Deo a morte a Heitor Troiano;
Mas agora a fome mata
O nosso Heitor Lusitano.
Só ella o póde acabar,
Se essa vossa condição
Liberal e singular
Não mete entr'elles bastão,
Bastante para o fartar.
Não posso chegar ao cabo
De tamanho desarranjo,
Que sendo vós, Senhora, Anjo,
Vos queira tanto o Diabo.
Dais manifesto sinal
De minha muita firmeza,
Que os diabos querem mal
Aos Anjos por natureza.
Vi chorar huns claros olhos,
Quando delles me partia.
Oh que mágoa! Oh que alegria!
Polo meu apartamento
Se arrazárão todos d'ágoa.
Quem cuidou qu'em tanta mágoa
Achasse contentamento?
Julgue todo entendimento
Qual mais sentir se devia,
Se esta dor, se esta alegria?
Quando mais perdido estive,
Então deo a est'alma minha
Na maior mágoa que tinha,
O maior gôsto que tive.
Assi, se minha alma vive,
Foi porque me defendia
Desta dor esta alegria?
O bem, que Amor me não deu
No tempo que desejei,
Quando delle me apartei,
Me confessou, qu'era meu.
Agora que farei eu,
Se a fortuna me desvia
De lograr esta alegria?
Não sei se foi enganado,
Pois me tinha defendido
Das íras de mal querido,
No mal de ser apartado.
Agora peno dobrado,
Achando no fim do dia
O princípio da alegria.
Deos te salve, Vasco amigo.
Não me fallas? Como assi?
Bofé, Gil, não 'stava aqui.
Pois onde te hão de fallar,
Se não 'stás onde appareces?
Se Magdanela conheces,
Nella me pódes achar.
E como te hão d'ir buscar
Aonde fogem de ti?
Pois nem eu estou em mi.
Porque te não acharei
Em ti, como em Magdanela?
Porque me fui perder nella
O dia que me ganhei.
Quem tão bem falla, não sei
Como anda fóra de si.
Ella falla dentro em mi.
Como estás aqui presente,
Se lá tens a alma e a vida?
Porqu'he d'hum'alma perdida
Apparecer sempre á gente.
Se es morto, bem se consente
Que todos fujão de ti.
Eu tambem fujo de mi.
Porque no miras, Giraldo,
Mi zampoña como suena?
Porque no me mira Elena.
Vuelve acá, no estês pasmado,
Mira que gentil sonar!
Como te podrá mirar
Quien no puede ser mirado?
Y que bueno enamorado!
No dirás, si es mala, o buena?
No, que me hizo mudo Elena.
Mira tan dulce armonía,
Déjate dessos enojos.
Tengo clavados los ojos
Con que mirar te podia.
Ansí Dios te dé alegría:
No vés cuan dulce que suena?
No, porque no veo Elena.
Crescem, Camilla, os abrolhos
De chorares por Cincero:
Não he muito, que lhe quero,
Belisa, mais que meus olhos.
Sempre os teus olhos estão,
Camilla, d'ágoas banhados.
De se verem desamados
Póde ser que chorarão.
Si, mas crescem os abrolhos,
E tu cegas por Cincero.
S'eu não vejo quem mais quero,
Para que quero mais olhos?
Se se foi ha mais d'hum mês,
Teus olhos não cansarão?
Não, que apos elle se vão
Estas lagrimas que vês.
Fazem logo estes abrolhos
O mato espinhoso e fero.
Pois eu não vejo a Cincero,
Isso só verão meus olhos.
Chorando queres morrer?
Mais quero viver chorando.
Tu não vês que vás cegando?
Se cego, como hei de ver?
Põe na vista outros antolhos.
Não posso, nem menos quero.
Outra para outro Cincero,
Antes não quero ter olhos.
Olhos, em qu'estão mil flores,
E com tanta graça olhais,
Que parece que os Amores
Morão onde vós morais.
Vem-se rosas e boninas,
Olhos, nesse vosso ver;
Vem-se mil almas arder
No fogo dessas meninas.
E di-lo-hão minhas dores,
Meus suspiros e meus ais;
E dirão mais, que os amores
Morão onde vós morais.
Quem