em ir até lá vê-lo.
- E por que diabos você faria isso?
- Eu queria ter uma boa resposta para te dar – Chloe disse. – Depois de tudo o que aconteceu, não sei, eu sinto que preciso. Quero dar um sentido a isso tudo.
- Meu Deus, Chloe. Deixe isso para lá. Seu novo trabalho não deveria ser sobre solucionar outros crimes? Cara... Pensei que era eu quem passava o tempo vivendo no passado.
- Por que isso te irrita tanto? – Chloe perguntou. – Digo, eu ir visitá-lo...
- Porque eu sinto que nós duas já demos muito das nossas vidas para ele. E eu sei que se você vê-lo, meu nome vai sair de uma das bocas de vocês e eu prefiro que isso não aconteça. Para mim, ele já era, Chloe. Eu queria que para você também.
Sim, eu queria a mesma coisa, Chloe pensou, mas segurou o comentário para si mesma.
- Chloe, eu te amo, mas se você está pensando em continuar nesse assunto eu vou ter que dizer tchau agora mesmo.
- Quando você vai trabalhar? – Chloe perguntou.
- Todas as noites essa semana, menos sábado.
- Quem sabe eu poderia ir ver você na sexta à tarde. Acho que você poderia me servir algum drink que você considere especial.
- É melhor você não querer voltar para casa dirigindo, então – Danielle disse.
- Anotado.
- E você? Quando começa no novo trabalho?
- Amanhã de manhã, na verdade.
- No meio da semana? – Danielle perguntou.
- Vai ser um tipo de orientação. Vários reuniões no dia.
- Estou animada por você – Danielle disse. – Eu sei o quanto você queria isso.
Era bom ouvir Danielle interessada em seu trabalho. Não só isso, mas também querendo demonstrar esse interesse.
Houve um silêncio profundo entre as duas, que felizmente terminou com Danielle dizendo algo que não era do tipo dela.
- Cuide-se, Chloe. Com o trabalho... com nosso pai... com tudo.
- Vou me cuidar – Chloe disse, percebendo que o comentário da irmã a surpreendera.
Danielle encerrou a ligação, e Chloe olhou em volta em seu apartamento. Era difícil ver o lugar inteiro por conta de todas as tralhas, mas ela já sentia aquele lugar como sendo sua casa.
Nada como uma conversa estranha com Danielle para fazer um lugar parecer sua casa, ela pensou.
Devagar, esticando as costas, Chloe saiu da poltrona e foi até a caixa mais próxima. Ela começou a tirar as coisas, pensando em como sua vida seria se ela não soubesse como reconciliar seus relacionamentos. Fosse com sua irmã, com seu pai ou com seu ex-noivo, ela não tinha o melhor histórico quando se tratava de manter as pessoas por perto.
Ao pensar em seu ex-noivo, Chloe deparou-se com vários fotos emolduradas no fundo da primeira caixa. Havia três fotos, dela e de Steven. Duas eram muito antigas, quando eles só queriam saber de namorar. Mas a terceira era uma foto de depois de que ele havia a pedido em casamento... depois de que ela havia dito sim quase chorando.
Ela juntou as fotos fora da caixa e colocou-as na bancada da cozinha. Olhou em volta e encontrou a lixeira no canto da sala, ao lado do colchão. Chloe pegou as fotos e jogou-as na lixeira. O som do vidro quebrando em pedaços foi um pouco agradável demais.
Fácil assim, ela pensou. Mal posso esperar para deixar isso para trás. Mas por que você não pode deixar essa história sem noção com seu pai para trás assim fácil também?
Ela não tinha resposta para aquela pergunta. E o que mais a assustou foi que ela sentia que a resposta poderia estar em uma conversa com ele.
Com esse pensamento, o apartamento pareceu mais vazio do que antes, e Chloe sentiu-se muito sozinha. Esse mero pensamento a fez ir até a geladeira e abrir a caixa de cerveja que havia comprado mais cedo. Ela abriu uma garrafa, um pouco assustada com quão bom havia sido o primeiro gole.
Fez o que pode para se ocupar naquela tarde e até à noite, não tirando as coisas da caixa, mas sim vagarosamente passando uma por uma e tentando decidir se precisava de cada item. O troféu que havia ganho no debate no ensino médio foi para a lixeira. O CD de Fiona Apple que escutara quando perdera sua virgindade no segundo ano do ensino médio, ela guardou.
Todas as fotos de seu pai foram para o lixo. Doeu um pouco no começo, mas na quarta garrafa de cerveja, a tarefa tornou-se mais fácil.
Passou por duas caixas... e teria visto pelo menos mais uma se não tivesse ido até a geladeira e descoberto que, de alguma maneira, havia tomado a caixa inteira de seis cervejas. Olhou para o relógio acima do forno e suspirou ao ver a hora.
Eram quinze para uma da manhã. Muito tarde para dar tempo de descansar bem antes do meu primeiro dia, pensou.
Mas o mais preocupante era o fato de que ela estava mais triste com a caixa de cerveja vazia do que uma possível manhã “grogue” em seu primeiro dia no FBI. Chloe caiu na cama após escovar seus dentes, e o quarto girou um pouco. Então, percebeu que havia passado a noite inteira tentando fazer a si mesma não dar a mínima para a tentativa de apagar as memórias de seu pai.
CAPÍTULO DOIS
Chloe não sabia ao certo o que esperar quando chegou à sede do FBI na manhã seguinte. Mas o que ela com certeza não esperava era ser recebida por um agente mais velho na entrada. Ela viu quando ele notou sua presença, e não teve certeza do que fazer quando percebeu que ele estava vindo diretamente em sua direção. Por um momento, ela pensou que fosse o Agente Greene, o homem que havia sido seu instrutor e parceiro em seu “quase caso”, que a levara a descobrir a verdade sobre seu pai.
Mas quando olhou melhor para o rosto do homem, viu que tratava-se de alguém bem diferente. Ele parecia durão e feito de pedra, e sua boca era desenhada em uma linha apertada em sua mandíbula.
- Chloe Fine? – O agente perguntou.
- Sim?
- O diretor Johnson gostaria de falar com você antes das orientações.
Aquilo