— Eu ainda tenho meu trabalho para fazer — Ryan insistiu teimoso. — Eu não vou parar no meio. Eu tenho que descobrir por que... — E ele parou.
— Por que ficamos loucos? — Bael terminou para ele. — Do meu ponto de vista, é por que ficamos sãos. A resposta está toda ao seu redor, se você simplesmente parar para procurá-la. Os outros companheiros e eu próprio estamos provavelmente te distraindo. Talvez ajude se você ficar sozinho por um tempo. Pessoal, vamos deixar o Jeff aqui um pouco. Lembre-se, Jeff, se você quiser falar com qualquer pessoa, é só dar um toque. Alguém vai te ouvir.
Bael e os outros começaram a sair casualmente, conversando e rindo entre si. Era como se Ryan tivesse deixado de existir de repente para eles. Em menos de um minuto, todos tinham desaparecido. O silêncio sufocante retornou mais uma vez, deixando Ryan sentado no meio de uma cidade aparentemente deserta.
O explorador alcançou rapidamente seu comunicador e expeliu um relatório desesperado para a nave lá em cima. Ele estava esperando por conselhos, mas a nave simplesmente reconheceu a mensagem laconicamente, dizendo a ele para se manter cauteloso e desligou.
Não foi até ele se levantar de novo que viu a garota.
***
Ele a encarou por um longo momento, incapaz de dizer qualquer coisa.
A garota não era como os outros. — Olá, Jeff — ela disse em tom suave. — Se lembra de mim?
Se lembrar dela? Como ele poderia esquecer Dorothy, a garota de sua primeira vez? Dorothy, com seus seios pequenos, mas femininos, sua risada doce, com seu quente desejo em dar prazer...
— Você não existe — Ryan afirmou categoricamente. — Você não é real.
Dorothy pôs a cabeça daquele jeito só dela quando ele dizia alguma coisa que ela não entendia. — Não sou?
—Não estou no clima para brincar de perguntas e respostas. Primeiro Bael, agora você. Seja o que você for, você não é Dorothy. Ela está a cem parsecs de distância, ela é casada e tem três filhos. Você não é nada mais que uma fraude. Vá embora.
Dorothy apenas olhou para os pés dela e não se moveu. — Você não me ama mais.
— Olha, — Ryan disse — vou admitir que você é uma farsa inteligente. O problema é que sei que você não é real. Não é culpa sua... você tentou.
— Não sou real? — Dorothy olhou para cima, seus olhos vermelhos e marejados, sua voz hesitante. — Você pode me ver e ouvir, não pode? Se você chegasse um pouco mais perto, poderia sentir o cheiro do meu perfume. Se você se esticasse, me tocaria. Se você me morder, vai sentir meu gosto. O quão mais real posso ser?— A súplica dela beirava à histeria.
Ryan hesitou. Ela deve ser uma alucinação. Não havia dúvidas quanto a isso. O oficial bem treinado nele queria alcançar o comunicador no bolso. Mas o homem dizia não. E uma terceira parte da mente dele continuava repetindo: — Você é um tolo. — Mas qual parte era o tolo? Ele não podia amar um produto de sua própria imaginação que de alguma forma tinha se materializado ante dele. Essa Dorothy era fria, irreal, um produto sombra de uma cidade misteriosa.
E de repente ela estava nos braços dele, bem real, bem viva. O rosto dela virou para cima, procurando o dele. Seus pequenos seios se esmagaram contra ele, as coxas pressionaram as ondulações dele, excitando-o. Ryan tentou resistir, tentando dizer a si mesmo que isso não estava acontecendo. Ele teve suas escolhas de mentiras, mas a Dorothy em seus braços era tão convincente. A mão esquerda dela acariciava o lado esquerdo da cabeça dele. A mão direita dela bagunçou avidamente os botões da túnica dele. A boca dela, pressionada na dele, abriu e para fora saiu a pequena e firme língua para passar a ponta nos dentes dele.
Já não era possível ter alguma dúvida. Ao inferno com a lógica! Isto era real. Isto não era nenhum delírio da mente dele, mas algo genuíno de carne e sangue. Ele nadou em um mar de sensações. Os dois caíram no chão, que de alguma forma parecia se tornar resiliente e emborrachado. Mas a mente dele não teve a chance de se preocupar com isso, pois o corpo dele se recusava. A razão murchou ante a paixão, como tinha feito por séculos.
De fato, ele estava tão absorto que ainda não tinha notado o zumbido insistente de seu comunicador.
***
Mais tarde, Dorothy se levantou novamente. — Eu preciso ir — ela falou.
— Deve mesmo?
Ela assentiu. — Mas eu voltarei a qualquer momento que você precisar de mim. Só me chame. E eu saberei. — E assim ela se foi.
Ryan ficou deitado lá de costas, olhando para o céu. Era bem mais fraco do que tinha sido antes, e não doeu tanto aos olhos dele. Deve ser final de tarde. Em poucos minutos, ele iria se levantar e continuar sua inspeção, mas agora estava muito saciado para se mover. Até piscar o olho parecia um esforço gigantesco...
— Se divertindo?— Perguntou uma voz familiar.
Ryan virou a cabeça bruscamente para ver Bael a alguns metros de distância, de pé, sorrindo para ele. Um jato de culpa, vergonha e indignação o colocou de pé. — O que você está fazendo me espiando?
— Não estou — Bael disse, e seu sorriso alargou-se. — Eu estava apenas pelos arredores e pensei em dar uma passada. E além do mais, eu poderia te perguntar o mesmo, exceto que eu sei a resposta.
Ryan não tinha certeza o que o enfurecia mais -- o jeito de Bael ou a sua própria inadequação em suportar esse desertor. Antes de ele conseguir pensar em alguma coisa para dizer, Bael continuou: — Suponho que era sexo.
A expressão de Ryan o traiu. — Pensei que fosse — Bael assentiu com sabedoria. — Isso parece ser o que nós, solitários exploradores, mais precisamos. É a única coisa que o computador da nave não pode nos dar. A cidade sabe, Jeff. Não importa o quanto você tenta esconder algo em sua mente, a cidade sabe.
— Você acredita mesmo que ela está viva. — Não era uma pergunta.
— Não sei. Depende o que você chama de viva. Se quer dizer que vive e respira, duvido. Se você quer dizer consciente e ciente do que está acontecendo, sim, definitivamente.
— Mas como --
—Você vai continuar fazendo essas perguntas infernais? — Só por um momento, a máscara exterior de Bael rachou e permitiu a Ryan um breve vislumbre de insegurança sob a superfície. Então a suavidade retornou e Bael voltou ao seu casual e desprendido eu. — Só aceite isto pelo o que é, Jeff. Esta cidade pode te dar seus sonhos. Ela quer ajudá-lo. Não sei como o faz; não me importo. Seus construtores fizeram-na desta forma, isso é o suficiente para mim.
— E onde estão eles agora? Os construtores. O que aconteceu com eles?
Ele estava tentando ver se conseguia quebrar a compostura de Bael novamente, mas desta vez ele falhou. — Não sei. Eles provavelmente foram para coisas maiores e melhores. De alguma forma é uma pena porque eu realmente gostaria de agradecê-los.
— Agradecê-los pelo o quê?— Ryan perguntou cinicamente. — Por te transformar em um vegetal? Você só senta por aí e deixa a cidade fazer tudo por você, certo? Esquece sobre ser um homem e se torna um errante --
— Você é alguma coisa além de um homem, Jeff?— Bael respondeu, e qualquer tensão que estava nele se aproximava da superfície. — Quem é a marionete por aqui? Quem é que salta sempre que Java-10 puxa a corda? Quem não pode suportar estar longe de sua unidade por mais de alguns segundos? Qual de nós está nesta cidade porque está sob ordens, e qual de nós anda por aí como bem entende?
— Você costumava ser um bom oficial, Bael — Ryan disse calmamente. Por um momento, pelo menos, os papéis foram invertidos - Bael estava no limite e Ryan estava tranquilo.
— Claro, eu costumava