Finalmente, ele parou num amplo planalto, debaixo de uma árvore antiga, uma árvore que ela imediatamente reconheceu. Ela se havia sentado debaixo dela muitas vezes anteriormente.
Num movimento rápido, ele desmontou, continuando a segurá-la e levando-a com ele. Eles aterraram no campo molhado, a rebolar e a tropeçar. Rea sentiu-se sem fôlego quando o peso dele aterrou ao lado dela. Ao caírem ela reparou que ele poderia ter caído em cima dela, poderia tê-la realmente magoado, mas escolheu não o fazer. Na verdade, ele caiu de uma forma que amorteceu a queda dela.
O cavaleiro rebolou por cima dela, imobilizando-a. Ela olhou para ele, desesperada para ver o seu rosto. Porém, estava tapado, com a viseira branca para baixo. Apenas via a aparecerem por detrás das ranhuras do seu elmo uns olhos ameaçadores. Ela viu novamente aquela bandeira no cavalo dele e, desta vez, ela olhou bem para a sua insígnia: duas cobras, envolvidas à volta de uma lua, um punhal no meio delas, envolto num círculo de ouro.
Rea agitava-se, batendo-lhe na armadura. Mas era inútil. Eram umas mãos frágeis e pequenas a baterem num fato de metal. Era como se ela estivesse a bater numa rocha.
"Quem és tu?", perguntou ela. "O que queres de mim?"
Não houve nenhuma resposta.
Em vez disso, ele agarrou-a com a sua manopla e, quase sem ela dar por isso, ele virou-a, com a cara voltada para o chão, puxando o seu vestido.
Rea gritou, percebendo o que estava prestes a acontecer. Ela tinha dezassete anos. Ela estava a guardar-se para o homem perfeito. Ela não queria que aquilo acontecesse daquela maneira.
"Não!", gritou. "Por favor. Tudo menos isto. Mata-me primeiro!"
Mas o cavaleiro não queria ouvir e ela sabia que não havia como pará-lo.
Rea fechou os olhos com força, tentando afastar a situação, tentando transportar-se para outro lugar, para outro momento, para qualquer lugar menos para ali. O pesadelo dela tinha voltado, aquele do qual havia estado desperta, aquele que tinha tido durante muitas luas. Ela percebeu com temor que era aquilo que ela tinha andado a ver. Esta mesma cena. Esta árvore, estas ervas, este planalto. Esta tempestade.
De alguma forma, ela havia previsto aquilo.
Rea fechou os olhos com mais força e tentou imaginar que aquilo não estava a acontecer. Ela tentava perceber se era pior no sonho ou na vida real.
Rapidamente terminou.
Ele parou de se mexer e deitou-se por cima dela, ela entorpecida demais para se mover.
Ela ouviu o som do metal a levantar-se, sentindo o peso dele, finalmente, a sair de cima de si. Ela preparou-se, esperando que ele a matasse naquele momento. Ela antecipava o golpe da sua espada. Seria um alívio muito bem-vindo.
"Vá", disse ela. "Mata-me."
No entanto, para sua surpresa não ouviu nenhum som de uma espada, mas sim o som suave de uma corrente delicada. Ela sentiu algo frio e leve a ser-lhe colocado na palma da mão. Ela olhou, confusa.
Ela pestanejou à chuva e ficou surpreendida ao ver que ele lhe tinha colocado na mão um colar de ouro, com um pingente na sua extremidade, duas cobras, à volta de uma lua, com um punhal entre elas.
Finalmente, ele falou as suas primeiras palavras.
"Quando ele nascer", ouviu-se uma voz profunda e misteriosa, uma voz de autoridade, "dá-lhe isto. E manda-o para mim."
Ela ouviu o cavaleiro montar o seu cavalo, apercebendo-se vagamente do seu som a afastar-se.
Os olhos de Rea ficaram pesados. Ela estava demasiado exausta para se mexer ali deitada à chuva. Sentindo-se destroçada, ela sentiu um doce sono a chegar-lhe e não lhe resistiu. Talvez agora, pelo menos, os pesadelos parassem.
Antes de deixar o sono aproximar-se, ela olhou fixamente para o colar, o emblema. Apertou-o, sentindo-o na mão, o ouro tão espesso, grosso o suficiente para alimentar toda a sua aldeia durante uma vida.
Porque é que ele o tinha dado a ela? Porque é que ele não a tinha matado?
A ele, ele tinha dito. Não a ela. Ele sabia que ela ficaria grávida. E ele sabia que seria um rapaz.
Como?
De repente, antes de um doce sono se apoderar dela, veio-lhe tudo à memória. A última peça do seu sonho.
Um rapaz. Ela tinha dado à luz a um menino. Um nascimento vindo da fúria. Da violência.
Um rapaz destinado a ser rei.
CAPÍTULO DOIS
Três Luas Mais tarde
Rea ficou sozinha na clareira da floresta, atordoada, perdida no seu próprio mundo. Ela não ouvia o riacho a gotejar sob os seus pés, não ouvia o chilrear dos pássaros na densa floresta ao seu redor, não reparava na luz do sol que brilhava através dos ramos, ou no grupo de veados que a observava de perto. O mundo inteiro tinha-se dissipado e ela olhava apenas para uma coisa: as veias da folha de Ukanda que ela segurava entre os seus dedos trêmulos. Ela tirou as palmas das suas mãos da ampla folha verde e, lentamente, para seu horror, a cor das veias das folhas mudaram de verde para branco.
Vê-las mudar era como uma faca no seu coração.
As folhas de Ukanda não mudavam de cor, a não ser que a pessoa que lhes tocasse estivesse grávida.
O mundo de Rea vacilou. Ela tinha perdido toda a noção de tempo e espaço enquanto ali tinha estado. O seu coração latejava nos seus ouvidos, as suas mãos tremiam e o seu pensamento voltava àquela naquela noite fatídica há três luas atrás, quando a sua aldeia tinha sido saqueada, muitos dos seus mortos por contar. Quando ele a tinha levado. Ela estendeu a mão e passou-a sobre a barriga, sentindo uma pequena protuberância, sentindo uma outra onda de náusea e, finalmente, ela entendeu o porquê. Estendeu a mão e tocou o colar de ouro que ela tinha andado a esconder à volta do pescoço, bem por dentro da roupa, é claro, para que os outros não o vissem. Ela questionava-se, pela milionésima vez, quem seria aquele cavaleiro.
Por muito que ela as tentasse bloquear, as palavras finais dele não paravam de soar na sua cabeça.
Manda-o para mim.
Subitamente Rea ouviu um ruído por trás de si e virou-se, assustada, ao ver os olhos redondos de Prudência, sua vizinha, a olhar para ela. Uma menina de catorze anos de idade, que perdeu a sua família no ataque, uma intrometida sempre muito ansiosa por bisbilhotar qualquer pessoa. Prudência era a última pessoa que Rea queria que soubesse acerca do que se passava consigo. Rea viu horrorizada os olhos de Prudência a desviaram o olhar da sua mão para a folha em transformação, arregalando-se ao se aperceber.
Com um olhar de desaprovação, Prudência deixou cair a sua cesta de lençóis, virou-se e correu. Rea sabia que ela ter saído dali a correr apenas poderia significar uma coisa: ela ia informar os aldeões.
Rea ficou apavorada e sentiu a primeira onda de medo. Os aldeões iriam exigir que ela matasse o seu bebé, é claro. Eles não queriam nenhuma recordação do ataque dos nobres. Mas porque é que isso a assustava? Será que ela queria realmente manter aquela criança, o subproduto daquele monstro?
O medo de Rea surpreendia-a e, ao pensar nisso, ela percebeu que era perigoso manter o seu bebé seguro. Isso desorientava-a. Intelectualmente, ela não queria tê-lo; fazê-lo seria uma traição à sua aldeia e a ela mesma. Isso só encorajaria os nobres que a tinham invadido. E seria tão fácil perder o bebé; ela poderia simplesmente mastigar a raiz Yukaba, e no seu próximo banho, a criança morreria.
No entanto, visceralmente, ela sentia a criança dentro dela e o seu corpo dizia-lhe algo que a sua mente não dizia: ela queria ficar com ele. Protegê-lo. Afinal, era uma criança.
Rea era uma filha única que nunca tinha conhecido os seus pais, que havia sofrido no mundo sem ninguém para amar e ninguém para amá-la. Sempre tinha desesperadamente querido alguém para