Jace foi até a cama e sentou-se ao lado de Cailyn, que estava longe de ter paz em seu sono. Ele pressionou os dedos no pulso dela e notou que o ritmo ainda estava acelerado. Levantando as cobertas, viu que a tala e as ataduras estavam bem ajustadas em torno da perna quebrada. Os hematomas e o inchaço aumentavam acima da bandagem. Sua capacidade de cura não resultou em nada, a não ser desencadear o feitiço daquela maldita fada. Seu polegar percorreu o pulso dela; em seguida, um ruído fez com que ele olhasse para o rosto dela. Ela se mexeu e as pálpebras se abriram.
— Oi, linda – murmurou ele.
[bad img format]
* * *
— Ei – resmungou Cailyn, engolindo em seco, tentando molhar a garganta ressecada. Sentia-se muito mais velha do que seus vinte e nove anos. – Preciso de um pouco de água – gemeu, tentando se sentar e alcançar o copo na mesa de cabeceira. Jace já estava ali, ajudando assim que ela esticou o braço.
— Deixe-me pegar. Você não pode se mover muito. Aqui, vamos deixá-la mais confortável – falou, enquanto empilhava travesseiros sob as costas dela. O braço dele passou por suas costas e Cailyn se inclinou no calor do peito dele, inalando o perfume masculino. Ele tinha cheiro de uma tempestade, forte e potente.
Em vez de se encostar nos travesseiros, ela permaneceu aninhada ao lado dele. Ela o sentiu enrijecer antes de relaxar, então retirou o braço e pegou um copo d'água para ela. Ele colocou o copo nos lábios dela.
— Obrigada – sussurrou ela, entre goles.
— Não beba demais. Não quero que você passe mal. Como está se sentindo? – perguntou ele enquanto passava a mão pela cabeça e pelo braço dela. Ela gostava um pouco demais da sensação do toque dele.
— Sinto como se tivesse sido atingida por uma bola de demolição algumas dezenas de vezes. Posso tomar um pouco de ibuprofeno para essa dor de cabeça?
— Deixe-me examiná-la primeiro. Preciso ter certeza de que não causaria mais danos do que benefícios. Vou desenfaixar sua perna e isso vai doer, mas quero ter certeza de que está estável – respondeu ele, enquanto se inclinava para trás e pegava uma caneta-lanterna da mesa de cabeceira.
Ela imediatamente sentiu falta do calor dele. Estar perto dele parecia natural e certo, como se ela pertencesse àquele lugar. Aparentemente, a dor a deixara sentimental.
Ele mudou de posição para ficar totalmente de frente para ela. Uma luz brilhante cintilou em seus olhos, fazendo-a estremecer e fechá-los com força.
— Argh, isso dói como o inferno – reclamou ela enquanto sua cabeça explodia e estrelas piscavam por trás das pálpebras fechadas.
Ela entreabriu os olhos quando a luz diminuiu de intensidade e notou que as belas feições dele estavam contraídas pela concentração, enquanto ele começava a medir sua pressão arterial. Algo estava errado. Ela tentou usar a telepatia, mas doía muito.
— O que há de errado? – perguntou ela.
Ele fez uma pausa, mas não disse nada. Terminando de medir a pressão arterial, ele puxou as cobertas.
O instinto a fez agarrar o cobertor para cobrir as pernas nuas. Ela devia se lembrar de que ele era um médico e vira muitas mulheres nuas. Cailyn não vestia grande coisa, uma vez que estava apenas com uma camiseta e calcinha, mas ainda assim corou até a raiz dos cabelos.
Ele parou seus movimentos e no momento em que suas peles se tocaram, e ela sentiu a eletricidade ser enviada direto para seu abdômen. O calor aumentou e ela se esforçou para evitar que se espalhasse mais baixo. Cailyn olhou nos olhos cor de ametista e percebeu que eles brilhavam, púrpuros. Lembrou-se de Elsie dizendo que os olhos de Zander brilhavam quando ele ficava excitado.
Saber que Jace estava tão afetado quanto ela fez com que fosse mais fácil deixá-lo continuar e permitir que a examinasse. Ele levantou a camisa e sondou seu estômago. O toque dele parecia mais íntimo do que qualquer exame médico que ela já havia feito.
— Sem fazer as imagens, não posso dizer com certeza o que está acontecendo, mas algo não está certo. Como disse esta manhã, você teve uma pequena concussão junto com hematomas, e sua perna quebrada – disse ele. enquanto colocava a palma da mão quente em seu estômago.
Ele ficou com a mão assim por vários e longos minutos. Cailyn sentiu o calor aumentar e pensou que a mão dele estava tremendo. Quando ela abriu a boca para perguntar se ele estava bem, Jace a rolou para o lado, explorando a área logo abaixo de sua caixa torácica. Ela ouviu o suspiro pesado e olhou para trás para ver uma expressão furiosa no rosto dele.
— Não gosto dessa expressão. Diga-me em que está pensando.
— Como eu disse…
Ela cortou o que certamente seria mais uma das trivialidades dele. Não precisava dele para protegê-la naquele momento. Sabia que algo estava errado.
— Não esconda nada de mim. Tenho o direito de saber. Além disso, não sou tão frágil a ponto de quebrar – interrompeu Cailyn.
Ele ergueu a mão e segurou o rosto dela. Automaticamente, ela se virou para a palma da mão dele e a beijou. Havia perdido a cabeça? Pelo jeito, sim, porque não conseguia impedir suas reações àquele homem.
— Você é frágil, muito frágil. Seu ferimento na cabeça piorou, quando deveria melhorar. Não posso dizer com certeza, mas acho que você pode estar com hemorragia interna. Seu fígado está ligeiramente aumentado quando apalpado. Nada disso deveria estar acontecendo. Além da perna quebrada, seus ferimentos no acidente não foram tão graves. Acredito que seja o feitiço e não faço a menor ideia de como quebrá-lo. E o que é pior, não conheço ninguém que possa ajudar – explicou Jace, e ela viu a frustração dele quando o vinco se aprofundou em sua testa.
Ela estendeu a mão e acariciou as linhas, ignorando o próprio medo. Queria tranquilizá-lo e não sabia o motivo. Era ela quem estava sob algum feitiço nefasto.
— Mas isso não significa que não haja uma maneira. Zander disse que iria ver a rainha das fadas. Com certeza ela vai ajudar, certo? – perguntou Cailyn.
Ele fechou os olhos e se inclinou ao toque dela. A esperança se instalou nela, afirmando-lhe que talvez ele gostasse dela.
— A rainha não é tipicamente sentimental ou prestativa, a menos que beneficie seu povo. Entregar segredos das fadas vai totalmente contra os princípios deles. Pedir-lhe ajuda é um tiro no escuro, mas é nossa única opção – disse Jace, rangendo os dentes, e ela detectou amargura na voz dele.
O estômago dela se apertou com o tom dele. Estava em desacordo com o que ela vira dele até então. Isso a fez se perguntar sobre a história dele com as fadas. Ela tentou estender a mão e agarrar a dele, mas estava tão fraca que a mão caiu desajeitadamente sobre o braço dele. Estava piorando.
— Devo dizer, não me sinto otimista quanto às minhas chances aqui. E o que você mencionou esta manhã? Alguma coisa mística sombria? Você disse que gostaria que aparecesse. Poderia ajudar? – perguntou Cailyn, com voz fraca pelo esforço.
— O Grimório Místico – respondeu ele, entrelaçando os dedos nos dela.
Ela não achou que ele estivesse ciente do que estava fazendo, mas seu coração deu um salto. Tocá-lo aliviava a dor e colocava o seu coração em um ritmo mais regular. Era assustador e confuso o quanto ele a afetava.
— Grimório. É como um livro de magia ou algo assim, certo? Se ele tiver as respostas, vá buscá-lo. Ou Zander pode pegá-lo, basta lhe dizer onde está – sugeriu Cailyn.
— Isso é impossível, Cai.
Ela estremeceu ao ouvi-lo dizer seu nome assim. Apenas Elsie e Jessie a chamavam desse jeito. Ele o mencionou como quem profere uma bênção e o corpo dela reagiu. Cailyn se contraiu