Continuam avançando celeremente na estrada batida de chão circundando o rio Moxotó e o açude poço da cruz dos lados esquerdo e direito respectivamente. Durante o restante do percurso, retomam o bate papo legal entre os dois envolvendo vários assuntos a fim de se distrair. Com isto, nem percebem o largo tempo que se passa.
Exatamente uma hora depois concluem o percurso chegando ao rústico povoado formado por apenas uma rua central com casas espalhadas aqui e ali. Param no meio do povoado, o vidente paga a passagem, promete ligar para ele quando fosse voltar e finalmente se despede. Imediatamente o carro faz o retorno e agora Aldivan estava sozinho exceto a companhia invisível do seu pai que o protegia continuamente. O destino estava prestes a se revelar.
Caminha alguns metros, observa o relógio e verifica que são quase 11:00 Hs. Apressa então o passo e entra numa mercearia a fim de pedir informações. Adentra no estabelecimento que é composto apenas por um vão simples preenchidas pelo balcão e prateleiras contendo alimentos. Pede licença e vai falar com a única atendente disponível no momento.
—Oi, tudo bom? Meu nome é Aldivan e queria saber a localização da casa de Emanuel. Conhece?
—Meu nome é Pâmela. Sim, conheço Emanuel. Ele mora num casebre no final da rua no número trinta e cinco. É só seguir em frente. Posso saber por que vai procurá-lo?
—Sou amigo dele, mas o motivo que me trouxe aqui é particular.
—Ah, entendi. Desculpa.
—Não foi nada. Obrigado pela informação. Tchau.
—Tchau.
Sem mais, o filho de Deus sai do estabelecimento, volta a caminhar nas ruas e segue as orientações de Pâmela.Com cinco minutos já chega ao destino, um casebre baixo, feito de pau a pique cheio de rachaduras nos seus quatro metros de largura com seis de comprimento e dois de altura. Com alguns passos, encosta na porta e neste instante o seu coração acelera. O que o esperava? Sua intuição se confirmaria ou estaria diante de uma nova frustração? Estariam em casa? Estas e outras indagações passaram velozes por sua mente e só seriam resolvidas no momento em que tomasse coragem e batesse. E é exatamente o que nosso augusto personagem o faz com firmeza. Bate uma, duas, três vezes. Na última tentativa é que houve arrastar de chinelos. Alguém se aproximava.
Um instante depois, a porta se abre e de dentro dela surge um ancião de cor branca, sessenta anos aproximadamente, estatura média, corpo musculoso, mas normal, cabelos brancos sem tingimento, feições bonitas, mas enrugadas pelo tempo, usava calção largo, sandálias tipo praia e camisa de malha. Ao deparar-se com o filho de Deus lança um olhar misterioso e indaga:
—Quem é o senhor? O que procura?
—Meu nome é Aldivan Teixeira Tôrres e procuro um jovem chamado Emanuel. Ele mora aqui?
—Aldivan? Ah, sim. Emanuel é meu filho e ele o mencionou em uma conversa. Desculpe o jeito. Entre. A casa é simples, mas está sempre aberta para os amigos do meu filho.
—Obrigado. Licença.
Aldivan entra no casebre acompanhado do anfitrião. Interiormente, o barraco resumia-se a um vão único onde estavam espalhados uma estante com televisão, rádio e algumas imagens de santos. No começo do lado direito, uma poltrona velha de cinco lugares. No lado esquerdo, bem no centro, uma mesa simples com três tamboretes dispostos ao redor. No lado direito, ao final, duas camas de vara com colchão de capim, e no lado esquerdo, um fogão alimentado por carvão onde estavam várias panelas.
O anfitrião oferece um tamborete ao visitante e com bom grado o mesmo aceita. Como ainda estava cheio de dúvidas, Aldivan entra em contato novamente.
— Qual é o nome do Senhor?
—Messias Escapuleto.Minha família é de origem italiana.
—Ahan, que legal. E o Emanuel? Onde está?
—Está trabalhando, mas em breve chega. Olha, você poderia me dar licença? Estou com uma panela no fogo e tenho que cuidar senão a comida queima.
—Claro, à vontade.
Messias afasta-se por um momento. É o suficiente para o filho de Deus dar uma espiada melhor em volta. O que vê era a realidade de ainda muitos brasileiros que viviam na extrema miséria e isto aumenta mais a admiração por aqueles personagens. O fato de serem pobres não queria dizer que não se esforçassem por ter uma vida melhor pelo pouco que conhecia deles.
Um instante depois, Messias volta do que seria a cozinha com o intuito de fazer companhia à visita após terminar de preparar o almoço. Senta num tamborete ao seu lado e com gentileza retoma a conversa.
—Você é de onde mesmo?
—Sou natural de Arcoverde-PE e o senhor?
—Como disse minha família provém da Itália, região da Sicília. Após uma recessão em seu país meu avô e minha avó migraram para cá em busca de melhores condições de vida. Fixaram inicialmente residência no Sudeste, no interior de São Paulo. Prosperaram com o cultivo de café, mas após graves desentendimentos por lá tiveram que fugir e o destino escolhido foi o Nordeste. Herdei este barraco dos mesmos.
—Caramba! Quanta história! Você deve sentir orgulho.
—Sim. Tenho orgulho de ser honesto, íntegro e dedicado. O resto não me importa.
—Eu também. Somos parecidos.
Os olhos de seu Messias brilham pois algo estranho estava acontecendo: uma estranha química entre os dois apesar de não se conhecerem. Antes que voltassem a conversar, alguém bate à porta, ele pede licença e vai atender. Ao abrir a porta, depara-se com seu filho e juntos adentram no casebre.
Ao perceber a presença de Aldivan, Emanuel vai imediatamente cumprimentá-lo com um grande abraço. O vidente retribui o carinho. Seu Messias intervém:
—Vamos almoçar que a comida está esfriando.
Aldivan e Emanuel concordam. Estavam realmente sedentos de fome e não podiam mais esperar. Atendendo a convocação do chefe da casa, pegam seus tamboretes e os colocam à beira da mesa. Enquanto isso, Messias vai buscar a comida que estava em cima do fogão.
Em questão de segundos, ele volta e começa a servi-los. O cardápio era feijão com farinha, arroz e ovos estrelados e ninguém reclama. Pior era ficar com fome. Ao final, ele também se serve, senta-se à mesa e juntos os três começam a alimentar-se. O ambiente era propício ao triálogo e é isto que ocorre momentos depois.
—O que está achando do nosso querido povoado? (Emanuel)
—Muito simpático. Gosto do ar puro do campo e da tranquilidade. (O filho de Deus)
—Que bom. Eu pedi para que viesse aqui pela nossa proposta: O de escrever uma nova série instigante. (Emanuel)
—Sim. Qual sua ideia? (O filho de Deus)
—Sua presença é importante. Quero que me ajude a convencer a meu pai a revelar-se. (Emanuel)
—Como assim? O que esconde seu Messias? (Interessou-se o filho de Deus)
—Bobagens desse garoto. Não ligue. (Tentou esquivar-se o velho)
—Bobagens? E o que são aquelas luzes que espargem sobre o seu corpo á noite? E o fato de nunca ter conhecido minha mãe ou até mesmo o porquê de você nunca avançar na idade? (Replicou Emanuel)
—Como assim? (Espantou-se o vidente)
—É o que eu disse. Desde que eu era pequeno o conheci do jeito que ele é hoje. Pode falar, pai. Ele é o filho de Deus, digno de confiança. (Pediu Emanuel)
Messias enrubesce. Em sua longa vida nunca alguém o colocara contra a parede daquela forma. Será que estava