Pôs as mãos nas ancas
– Olha, é óbvio que não vieste até aqui para falar de tolices comigo. Diz-me o que queres para que possa continuar a trabalhar.
Mike teve de se virar para esconder o seu sorriso. Conseguia ver que Grace estava zangada, mas ao mesmo tempo estava muito bonita. Os seus olhos azuis reflectiam a sua irritação. Quando a vira no topo daquele escadote quase se esquecera do motivo da sua visita. E quando a segurara nos seus braços ficara completamente em branco.
Chegou-se para trás para ver a pequena casa que ela decorara e a que chamava «lar».
– Estás a pintar.
– O teu poder de dedução deixa-me impressionada. Como percebeste?
Mike ignorou aquele sarcasmo. Devia estar cansada. Quando passara pela sua casa na noite anterior, por volta da uma da madrugada, ela tinha as luzes acesas e, certamente, levantara-se muito cedo. Desejava que ela não tivesse de trabalhar tão arduamente. Mas ele era a última pessoa que podia resolver aquela situação. Pelo menos, naquele momento.
– De onde tiras tempo para fazer tudo o que fazes, Grace? Sempre que te vejo, estás ocupada com alguma coisa.
Grace pensou que conseguia fazer tudo porque se levantava às cinco da manhã.
– Estar ocupada faz com que não me meta em problemas.
– Então, devia odiar perguntar-te o que estou prestes a perguntar.
Grace percebeu que Mike falava a sério. Normalmente, ele não dizia nada ou, se o fazia, era para brincar. Mas conhecia-o há muito tempo e sabia quando estava preocupado.
– O que se passa?
– Connor levou Alex ao hospital ontem à tarde.
Os olhos de Grace toldaram-se de preocupação e sentiu um nó no estômago. Mike e Connor eram como irmãos, eram muito mais do que sócios comerciais. Quando Connor tivera de sacrificar o seu gado, Mike e ele tinham começado a ser sócios do Circle M.
– É o bebé? Estão bem?
Alex ia ter um bebé dentro de poucos meses.
Parecia que Mike não conseguia olhar para ela, mas Grace conseguia sentir como estava preocupado.
– Entrou em trabalho de parto prematuro, portanto internaram-na. O médico diz que terá de ficar em repouso na cama até dar à luz. É tudo o que sei por enquanto.
– E Maren?
Maren era a filha do casal. Uma princesa de caracóis pretos com uns lindos olhos azuis como a sua mãe.
– Foi por isso que vieste? Precisam que alguém cuide dela durante algum tempo?
– Não, não. A avó de Connor está a cuidar dela. Mas… não é justo pedir-to, mas estava a perguntar-me, quero dizer que estávamos a perguntar-nos, se te importarias de regressar e gerir a contabilidade da quinta durante algum tempo.
– Claro que o farei. Não me importo – declarou, dadas as circunstâncias.
– Sei que estás muito ocupada e que…
– Mike, não há problema. Alex e Connor também são meus amigos. Fico contente por poder ajudar.
– Obrigado, Grace – agradeceu ele, claramente aliviado.
– De nada. Tentarei ir amanhã e começar a rever as contas.
Aquilo era exactamente o que ela precisava para se atormentar, ver Mike todos os dias no Circle M. Como uma lembrança contínua do que não podia ter. Mas a verdade era que precisava de fazer alguns arranjos na sua pequena casa daquela vila chamada Alberta e precisava do dinheiro.
– Acho que devia ir-me embora – replicou ele, num tom de voz baixo. – Tenho de fazer vários recados e, depois, bom, precisamos de mão-de-obra no rancho. E os pedreiros vêm por volta das nove.
– Os pedreiros?
Mike sorriu abertamente e o efeito foi devastador, fazendo com que o coração de Grace acelerasse.
Os olhos azuis dele animaram-se.
– Sim. Estamos a preparar os alicerces para construir a minha nova casa.
Grace perguntou-se como não sabia daquilo. Mike Gardner, com o seu próprio negócio e, naquele momento, uma casa.
– De qualquer forma, se precisares de alguma coisa, simplesmente, passa por Windover – replicou Mike, que se referia à casa pelo seu nome legítimo, embora todos a conhecessem como Circle M. – Vou ficar lá até a casa estar construída.
Grace já parara de pintar, mas ainda tinha o cabelo manchado de tinta. Afastou-o da cara e virou-se, pegando na saia de algodão que deixara sobre a cama.
A razão pela qual se mantinha ocupada… a verdadeira razão pela qual estava a aceitar trabalhos estranhos não era realmente pelo dinheiro, embora fosse sempre bem-vindo.
Simplesmente, precisava de se manter ocupada. A sua vida estava muito vazia. Não tinha ninguém a não ser ela própria e isso não ia mudar. Portanto, em vez de ficar em casa a desperdiçar tempo, trabalhava. Ter as mãos ocupadas ajudava-a a esquecer-se dos desastres que tinham acontecido no passado. E gerir as contas do rancho deixá-la-ia ocupada durante mais tempo.
E não decidira vestir uma saia porque ia para o Circle M. Escolhera-a porque aquela saia era a mais fresca que tinha.
Enquanto abria as janelas do seu carro, admitiu que um pouco de dinheiro extra não era algo que devia desprezar. O seu carro era antigo e nem sequer tinha ar condicionado. Arrancou e dirigiu-se para o oeste, para o rancho…
A paisagem que rodeava a estrada que levava ao Circle M era linda e naquela época do ano. No final de Agosto, estava tudo florido.
Quando finalmente avistou a casa principal do Circle M, Windover, pensou que não mudara nada. Mas tudo o resto no rancho estava diferente.
A perspectiva de ver Mike frequentemente fizera com que Grace sonhasse com ele mais de uma vez…
Quando estacionou em frente da casa, levou uma mão à barriga. Fora mais fácil quando ele não estava tanto tempo na vila. Ela fora capaz de se esquecer momentaneamente do breve romance que tinham tido… se é que alguma vez pudera chamar-se romance.
Ela tinha dezassete anos e ele tinha vinte e um. Durante algumas semanas, tinham sido mais do que amigos. Durante algumas semanas, ela fora enormemente feliz.
Mas quando a temporada de rodeos começara novamente, ele fora-se embora sem sequer lhe dar uma explicação. Ela estivera bem durante algum tempo ou, pelo menos, fora o que pensara. Tinham voltado a ser amigos nas poucas vezes que os seus caminhos se cruzaram. E, naquele momento, quando ele voltara para ficar, o facto de o ver frequentemente fizera com que ela sentisse saudades de coisas que pensara que estavam mortas e enterradas.
Quando Steve e ela tinham assinado os papéis do divórcio, apercebera-se de que os finais felizes não existiam.
Quando bateu à porta, a casa estava em silêncio, portanto aproximou-se de um dos lados, no caso de estar alguém na rua.
Teve sorte. Johanna, a avó de Connor, estava ajoelhada sobre umas flores com a pequena Maren, que tagarelava ao seu lado, feliz.
– Bom dia, senhora Madsen!
– Grace, querida, fico contente por te ver! – exclamou a mulher, levantando-se e dando a mão à pequena. – Maren, lembras-te de Grace, não é?
De repente, a menina ficou em silêncio e pôs o dedo polegar na boca.
– É possível que não se lembre de mim. Não estive muito por aqui ultimamente.
– Isso está prestes a mudar, não é assim?
Grace