Noutro ficheiro, dessa mesma pilha de papéis, encontrei a sua certidão de nascimento, com os dados do dia, hora e lugar de nascimento, informações da mãe e o nome do hospital.
Num terceiro ficheiro, havia um mapa da cidade de Nova Iorque e, agrafado a este, um bilhete de avião.
Examinei-o com cuidado e apercebi-me, para minha surpresa, que era um bilhete com o meu nome para a próxima segunda-feira. “Como é possível?”, interroguei-me, surpreso. “E se não tivesse passado no teste?”
“Só isto?”, exclamei ao verificar que já não havia mais informação sobre aquela pessoa nem sobre o que eu deveria fazer a seu respeito.
O mais importante na hora de traçar um perfil era, precisamente obter o máximo de informação possível, sobretudo se era em primeira mão, de algum familiar ou amigo próximo, ou da própria pessoa a ser analisada. E com aquela escassez de informação, o máximo que poderia conseguir era uma descrição muito geral.
Dei uma olhadela às outras duas pilhas de papéis e continham exatamente a mesma escassez de informação. Mas naquele caso, continham um bilhete de avião para Paris e outro para Viena.
“Bom, pelo menos os lugares de destino não são nada maus.” ― Pensei para mim, observando que cada bilhete de avião tinha um intervalo de tempo de uma semana entre cada um.
O que significava que eu tinha que lá ir, encontrar-me com aquela pessoa, analisá-la, traçar o seu perfil e regressar. Tudo isso no tempo recorde de uma semana, já que na segunda-feira seguinte teria que voltar a fazer o mesmo num novo destino.
Não me lembrava de alguma vez ter viajado tão depressa, nem sequer quando tinha que ir a congressos científicos, aos quais ia para conhecer as últimas investigações na minha área, uma vez que gostava de ficar a passar alguns dias na cidade de destino para poder conhecer as suas tradições e costumes. Mas isto era um exagero.
“O que vale é que entre Paris e Viena a distância é curta. Nem quero pensar o que poderia ter acontecido se fosse para ir a Sidney. Para além da viagem, ainda perderia, no mínimo, dois dias, um para a ida e o outro para a volta. Mas para quê tanta pressa?” ― Questionava-me enquanto apanhava os papéis e os colocava na pasta que o homem me tinha dado, colocando-os, em seguida, sobre uma mesa extra que havia no quarto, quando de repente:
― Abra a porta! ― Fez-se ouvir uma voz saliente.
― Abra ou nós a arrombamos! ― Seguiu-se outra voz num tom ameaçador.
― Quem é? ― Perguntei, aproximando-me da porta do quarto.
― Mandei abrir a porta! ― Voltou a dizer aquela voz num tom autoritário.
― Vão-se embora ou chamo a polícia! ― Respondi, cansado de tantas surpresas num só dia.
Ainda não tinha acabado de falar quando ouvi um enorme estrondo e uma luz ofuscante iluminou o dormitório, tinha eu ainda a mão na porta para a fechar e poder assim refugiar-me além do quarto, mas não tive tempo para o fazer.
Senti um forte zumbido nos ouvidos. Aquilo cegara-me e fizera os meus olhos lacrimejarem, e mal conseguia respirar. Era uma sensação tão desagradável que mal conseguia pensar no que estava a acontecer.
― Sente-se! Sente-se! ― Alguém disse, evitando que eu cambaleasse de um lado para o outro.
― Está a ouvir? ― Perguntou em voz bem alta, mas eu mal conseguia ouvir, uma vez que a minha cabeça parecia estar mergulhada em água, como se fosse explodir.
― Isso já lhe passa, meta a cabeça entre as pernas e relaxe. ― Alguém dizia, mas eu mal entendia.
Não sei quanto tempo tinha passado, mas não me lembrava de alguma vez ter passado por uma situação daquelas, tão desconfortável. Era como se todo o meu corpo me doesse, mas, ao mesmo tempo, me sufocasse e quisesse desfazer-se disso. Sentia calor e frio ao mesmo tempo e, apesar de conseguir abrir os olhos de vez em quando, não via nada além de pequenas sombras.
― Sente-se bem? ― Consegui escutar após algum tempo.
― O que foi isto? ― Consegui perguntar, mesmo sem conseguir ver nada ainda.
― É só uma granada de atordoamento, não é caso para tanto! ― Respondeu uma segunda voz num tom sarcástico.
― Uma granada? Mas vocês estão loucos? ― Eu disse irritado, tentando levantar-me, até que me apercebi que alguma coisa me estava a prender as mãos.
― Tenha lá calma e tente não se levantar. Tem as mãos e os pés amarrados com uns flanges de plástico como se fossem algemas.
― Estou algemado? O que foi que eu fiz? ― Perguntei, tentando esfregar os olhos a ver se conseguia ver alguma coisa.
― O que foi que você não fez quer você dizer? ― Perguntou aquele que falava com sarcasmo.
― Acusações por obstrução à justiça e pertencer a uma organização suspeita de lavagem de dinheiro, parece-lhe bem? ― Afirmou a voz autoritária.
― Pertencer a quê…? Eu trabalho por conta própria. ― Respondi sem saber a que se referiam.
― E isto? Anda a planear as próximas férias, é? ― Perguntou com um tom sarcástico.
― O quê? ― Perguntei, tentando esfregar os olhos para poder ver, embora ainda tivesse a visão turva.
― Nova Iorque, Paris, Viena… O que vai lá fazer? Vai de férias? ― Voltou a perguntar com sarcasmo.
― Pediram-me para fazer um trabalho. ― Respondi sem perceber o que aquilo poderia ter de mal.
― Muito bem, continue a cooperar e lhe reduziremos a pena ― afirmou aquele que falava num tom autoritário.
― Pena? Qual pena? ― Perguntei sem sequer saber com quem estava a falar.
― Não me diga que acha que vai conseguir chegar a um acordo para o inocentarmos? Isso envolveria muito mais do que um simples testemunho, seria preciso chegar à cabeça da organização.
― Qual organização? Qual cabeça? ― Perguntei confuso, sem conseguir entender a que se devia toda aquela situação.
― Não se faça de idiota. A cabeça, o líder da quadrilha, esse tal de Mestre ― disse o sarcástico.
“Mestre?” Questionei-me a mim mesmo, tentando atar as pontas no pouco tempo em que tinha conseguido recuperar os sentidos. “Eles estão à procura daqueles que acabaram de sair daqui”.
― Não conheço nenhum Mestre ― afirmei decididamente, para ver as suas reações.
― Claro que não, devemos estar enganados. Andamos há meses atrás de uma pista sua, e por fim, quando chega à cidade, você não sabe o que ele veio cá fazer? Encontrar-se consigo e apanhar o primeiro voo de regresso não lhe parece suspeito? ― Perguntou com malícia como fazia o Rin-Tin-Tin.
― Para dizer a verdade, não. Talvez estivesse com pressa. ― Respondi-lhe com o mesmo tom de sarcasmo com que me falava.
― Então, você confirma que o conhece? ― Disse a voz autoritária.
― Não foi isso que eu disse. ― Respondi, confuso com a sua afirmação.
― Acabou de dizer que não conhece nenhum Mestre e agora já diz que ele estava com pressa. É óbvio que está a tentar encobri-lo. Porquê? ― Perguntou a voz autoritária.
Levei as mãos à cabeça e disse muito rapidamente:
― Quero