Queridos estudantes, minhas senhoras e meus senhores, quando falamos das interrogações, falamos da problematização da vida em face da morte. E logo, perceberão, durante a leitura, que Alberto não cessa de verbalizar o absurdo da mortalidade, tal como ela é expressa no sacrifício de Cristina, a criança loura que tocava Chopin divinamente, sugerindo através da música uma autonomia da realidade humana. Todavia, é exactamente através da morte de Cristina que se torna possível a exaltação integral da condição humana desde as suas raízes mortais – a sua aparição.
A professora, olhando atentamente para os alunos, disse:
– Minhas senhoras e meus senhores, sejam bem-vindos ao mercado da vida. Aí onde a dor e lágrima são sacrificadas para a ressurreição da felicidade. Nas minhas aulas, é imperioso que tragam convosco o livro que será o nosso objeto de estudo, a gramática do Português Moderno que será a nossa ferramenta indispensável, o meio através do qual estudaremos morfológica e sintaticamente a natureza das palavras que foram convidados a construir o livro “Aparição”, e, sem vos esquecerdes, por favor, do Dicionário. Vós, no entanto, sereis autores das vossas notas. Haverá encenação dos personagens em forma de teatro e trabalharão arduamente nos textos. Esses exercícios bem feitos e mais outros que adiante actualizarei, determinarão a vossa passagem de ano. Sendo assim, está aberto o ano académico na disciplina de Português. Há alguma pergunta?
– Sim, professora. – Disse o Francisco.
– Diga Francisco.
– Onde encontraremos o material e quanto custa?
– Na secretaria do colégio, e os custos variam desde quatro mil a três mil kwanzas ou, contactar, por favor, o Padre Carlos. E mais alguma pergunta? Está bem, então, nada mais havendo, dou por terminada a nossa aula de hoje. Até a próxima.
– Até a próxima, Senhora Professora. Responderam os estudantes, entusiasticamente.
Era a hora do intervalo. A aula de português dividia opiniões entre os estudantes. Como isso seria feito? Perguntavam-se. Outros ainda aplaudiam a competência comunicativa e gramatical da nova professora. Ela é uma excelente professora. – Disse o Angelino ao Tino.
– Afor tior. – Respondeu o Tino.
– Vamos à cantina?
– Estou sem dinheiro, a não ser que me pagues uma sandes hoje.
– Está bem, eu pago. “Ars Longa Vita Brevis”. – Disse o Marcos ao Tino.
Ao descerem as escadas, Marcos avistou a Santa e disse:
– Tino, olha quem está na cantina.
– A sério?! Eu não vou. Vamos mais tarde. Respondeu o Tino com um ar medonho.
– Fica calmo, seu medroso, seja homem.
– Está tudo bem.
Naquele dia, apesar de todos os planos de tentativa de poder se aproximar e declarar-se, Tino não conseguiu. A timidez abraçou-o e não conseguiu sequer falar com ela e o dia foi passando e passando, e já era meio-dia, hora de sair da escola para a casa.
A cobardia é o inimigo da coragem quando a felicidade nos convida a passar pela ponte da dor. E naquele dia, mais uma vez o Tino não conseguiu falar com ela. Triste e interiormente solitário sentiu-se réu das suas próprias dúvidas e condenado pela sua própria consciência e pelo seu próprio medo; eu sou um fracasso dizia ele. E desesperado dizia; eu sou um aaaa obviamente eu não sei quem eu sou.
Por conseguinte, e já de saída da escola, o telefone chama.
– Aló, mestre.
– Sim, Tino, onde estás?
– Estou a descer a rua da Sé Catedral em direcção à oficina.
– Estamos a tua espera porque há aqui um cliente. De momento, vou ausentar-me, mas assim que chegares, dê um jeitinho.
– Está bem, mestre.
Os dias eram difíceis e Tino além de estudante, era mecânico de geradores domésticos, numa oficina no bairro do São João popular. Na verdade, todos os seus amigos eram mecânicos e trabalhavam juntos, com excepção de Marquitos que embora também o fosse, a oficina onde trabalhava era diferente. Todos os dias ao meio-dia, era uma obrigação Tino aparecer na oficina para reparar geradores. O tipo era um médico de geradores.
– Boa tarde, colegas.
– Boa tarde, Tibox. Respondeu o Vavá, um dos seus colegas e acrescentou:
– O Sr. Miguel está cá a reclamar da prontidão do seu gerador e nós dissemos que apenas você autorizaria a saída do gerador pelo facto de o ter reparado. E isso se está mesmo reparado. E o mestre saiu. Foi ver uma obra e disse para tomar as devidas decisões de negócio com o Sr.Miguel.
– Está bem, Vavá.
– Então, Sr. Miguel, boa tarde.
– Boa tarde, Tibox.
– Sr. Miguel, o seu gerador está pronto, fiz as devidas alterações. Inicialmente pelo estator e o induzido queimado, trocámos por outro. Trocámos a anilha do carburador, o condensador também queimou e troquei-o por outro.
– Está bem, está bem…só me diga quanto eu devo pagar e prontos. Disse o Sr. Miguel.
– Seis mil Kwanzas pelas peças substituídas e mil e quinhentos pela mão-de-obra. Ao total sete mil e quinhentos.
– Está bem, aqui tens. E posso levá-lo, agora?
– Pode, sim, à vontade, senhor.
– Está bem. Obrigado pelo serviço.
– Nada por isso, Sr. Miguel e volte sempre.
Era um dia de sol, naquela tarde de segund. – feira, e no trabalho do Sr. Américo as coisas iam calmamente.
– Chefe, como foi o almoço? Perguntou o Sr. Américo, pai do Tino ao Sr. Rafael, pai de Batinho.
– Foi óptimo, o almoço… a Petisco Gigi hoje ofereceu um prato novo à disposição dos seus clientes. É uma comida portuguesa, um tal framboesa… E advinha quem esteve hoje como convidado no restaurante a cantar.
– Bessa Teixeira? Perguntou o Sr. Américo.
– Não. Ela nasceu cá, mas vive na capital. Suas músicas têm sido um referencial angolano… vai lá, tu consegues Américo.
– Hammm, ok, Pérola?
– Positivo. Ela esteve deslumbrante hoje. Música ao vivo, comida boa e saúde boa e devias ter ido, certamente não te arrependerias. Isso eu posso assegurar-lhe.
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