Alguém invadira o local. Outra vez.
A náusea tomou conta dele, e ele deu um passo um pouco mais rápido. Ellie começou a correr, deixando escapar um xingamento baixo sob a respiração. Após a incursão de ontem, ele deveria ter previsto tal resultado. Afinal, James Blair e seus capangas não pareciam ser criminosos aleatórios, mas uma gangue organizada. Eles teriam um arrombador capaz de superar os mecanismos de segurança de Theo, e estariam bem acostumados a invadir instalações.
Quando ele deu um passo para a entrada, estremeceu.
As poções exibidas haviam sido espalhadas, algumas garrafas estavam quebradas no chão, o líquido escorrendo para a madeira dura. A balança estava inclinada para o lado, camomila e lavanda perdidas espalhadas pelo balcão dos fundos. As luminárias estavam quebradas, e a pequena escrivaninha no canto mostrava um grande amassado na superfície. Ele deixara a caixa registradora vazia, então pelo menos não puderam roubar o dinheiro, mas ainda assim. Substituir o estoque e consertar a loja demandaria tempo e dinheiro que ele não tinha.
Ele engoliu seco.
Ellie pisou forte pelo lugar, o olhar brilhando, e um fluxo constante de xingamentos voando de sua boca.
— Por que uma gangue viria atrás de você, Nate? — Ellie perguntou, o olhar fixo nele. — A fechadura que Theo instalou afastaria qualquer um de baixo escalão, e eu já bati vitrines o suficiente para reconhecer uma mensagem de gangue quando vejo uma.
Ele caminhou até o balcão, os passos instáveis enquanto ele se encostava nele para se manter de pé. Nate correu os dedos pelos cabelos como se alisando as mechas ele pudesse ter esperança de remontar sua loja.
— Ontem… — ele começou, antes que a enormidade da tarefa à sua frente brotasse como a maré alta. Nate fez uma pausa para se recompor antes de continuar. — Ofereci um esconderijo para uma garota em fuga. Eles não a encontraram aqui, mas talvez não os tenhamos enganado tanto quanto eu acreditava.
— De quem ela estava fugindo? — Ellie perguntou, a voz cortante. Se alguém conhecia as gangues da cidade, era a prima.
— Jack Blair. — respondeu Nate, flexionando a mão e fechando-a em punho, uma e outra e outra vez.
Quando ele olhou para cima, o queixo de Ellie estava caído.
— Ela é a razão para perguntar do Águia de Ferro? — Ellie perguntou, reavendo a compostura. Nate assentiu, e ela franziu a testa, um olhar severo no rosto. — Nate, quando Jack Blair o coloca na mira, ele não para. Sei disso por experiência própria.
Ele olhou para cima, incapaz de reprimir o desamparo que tomou conta dele. Tudo o que ele queria era recomeçar em paz e anonimato.
— O que posso fazer?
Ellie bateu com o punho na bancada.
— Pode encontrar sua amiga no Águia de Ferro e descobrir o máximo possível da operação atual de Jack Blair. Ele esteve entocado por um período, mas Theo e eu sabíamos que ele sairia dos escombros, cedo ou tarde. Sei em primeira mão o quão perigoso ele pode ser.
Nate respirou fundo, trêmulo, deixando que tudo o atravessasse. Ele não perdeu o brilho nos olhos de Ellie, ou como o olhar dela escureceu. Qualquer incursão que ela e Jack Blair compartilharam foi de uma variedade pessoal duradoura.
— Perigo não é o que estou procurando aqui. — Nate murmurou. Essa era a última coisa de que ele precisava, atrair a atenção desse tal de Jack Blair.
Ellie colocou as mãos nos quadris.
— Covardes não duram muito nessas ruas, primo. — ela o encarou com um olhar penetrante. — E se os homens de Blair já o têm na mira, precisa confiar em mim, ele não vai parar.
O coração de Nate bateu mais forte com a seriedade nos olhos de Ellie.
— Qual é a história entre vocês três?
Ela franziu os lábios como se pensasse no quanto oferecer.
— Theo teve que levar um exército mecânico para me tirar do porão que ele me prendeu. Acontece que ele não gosta de ninguém cruzando seu território.
A tensão na voz dela, o ligeiro engate ao tentar manter a leveza, denunciava-a. O que quer que Jack Blair tenha feito com ela, deve ter traumatizado a prima. Desconforto o atravessou ante a ideia de apenas ignorar isso. Ele poderia, ao menos, ir a este encontro para tentar obter algumas informações, para o bem deles.
— Irei. — ele murmurou.
Ellie levou a mão ao ombro dele e apertou.
— Não está sozinho nisso, Nate. Encontraremos uma maneira de derrubar Jack Blair antes que isso piore.
Se ao menos ele acreditasse nisso.
Capítulo Quatro
Belle não costumava frequentar bares como o Águia de Ferro, mas seus covis habituais de iniquidade seriam área proibida enquanto os homens de Blair vasculhassem a cidade buscando-a.
Lâmpadas fracas piscavam, emitiam uma luz suave e misteriosa por todo o bar que refletiu em todas as superfícies metálicas. Detalhes de ferro decoravam todo o lugar, desde a bancada polida até os bancos de metal. Mesas redondas prateadas ocupavam o resto do espaço aberto, cadeiras de metal frágil em torno delas. Ela escolheu e se sentou no canto mais distante, o melhor ponto de observação para estudar cada ocioso que passava pela porta.
Belle se recostou no assento e esperou que a garçonete viesse para pedir uma cerveja. Ela considerou pegar duas, mas não estava convencida de que o atraente dono da loja de ontem faria uma aparição. Um homem polido como ele não perderia mais tempo com uma criminosa como ela.
Mesmo que ela nunca tivesse tido escolha no assunto.
Talvez se ela roubasse mais algumas bolsas, poderia juntar o suficiente para escapar. Afinal, havia poucos lugares na cidade para se evitar Jack Blair e seus capangas, e quanto mais esse jogo de gato e rato se estendia, mais limitadas se tornavam as rotas de fuga.
Tagarelice borbulhava pelo lugar pelas dezenas de sujeitos enfileirados nos bar e os trabalhadores amontoados ao redor das mesas. Todos pareciam estar fumegando após os turnos nas fábricas. Trabalho honesto nunca foi uma opção para ela, não quando foi vendida para trabalhar para Blair.
A porta se abriu, e Nate Whitfield entrou.
O homem caminhava com passos rápidos, todo cavalheiro em seus sapatos engraxados, uma sobrecasaca cinza-aço combinando com calças de cintura alta e uma gravata vermelha escura em volta do pescoço. Ele não parecia pertencer à sujeira de Islington, nem mesmo à classe trabalhadora manchada de fuligem reunida neste bar. Vários olhares seguiram o caminho trilhado por ele ao serpentear pelas cadeiras e mesas em direção a ela.
Assim que os olhares dos dois se encontraram, um rubor subiu às bochechas dela.
Ela nunca cruzara com esse tipo de beleza: suave de uma forma que ninguém ao longo dessas ruas poderia se dar ao luxo de ser. Com os cabelos escuros despenteados e olhos expressivos, ela o considerou fascinante desde o momento em que entrou na loja dele, e muito bonito. No entanto, homens bonitos nunca a haviam encantado. A maneira como ele se comportou na loja; como ofereceu refúgio, como não pressionou ou exigiu nada ao final, ela nunca encontrou um homem assim.
Ele inclinou a cabeça em um aceno quando se aproximou, tirando a cartola e sentando-se em frente a ela.
— Estou aqui para reclamar a bebida que me prometeu.
A garçonete se aproximou, e Belle pediu duas canecas. Ela não perdeu como o olhar da mulher se demorou na companhia dela. Não que ela pudesse culpá-la.
— Para ser honesta, estou surpresa que tenha aparecido. — ela murmurou. — Nem sempre alguém quer me ver, ainda mais após eu ter levado problemas a