Ele fervia de raiva quando pensava na Espada do Destino. Ele tinha ido tão longe para tirá-la de dentro do Anel e agora ela havia regressado e com isso, o escudo havia sido ativado. Isso significava que ele estava preso ali com os homens que ele tinha; ele podia ir embora, é claro, mas ele não poderia mais mandar reforços para o interior. Ele calculava que ainda tinha meio milhão de soldados ali, daquele lado das Highlands, eles eram mais do que suficiente para superar os MacGils; mas contra Thor, a Espada do Destino e o dragão, os números já não importavam. Agora as probabilidades, ironicamente, estavam contra ele. Era uma situação na qual ele nunca tinha se visto antes.
E como se as coisas não pudessem piorar ainda mais, seus espiões também tinham trazido relatos de distúrbios em sua terra, a capital do Império, eles lhe informaram que Romulus estava conspirando para tomar-lhe o seu trono.
Andronicus rosnava de raiva enquanto caminhava com fúria por seu acampamento, ponderando suas opções, procurando alguém, alguém para culpar. Ele sabia como um comandante que era, que a coisa mais sábia a fazer taticamente, seria retirar-se e deixar o Anel antes que Thor e seu dragão o encontrassem. Seria melhor que ele reservasse todas as forças que lhe restavam, embarcasse em um de seus navios e navegasse de volta para o Império sofrendo sua vergonha e tentasse manter seu trono. Afinal, o Anel era apenas um pontinho na imensidão do Império e cada grande comandante tinha direito a pelo menos uma derrota. Ele ainda iria governar noventa e nove por cento do mundo e ele sabia que deveria estar mais do que satisfeito com isso.
Mas o Grande Andronicus não procedia assim. Andronicus não era um homem prudente nem se contentava facilmente. Ele sempre tinha seguido suas paixões e embora soubesse que era arriscado, ele não estava pronto para deixar aquele lugar, admitir a derrota, nem permitir que o anel escorregasse de seu punho de ferro. Mesmo que tivesse de sacrificar todo o seu Império, ele iria encontrar uma maneira de esmagar e dominar aquele lugar, sem importar o que isso lhe custasse.
Andronicus não podia controlar o dragão ou a Espada do Destino. Mas Thorgrin… Essa era uma questão diferente. Ele era seu filho.
Andronicus parou e suspirou com o pensamento. Que ironia: o seu próprio filho, o último obstáculo para sua dominação do mundo. De alguma forma parecia adequado. Até mesmo inevitável. Andronicus sabia muito bem que as pessoas mais achegadas a alguém são justamente as que mais lhe causam dano.
Ele se lembrou da profecia. Deixar seu filho viver tinha sido um erro, é claro. Seu grande erro na vida. Mas Andronicus tinha um fraco por ele, mesmo sabendo que a profecia declarava que isso poderia levar a sua própria morte. Ele tinha deixado Thor vivo e agora havia chegado a hora de pagar o preço por isso.
Andronicus continuou avançando furioso pelo acampamento, seguido por seus generais, até que finalmente ele chegou à periferia e se deparou com uma tenda menor do que as outras: era uma tenda escarlate em um mar de tendas pretas e douradas. Havia apenas uma pessoa que teria a audácia de ter uma tenda de cor diferente, a única pessoa que seus homens temiam.
Rafi.
Ele era o feiticeiro pessoal de Andronicus, a criatura mais sinistra que ele já havia encontrado. Rafi tinha aconselhado Andronicus durante cada passo do caminho, o havia protegido com sua energia malévola e tinha sido o responsável por sua ascensão mais do que ninguém. Andronicus odiava ter de recorrer a ele agora, odiava ter de admitir o quanto precisava dele. Mas quando ele encontrava um obstáculo que não era terrenal, algo que requeria a magia, era sempre a Rafi a quem ele recorria.
Andronicus se aproximou da tenda, duas criaturas do mal, altas e magras, ocultas em capas vermelhas, olharam para ele com seus olhos amarelos e brilhantes que se projetavam através de seus capuzes. Eram as únicas criaturas em todo aquele acampamento que se atreviam a não inclinar a cabeça em sua presença.
“Eu convoco Rafi.” Andronicus declarou.
As duas criaturas, sem se virar, estenderam a mão e cada uma delas puxou uma das abas da tenda.
Assim que elas fizeram isso, um odor horrível saiu de dento da tenda, Andronicus recuou ao senti-lo.
Houve uma longa espera. Todos os generais pararam atrás de Andronicus e aguardaram expectantes, o mesmo ocorreu em todo o acampamento, todos haviam se virado para ver. O acampamento caiu em um pesado silêncio.
Finalmente, do lado de fora da tenda escarlate surgiu uma criatura alta e magra, ela era duas vezes mais alta que Andronicus e tão magra como o ramo de uma oliveira. A criatura estava vestida com a túnica escarlate mais escura que existia, seu rosto não era visível, ele estava escondido em algum lugar na escuridão por trás de sua capa.
Rafi ficou ali e olhava fixamente para Andronicus quem podia ver apenas os olhos amarelos olhando-o de volta sem piscar, metidos em sua carne muito pálida.
Seguiu-se um silêncio tenso.
Finalmente, Andronicus deu um passo adiante.
“Eu quero que Thorgrin morra.” Andronicus disse.
Após um longo silêncio, Rafi riu. Foi um som profundo e perturbador.
“Pais e filhos.” Disse ele. “É sempre a mesma história.”
Andronicus queimava por dentro, impaciente.
“Você pode ajudar?” Insistiu ele.
Rafi ficou ali em silêncio por muito tempo, tempo suficiente para que Andronicus considerasse a possibilidade de matá-lo. Mas ele sabia que isso seria estúpido. Certa vez, em um acesso de raiva, Andronicus tentou apunhalá-lo impetuosamente, mas a espada tinha derretido na sua mão em pleno golpe. O cabo da espada tinha queimado a mão dele também; foram necessários vários meses para que ele se recuperasse da dor.
Então Andronicus ficou parado ali, rangendo os dentes e suportando o silêncio.
Finalmente, Rafi ronronou debaixo de seu capuz.
“As energias que cercam o rapaz são muito fortes.” Disse Rafi lentamente. “Mas todo mundo tem um ponto fraco. Ele foi elevado com magia. Ele pode ser derrubado com magia também.”
Andronicus deu um passo à frente, intrigado.
“De que magia estamos falando?”
Rafi fez uma pausa.
“De um tipo que você jamais encontrou. Respondeu ele. “De um tipo reservado apenas para um ser como Thor. Ele é sua semente, mas ele é mais do que isso. Ele é muito poderoso, muito mais do que você mesmo. “Se ele viver para ver esse dia.”
Andronicus enfureceu.
“Diga-me como eu posso capturá-lo.” Exigiu ele.
Rafi balançou a cabeça.
“Essa sempre foi sua fraqueza.” Disse ele. “Você escolhe capturar e não matá-lo.”
“Primeiro vou capturá-lo.” Andronicus rebateu. “Então eu vou matá-lo. Existe uma maneira diferente de fazer isso ou não?”
Seguiu-se outro longo silêncio.
“Existe uma maneira de tirar-lhe o seu poder, sim.” Disse Rafi. “Sem a sua preciosa espada e sem o seu dragão, ele será igual a qualquer outro garoto.”
“Mostre-me como.” Ordenou Andronicus.
Houve um longo silêncio.
“Por um preço.” Rafi finalmente respondeu.
“Seja qual for.” Andronicus