PRÓLOGO
Seu nome – Rosie – era a única coisa delicada naquele homem. Roosevelt “Rosie” Dobbs caminhou até a entrada do apartamento 2B com seu habitual andar desajeitado—se alguém estivesse por perto, poderia ter ouvido seus xingamentos, palavras obscenas que o seguiam como uma sombra.
Com seu punho gigante, Rosie bateu na porta. A cada batida, via nela o rosto do homem que morava no 2B. Um cara folgado, chamado Alfred Lawnbrook—do tipo que sempre pensava que era melhor do que todos, mesmo morando em um apartamento simples em uma das piores partes da cidade. Ele nunca pagava o aluguel na data certa. Nos dois anos em que estava morando no apartamento, sempre atrasara ao menos uma semana. Dessa vez, já eram três semanas de atraso. E Rosie já estava cansado daquilo. Se Lawnbrook não pagasse o aluguel é o fim do dia, ele o expulsaria.
Era sábado, logo depois das nove da manhã. O carro de Lawnbrook estava estacionado em sua vaga de sempre, então Rosie sabia que ele estava em casa. Mesmo assim, mesmo batendo na porta, Lawnbrook não o atendeu.
Rosie bateu mais uma vez com força na porta com seu punho e então gritou.
- Lawnbrook, saia daí! E é melhor você estar com o dinheiro do aluguel em mãos quando abrir a porta.
Rosie tentou ser paciente. Esperou dez segundos antes de chamar novamente.
- Lawnbrook!
Ainda sem reposta, Rosie pegou o enorme molho de chaves que carregava no quadril. Ele procurou entre as chaves até encontrar uma onde a etiqueta dizia 2B. Sem dizer mais nada, colocou a chave na fechadura, virou a maçaneta e entrou no apartamento.
- Alfred Lawnbrook! Aqui é Rosie Dobbs, o dono do apartamento. Seu aluguel está atrasado há três semanas e—
Mas Rosie viu imediatamente que não haveria resposta. Havia um silêncio estranho no local, que o fez perceber que Lawnbrook não estava em casa.
Não, não é isso, Rosie pensou. É algo diferente... algo está estranho. Tem algo de errado aqui.
Rosie deu mais alguns passos pelo apartamento, parando ao chegar ao centro da sala.
Foi quando percebeu o cheiro.
Primeiro, o cheiro o lembrou de batatas que haviam apodrecido. Mas tratava-se de algo diferente, mais sutil.
- Lawnbrook? – ele chamou novamente, dessa vez com uma onda de medo em sua voz.
Mais uma vez, não houve resposta... não que Rosie estivesse esperando ouvir algo. Ele caminhou pela sala e olhou na cozinha, imaginando que talvez alguma comida tivesse sido esquecida no fogão. Mas a cozinha estava limpa e, por ser pequena, rapidamente ele pode ver que nada estava errado ali.
Chame a polícia, a parte sensata de Rosie pensou. Você sabe que tem algo errado aqui, então chame a polícia e não se envolva nisso.
Mas curiosidade é algo viciante, e Rosie não conseguiu sair dali. Ele caminhou pelo corredor e algo estranho chamou sua atenção no caminho para o quarto. Dando alguns passos pelo corredor, o cheiro ficou mais forte e ele soube exatamente o que iria encontrar. Mesmo assim, não conseguiu parar. Ele precisava ver... precisava saber.
O quarto de Lawnbrook estava levemente desarrumado. Alguns itens haviam sido derrubados do criado-mudo: carteira, livro, porta-retratos. Na janela, a persiana de plástico estava levemente inclinada, com as bordas dobradas.
Ali, o cheiro estava pior. Não era insuportável, mas também não era algo que Rosie queria respirar por muito tempo.
A cama estava vazia e não havia nada entre o guarda-roupa e a parede. Com um nó na garganta, Rosie virou-se para o closet. A porta estava fechada, trazendo uma sensação pior do que o cheiro. Ainda assim, sua curiosidade mórbida o fez seguir até lá. Ele encostou na maçaneta e, por um momento, pareceu sentir o cheiro terrível de algo pegajoso e quente.
Antes de virar a maçaneta, viu algo com o canto dos olhos. Olhou para seus pés, imaginando que seu nervosismo estivesse fazendo-o ver coisas. Mas não... ele tinha mesmo visto algo.
Duas aranhas estavam vindo rapidamente debaixo da porta. As duas eram grandes, uma do tamanho de uma moeda e a outra tão grande que mal passava debaixo da porta. Surpreso, Rosie pulou para trás e soltou um pequeno grito de medo. As aranhas correram para debaixo da cama e, quando ele se virou para olhá-las, havia outras ali. A maioria eram pequenas, mas havia uma maior, do tamanho de um selo postal, andando pelo travesseiro.
Com a adrenalina a mil, Rosie virou a maçaneta e abriu a porta.
Ele tentou gritar, mas seus pulmões pareciam estar paralisados. Apenas um barulho seco saiu de sua garganta, enquanto ele se afastava do que tinha visto no closet.
Alfred Lawnbrook estava jogado no canto do closet. Seu corpo estava pálido e imóvel.
Além disso, completamente coberto por aranhas.
Havia vários fios de teia grossos nele. Um, em seu braço direito, era tão grosso que Rosie nem conseguia ver a pele. A maioria das aranhas eram pequenas e pareciam ser inofensivas, mas assim como as outras que Rosie havia visto, algumas no grupo eram maiores. Enquanto ele olhava apavorado, uma aranha do tamanho de uma bola de golfe desfilava sob a testa de Lawnbrook. Outra, menor, subia em seu lábio.
Aquilo tirou Rosie de seu estado de congelamento. Ele quase tropeçou nos próprios pés ao sair correndo do quarto, gritando, sentindo que milhões de aranhas estavam vindo atrás dele.
CAPÍTULO UM
Dois meses antes...
Ao abrir uma das muitas caixas ainda espalhadas por sua casa nova, Avery Black perguntou-se porque havia esperado tanto tempo para se afastar da cidade. Ela não sentia nenhuma falta e, na verdade, estava arrependida por ter perdido tanto tempo lá.
Ela