“Eu preciso de um lugar para ficar, e de comida. Tenho as mãos calejadas e as costas fortes para o trabalho. Deem-me um trabalho e eu me ocuparei nele. Eu não preciso de muito. Apenas do mesmo que qualquer pessoa.”
Steffen queria mergulhar no trabalho braçal de novo, tal como ele havia feito durante todos aqueles anos nos porões do castelo, servindo ao Rei MacGil. Isso distrairia sua mente da situação. Ele poderia realizar um trabalho duro e viver uma vida de anonimato, já que ele havia estado acostumado a fazer isso muito antes de conhecer Gwendolyn.
“Você se considera um homem?” Um deles gritou, rindo.
“Talvez possamos encontrar alguma utilidade para ele.” Exclamou outro.
Steffen olhou para ele com esperança.
“Isso mesmo, ele pode lutar contra nossos cães ou galinhas!”
Todos riram.
“Eu pagaria um bom dinheiro para ver isso!”
“Há uma guerra lá fora, caso vocês não tenham notado.” Disse Steffen friamente. “Eu tenho certeza de que, mesmo em uma cidade provincial e rudimentar como esta, vocês podem precisar de ajuda para armazenar provisões.”
Os aldeões se entreolharam, perplexos.
“Claro que sabemos da guerra.” Disse um deles. “ Mas nossa aldeia é muito pequena. Os exércitos não vão se incomodar em vir até aqui.”
“Eu não gosto do jeito que você fala.” Disse outro. “Todo cheio de prosa! Parece que você teve alguma instrução. Você acha que é melhor do que nós?”
“Eu não sou melhor do que ninguém.” Disse Steffen.
“Isso é mais do que óbvio.” Riu outro.
“Chega de brincadeira!” Gritou um dos moradores em um tom sério.
Ele se adiantou e empurrou os outros para o lado com sua mão forte. Ele era mais velho do que os outros e parecia ser um homem sério. A multidão acalmou-se em sua presença.
“Se você estiver falando sério…” Disse o homem com sua voz profunda e brusca. “… Eu posso usar um par de mãos extra em meu moinho. O pagamento é um saco de grãos por dia e uma jarra de água. Você dorme no celeiro, junto com o resto dos rapazes da aldeia. Se isso for de seu agrado, eu lhe darei trabalho.”
Steffen assentiu com a cabeça, satisfeito ao ver finalmente, um homem sério.
“Eu não peço mais do que isso.” Disse Stephen.
“Venha por aqui.” Disse o homem, abrindo caminho entre a multidão.
Steffen o seguiu e foi levado até uma enorme moenda feita de madeira, ao redor da qual havia adolescentes e homens. Cada um deles suava e estava coberto de terra, eles estavam posicionados nas pistas lamacentas e empurravam a roda de madeira maciça, cada um pegava um raio e avançava com ele. Steffen ficou ali, examinando o trabalho, ele percebeu que seria um trabalho extenuante. Um trabalho realmente esgotante.
Steffen virou-se para dizer ao homem que ele aceitaria o trabalho, mas o homem já tinha ido embora, supondo que ele faria isso. Os moradores, depois de dizer suas últimas pilhérias, voltaram aos seus afazeres enquanto Steffen olhava para a frente, para a roda, para a nova vida que estava diante dele.
Por um vislumbre no tempo, ele tinha sido fraco, tinha se permitido sonhar. Tinha imaginado uma vida de castelos, de realeza e de classe. Tinha visto a si mesmo sendo uma pessoa importante, a mão direita da Rainha. Ele deveria ter pensado melhor antes de sonhar tão alto. Ele, é claro, não estava destinado a isso. Ele nunca tinha estado. Tudo o que tinha acontecido com ele, ter conhecido Gwendolyn, tinha sido um mero golpe de sorte. Agora, sua vida estaria relegada ao trabalho braçal. Mas, pelo menos, essa era a vida que ele conhecia. Uma vida a qual ele estava habituado. Uma vida de dificuldades. E mesmo que Gwendolyn não estivesse presente nela, essa vida estaria bem para ele.
CAPÍTULO SEIS
Thor instou Mycoples a voar mais rápido enquanto corriam por entre as nuvens, chegando cada vez mais perto da Torre de Refúgio. Thor sentia com cada célula de seu ser que Gwen estava em perigo. Ele sentia uma vibração que corria desde as pontas de seus dedos e percorria todo o seu corpo, dizendo-lhe, advertindo-o: Vá mais rápido. A vibração sussurrava para ele:
Mais rápido.
“Mais rápido!” Thor pressionou Mycoples.
Mycoples rugiu baixinho em resposta e bateu suas grandes asas com mais força. Thor não teve nem sequer a necessidade de proferir as palavras – Mycoples entendeu tudo antes mesmo que ele dissesse isso, mas ele falou as palavras mesmo assim. Elas fizeram com que ele se sentisse melhor. Ele estava se sentindo impotente. Ele sentia que algo andava mal com Gwen e que cada segundo contava.
Eles finalmente saíram de um bloco de nuvens e ao fazer isso, Thor foi invadido por uma sensação de alívio quando ele avistou à distância a Torre de Refúgio. Era uma obra de arquitetura antiga e misteriosa, uma torre estreita e perfeitamente cilíndrica que se elevava direto para o céu, atingindo uma altura próxima a das nuvens. A torre estava construída com uma antiga e brilhante pedra negra e Thor podia sentir o poder que emanava dela até mesmo ali, onde ele se encontrava.
Quando eles voaram mais perto dela, de repente Thor avistou algo no alto, no topo da torre. Era uma pessoa. Ela estava em pé no parapeito, com os braços abertos e as palmas das mãos estendidas. Seus olhos estavam fechados e ela estava balançando ao vento.
Thor soube imediatamente de quem se tratava.
Gwendolyn.
Seu coração disparou quando ele a viu de pé, lá. Ele sabia o que ela estava pensando. E ele sabia o porquê. Thor pensou que ela tinha desistido de viver e ele não podia deixar de sentir que era o culpado disso.
“MAIS RÁPIDO!” Thor exclamou.
Mycoples bateu suas asas ainda mais fortemente e então eles voaram tão rápido que Thor ficou quase sem fôlego.
Enquanto se aproximavam, Thor viu quando Gwen deu um passo para trás, para fora da borda, e voltou para a segurança do telhado. Seu coração se encheu de alívio. Sem nem sequer vê-lo, Gwen mudou de ideia por conta própria e decidiu não saltar.
Mycoples rugiu e Gwen olhou para cima e viu Thor pela primeira vez. Seus olhos se encontraram mesmo desde aquela grande distância e ele viu quando a surpresa inundou o rosto dela.
Mycoples pousou no telhado, e assim que ela fez isso Thor pulou, ele mal esperou que ela assentasse, ele correu imediatamente para Gwendolyn.
Gwen virou-se e olhou para ele, seus olhos estavam arregalados em completa surpresa. Parecia que ela estava vendo um fantasma.
Thor correu para ela, seu coração estava aos pulos, inundado com a emoção, ele estendeu seus braços. Eles se abraçaram fortemente, então Thor a agarrou fortemente, a levantou em seus braços e girou-a uma vez após outra.
Thor a ouviu chorar em seu ouvido, ele sentiu as lágrimas quentes dela escorrendo pelo seu pescoço, ele mal podia acreditar que estava realmente ali, abraçando-a, em carne e osso. Ele mal podia acreditar que isso estava realmente acontecendo. Aquele era o sonho que ele tinha visto em sua mente, dia após dia, noite após noite, enquanto ele estava nos confins do Império, quando ele tinha tido a certeza de que nunca mais voltaria e que jamais poria os olhos em Gwendolyn novamente. E ali estava ele agora, segurando-a em seus braços.
Por haver estado longe dela por tanto tempo, tudo sobre ela parecia novidade. Parecia perfeito. E ele jurou que ele nunca mais daria por sentado um momento com ela novamente.
“Gwendolyn.” Ele sussurrou em seu ouvido.
“Thorgrin.” Ela sussurrou em resposta.
Eles se abraçaram por um tempo que Thor não soube calcular, então, lentamente, eles se inclinaram e se beijaram. Foi um beijo longo e apaixonado, nenhum deles