E pela manhã, a minha mãe, do paladar daquele silêncio delongo, e com a voz a nascer de uma nota musical, tocou-me:
– Tino, acorda, levanta-te, homem. São seis da manhã. É teu primeiro dia, precisas de chegar mais cedo à escola.
– Obrigado, mãe.
– Então, filho, como tu passaste a noite?
– Ansioso com o meu primeiro dia de aula na escola. E você, Mamusca, como está?
– Graças a Deus passei bem cassule. Seu pai disse-me que ontem chegaste tarde… filho…meu primogênito, não cresças tão rápido. Pare de sair ou vir a casa fora do horário. O mundo é grande e tu não precisas de pegar tudo o que tem nele.
– Mas, mãe, estive ontem com o Batinho, peço desculpas, não vai voltar a acontecer. Eu prometo.
– Eu sei que sim, meu filho. Tu alegraste meu coração quando nasceste. Eras tão pequeno que pensei que alguma coisa mal haveria de acontecer. Orei a Deus para que me devolvesse a ti. Eras tão pequeno e escondido do mundo. Agora que cresceste, filho, por favor, cuida da tua vida por mim. Na rua ou na escola, lá a onde eu não te poder proteger ou cuidar, por favor, ajuda-me a cuidar de ti.
– Está bem, mãe. Não precisas de ficar triste, mãezinha. E quer saber?
– O que filho?
– Eu amo-te, Mamusca.
– Eu também te amo, meu bonequinho lindo… bujujo da mamãe.
– Mãe!? Eu já não sou bebê…
– Rsrs, está bem, meu filho.
– Mas o café já está na mesa? Perguntou o Sr. Américo, pai do Tino.
– Mãe, o pai quer saber se o café está pronto.
– Está sim, amor. Respondeu a minha mãe com uma voz alta e acresceu: “filho, vai lá, faz companhia ao teu pai na mesa.
– Mãe, eu não posso tomar café.
– Eu sei, filho. Para ti, há leite e fiambre na geladeira.
– Está bem, mãe.
– Agora vai, antes que esfrie.
– Está bem, mãe. Pai, dás-me uma carona?
– Claro filho, coma calmamente, que eu te espero, ok?
– Está bem, pai.
O Tino levantou-se, despediu-se da mãe e dos irmãos e aproveitou a boleia do Sr. Américo. Pela estrada, vários feixes de pensamentos cruzaram as ideias do Tino. A conversa com o pai no dia anterior, a confusão provocada pelo Marquitos, o pastor na igreja, o vizinho que pedia ajuda, a música que tocava pelo rádio no carro etc. Mas dentre todos eles, o pensamento que mais governava a sua atenção naquele momento foi o de Santa.
A distância não diminui a importância. És especial. No claustro do salão dos meus pensamentos, no lugar mais claro perguntei-me: Como alguém pode provocar tantos sentimentos mesmo estando longe? Por que você teve que morar tão longe e viver tão dentro de mim? O tempo me alistou a fila de espera à um diagnóstico conclusivo, depois de tão longos e dolorosos exames. O conclusivo diagnóstico deu positivo a “deepfeeling in Love”. Feliz ou infelizmente, estudos revelam que em 100 pessoas afectadas, apenas 10 % delas vivem a felicidade como resultado do mesmo vírus e 90 % delas são infelizes por não haver compatibilidade. Nesse momento, considero-me objecto de estudo dessa pesquisa. Estou tecnicamente infectado de paixão e você pressupõe o antídoto Sanguita. E para sempre é muito tempo, mas eu não me importaria de passar ao seu lado… a eternidade. Acabei de provar que de longe também se ama, pois o verdadeiro amor é uma opção consciente e livre do medo e do fracasso. Ficar longe de ti, está cada dia mais insuportável. A distância nos impede de beijar, abraçar, mas nunca de amar. Para alguns, amar é uma perda de tempo. Para mim, é um dos tipos de sentimentos mais sincero que existe. Isso se houver uma tipologia no amor. E nunca alguém vai entender como um certo tipo se apaixonou por alguém telepaticamente. Mas a distância não impediu que eu te amasse. A distância é grande, mas o sentimento é, sem nenhum revés, maior. Santa, será que estarei eu a pedir demais ter-te comigo? Seria perigoso demais se acreditássemos no facto de um destino existir para nós? Não te vou dizer que seja fácil. Mas eu prometi esperar-te. És o claro na escuridão, o branco no preto, o candelabro no escuro, a esperança na guerra, és a mais perfeita mulher que os meus olhos acharam entre as mulheres, a pesar de mil defeitos. Queria saber qual é a sensação de ter quem eu mais amo do meu lado. Aceitas namorar comigo?…Meu Deus, e se ela disser não!? E se ela disser que já tem namorado e por isso não vai dar? Meu Deus, ajuda-me, o que farei então? Que palavras seguiriam a minha língua para traduzir o que realmente quero? E que palavras me seriam amistosas agora para dizer a ela o quanto a quero do meu lado?
Surpreendentemente, uma voz aproximou-se interrompendo a catarse dos meus pensamentos. Era, no entanto, a voz do meu pai a chamar-me.
– Tino….
– Tino….
– Tino….
Papai gritou, Tino…
– Pai. Desculpa, estava a pensar alto.
– Oh filho, então,