São duas causas bem diferentes para uma morte, Avery pensou ao começar a se virar.
Ela não pode deixar de imaginar se aquele era o quase para o qual Connelly havia lhe chamado três dias antes. Um caso totalmente bizarro e, até então, sem respostas concretas. É, provavelmente é esse o caso, ela pensou.
Com seu café em mãos, Avery saiu. Ela tinha o resto da tarde pela frente, mas já sabia onde deveria ir. Gostando da ideia ou não, provavelmente ela ficaria de frente com muitas aranhas.
***
Avery passou o restante da tarde se familiarizando com o caso. A história em si era tão mórbida que ela não teve dificuldades em encontrar muitas informações. Ao realizar sua pesquisa, encontrou onze fontes confiáveis que contavam a história do que havia acontecido com um homem chamado Alfred Lawnbrook.
O dono do apartamento onde Lawnbrook morava havia entrado na casa querendo cobrar um atraso de duas semanas no aluguel e notara que algo estava errado imediatamente. Ao ler aquilo, Avery não pode deixar de comparar a situação com sua recente experiência com Rose e o dono do apartamento que sua filha alugava e, na verdade, assustou-se muito com isso. Alfred Lawnbrook havia sido encontrado em seu closet. Ele estava parcialmente enrolado em pelo menos três diferentes teias de aranha, com duas picadas diferentes—picadas que, pelo que o noticiário havia dito, não haviam causado muitos danos.
Mesmo sendo impossível ter um número exato, a estimativa era de que entre quinhentas e seiscentas aranhas haviam sido encontradas na cena. Algumas delas eram exóticas e não fazia sentido que elas estivessem em um apartamento em Boston. Uma aracnóloga havia sido chamada para ajudar no caso e encontrado pelo menos três espécies que não eram nativas dos Estados Unidos, muito menos de Massachusetts.
Então foi algo intencional, Avery pensou. Muito. Tão intencional que faz pensar que esse cara vai agir de novo. E se ele vai agir de novo da mesma maneira, tem que ser possível encontrá-lo e pará-lo.
O relatório do legista dizia que Lawnbrook havia morrido de ataque cardíaco, provavelmente pelo medo sentido diante da situação. Claro, já que ninguém havia presenciado a cena do crime, havia muitos outros cenários possíveis. Ninguém poderia ter certeza.
Era, de fato, um caso interessante... e um tanto quanto mórbido. Avery não tinha muito medo, mas aranhas gigantes certamente estavam no topo de sua lista de Coisas Para Ficar Longe. E mesmo que imagens do crime não tivessem sido divulgadas pela mídia (ainda bem!), Avery podia imaginar a cena.
De posse de todas as informações, Avery olhou pela janela por um bom tempo. Depois, foi até a cozinha e moveu-se em silêncio, como se estivesse com medo de ser flagrada. Pegou uma garrafa de whisky pela primeira vez em meses e serviu uma dose a si mesma. Tomou-a rapidamente e pegou seu telefone. Procurou o número de Connelly e apertou em LIGAR.
Ele atendeu ao segundo toque—algo muito rápido para os padrões de Connelly. Avery imaginou que aquilo queria dizer algo, dada toda a situação.
- Black – ele disse. – Eu não esperava que você ligasse.
Avery ignorou as formalidades e disse:
- Então, esse caso pelo qual você me ligou... Era esse envolvendo Alfred Lawnbrook e as aranhas?
- Sim – Connelly respondeu. – A cena já foi analisada, o corpo também, e não temos absolutamente nada.
- Eu vou entrar nessa – ela disse. – Mas só nesse caso. E eu quero fazer isso nas minhas condições. Não quero ninguém atrás de mim só porque passei por momentos difíceis. Pode ser?
- Vou fazer o possível.
Avery suspirou, resignada ao perceber como era bom se sentir útil e como sua vida em breve voltaria a ser como antes.
- Tudo bem – ela disse. – Vejo você no A1 amanhã cedo.
CAPÍTULO SEIS
Avery não sabia ao certo o que esperar quando voltou à sede da polícia pela primeira vez depois de mais de três meses. Talvez algumas borboletas no estômago ou uma onda de nostalgia. Talvez uma sensação de segurança, que a faria pensar em porque ela achou que seria uma boa ideia se demitir.
O que ela não esperava era não sentir nada. Mesmo assim, essa foi a sensação. Ao voltar ao A1 na manhã seguinte, não sentiu nada especial. Parecia quase que ela havia apenas perdido um dia de trabalho e estava voltando para outro dia—um outro dia comum, exatamente como antes.
No entanto, aparentemente, ela era a única no local que estava se sentindo daquele jeito. Ao entrar no prédio e caminhar em direção a sua velha sala, Avery percebeu que a movimentação típica das manhãs ia ficando em silêncio quando ela passava. Era quase como se uma onda de silêncio estivesse lhe seguindo. As recepcionistas ao telefone ficavam quietas, os murmurinhos de conversa eram interrompidos. Todos pareciam estar vendo uma celebridade entrando no prédio. Os olhos se arregalavam e as expressões eram de incredulidade. Avery perguntou-se por um momento se Connelly havia se preocupado em avisar a alguém que ela estava voltando.
Ao caminhar pela parte central do prédio em direção aos fundos, onde ficavam os escritórios e as salas de reunião, tudo pareceu mais natural. Miller, um funcionário de relatórios e pesquisa, acenou para ela. Denson, uma agente mais velha, prestes a se aposentar, sorriu, a cumprimentou e disse:
- É bom ter você de volta.
Avery retribuiu o sorriso, pensando: Eu não voltei.
No entanto, logo depois, outro pensamento veio à tona. Enfim. Minta para si mesma se quiser. Mas tudo parece muito natural. Parece a coisa certa.
Avery viu Connelly saindo de sua sala no fim do corredor. O homem que havia sido o motivo de várias de suas dores de cabeça ao longo dos anos. Mesmo assim, Avery estava feliz em vê-lo. O sorriso no rosto dele mostrava que a felicidade era mútua. Ele a encontrou no corredor e Avery pode ver que o capitão do A1—geralmente um durão de mão cheia—estava se segurando para não abraçá-la.
- Como foi entrar aqui de novo? – ele perguntou.
- Estranho – Avery disse. – Estão olhando para mim como se eu fosse uma celebridade ou algo do tipo. Não consegui decifrar se eles querem me matar com os olhos ou me aplaudir.
- Na verdade, eu estava preocupado, achei que eles iam se levantar e te ovacionar quando você entrasse. As pessoas sentem sua falta aqui, Black. Bom... sua e do Ramirez também.
- Agradeço, senhor.
- Bom. Porque eu estou prestes a te mostrar algo que vai te irritar. Olhe... lá no fundo, eu tinha a esperança de que você voltaria algum dia. Mas nós não poderíamos deixar o A1 inteiro parado, esperando esse dia chegar. Então você meio que não tem mais uma sala.
Connelly explicou aquilo a Avery enquanto a levava pelo corredor, na direção de sua antiga sala.
- Isso não é importante – Avery disse. – Quem ficou com aquela sala?
Connelly não respondeu. Ao invés disso, ele deu os últimos passos até a antiga sala de Avery e acenou com a cabeça para ela. Avery aproximou-se da porta e colocou a cabeça para dentro. Seu coração se aqueceu ao ver quem estava ali.
Finley estava sentado à mesa, tomando um gole de uma xícara de café e lendo algo no notebook. Quando ele viu Avery, seu rosto demonstrou várias emoções: susto, felicidade e um pouco de vergonha.
Ele não teve a mesma restrição de Connelly. No mesmo momento, levantou-se e encontrou Avery na porta com um abraço. Ela havia subestimado o quanto sentia falta dele. Mesmo os dois nunca tendo trabalhado de fato juntos, Avery havia gostado de ver Finley, aos poucos, crescendo como agente. Ele era engraçado, leal e tinha um coração genuinamente bom. Avery sempre o vira como um irmão distante no trabalho.
- É bom ter você de volta – Finley disse. – Sentimos sua falta por