Como não queria pensar mais naquilo, apressou-se a encher os sacos de neve que apanhou da porta traseira e pô-los estrategicamente no frigorífico.
Ao voltar para a sala, viu como Sullivan tirava o casaco e o punha na cabeceira. Depois, tirou os sapatos e pô-los ao lado do casaco. Finalmente, apontou com a cabeça para o parque.
– Aqueles dois estão fora de combate.
Rachel olhou para os gémeos. Cody e Jolie estavam outra vez a dormir e abraçados. Pareciam muito tranquilos.
– Oh… Eu não gosto de os incomodar. Sei por experiência que, se os acordar ao pô-los no berço, vai ser difícil voltar a adormecê-los.
– Deixa-os dormir. Eu estarei aqui se acordarem.
– Não sei se é uma boa ideia – não, dar o controlo àquele homem não era boa ideia. E se levasse os gémeos durante a noite?
Ele devia ter sentido a sua agitação, porque levantou a mão direita como se estivesse a fazer um juramento e declarou:
– Prometo-te que estão a salvo comigo. Vá lá, Rachel, todos precisamos de dormir.
– Está bem, mas deixarei a minha porta aberta para os ouvir.
– Não me vou embora com eles, Rachel.
– Desculpa-me por ser precavida. Acabei de te conhecer. Podes dizer uma coisa e fazer outra.
– Não, sou um homem de palavra. O meu comandante já te disse isso, lembras-te? – perguntou ele. Pela sua expressão, não gostava que duvidassem dele.
Será que se importava com o que ele pensava da sua pessoa?
Um calafrio percorreu-lhe as costas.
– Ah, sim. Um homem de palavra. Tinha-me esquecido – brincou Rachel, virando-lhe as costas e esquecendo a sensação estimulante.
Ao chegar à porta do seu quarto, virou-se para olhar para ele, mas esqueceu-se do que ia dizer.
Sullivan estava a dobrar a sua t-shirt, com o peito nu. Era incrível. Uma camada fina de pêlos cobria o seu peito e descia até à cintura das calças de ganga.
Quando levou as mãos à braguilha, Rachel deu um grito abafado e respirou fundo.
– Boa noite! – despediu-se, dando meia volta e entrando no quarto.
Se sabia algo era que estava em perigo de o desejar loucamente.
Quando Rachel acordou, o quarto estava às escuras e cheirava a café. Dadas as circunstâncias, tivera medo de não conseguir dormir, mas a última coisa em que pensava era em trabalhar no livro.
Há alguns meses um editor, apaixonado pelos seus artigos a respeito dos animais, pedira-lhe para escrever um livro sobre o mesmo assunto.
Isso fora antes de lhe telefonarem para dizer que era a tutora das crianças.
Viu as horas, eram oito e meia, e levantou-se da cama. Nunca dormia tanto. Nem as crianças.
Passou os dedos pelo cabelo e foi para a sala, vestindo a camisola e as meias. Encontrou os bebés onde os deixara na noite anterior, a dormir no parque. A roupa que vestiam eram diferente e Rachel assumiu que tinham acordado em algum momento.
Ford estava a fazer horas extras. Tentava acalmá-la, deixando-a dormir. Não tinha de ser tão atencioso. De qualquer modo, ela não mudaria de opinião.
De repente, sentiu uma pontada de amor no coração. Dobrou-se e passou a mão pelo cabelo sedoso e castanho de Jolie. O que mais queria era fazer o que fosse melhor para Jolie e Cody e esperava que isso não significasse ter de os abandonar.
Antes de se erguer, passou um dedo pela bochecha rosada de Cody. Acontecesse o que acontecesse, os gémeos eram inocentes.
Ouviu um barulho na cozinha e dirigiu-se para lá.
Ford estava de pé, com os braços apoiados na bancada de granito e a cabeça entre aqueles braços impressionantes. Atrás dele, pela janela, via-se a violência da tempestade, que igualava a sua luta interna.
Era evidente que aquele era um momento íntimo.
Rachel recuou para o deixar sozinho. Ele endireitou-se e bateu com o punho fechado na bancada, fazendo sangue nos nós dos dedos.
Surpreendida, ela ficou onde estava. Aquele gesto mostrava que estava zangado e que sofria. Rachel perguntou-se se devia aproximar-se dele ou deixá-lo sozinho.
Ele deitou um braço para trás para dar outro golpe.
– Pára! – exclamou Rachel, agarrando-lhe no braço com as duas mãos.
Não foi um movimento muito inteligente.
Antes de dar por isso, Ford pusera-lhe um pé atrás do joelho e deitara-a no chão. Os seus olhos azuis olhavam para ela com ferocidade, o seu corpo cobria-a e pusera-lhe o antebraço na garganta.
Aquele homem era muito perigoso.
Naquele momento, Rachel devia ter sentido medo, mas não era exactamente esse o sentimento que fazia com que vários arrepios lhe percorressem o corpo.
Ele pestanejou e relaxou o braço imediatamente.
– Meu Deus! – exclamou, apoiando a testa na dela. – Lamento muito.
– Desculpas aceites – replicou ela, que estava completamente quieta. – Já podes soltar-me.
Ele não se mexeu.
– Normalmente, controlo-me mais.
– Fico contente por saber.
– Não devias ter-me agarrado.
– Não me esquecerei – Rachel tentou mexer a parte superior do seu corpo, mas ele continuou a aprisioná-la. O movimento fez com que os seus seios tocassem no peito dele. Os seus mamilos responderam ao contacto.
O corpo de Ford também.
Rachel ficou gelada. E olhou para ele na cara. Ele olhava para ela com desejo. Tinha os olhos cravados nos seus lábios. Ford começou a baixar a cabeça.
O choro de um bebé quebrou a tensão do momento.
Recordou-lhes que não estavam sozinhos. Como é que Rachel podia ter esquecido o que aquele homem estava a fazer ali? Empurrou-o até ele sair de cima dela.
– Não voltes a fazer algo do género – avisou. Esticou a camisola, sacudiu o pó. Evitou olhar para ele nos olhos.
Era evidente que ela sentia a atracção que havia entre ambos, via o desejo nos seus olhos. Em qualquer outro momento ou lugar, talvez tivesse tido uma aventura com ele. Mas, dada a situação, tinha muito a perder.
Por muito tentada que estivesse.
Ele obrigou-a a olhar para ele, invadindo o seu espaço. Abateu-se sobre ela, com o olhar cravado nos seus lábios, antes de o levantar até aos seus olhos.
– Tens a minha palavra de que não voltarei a atacar-te.
– Não me referia a isso – corrigiu ela, franzindo o sobrolho.
Ele aproximou-se e pôs-lhe um caracol atrás da orelha.
– É o máximo que posso garantir.
Ela empurrou-o para ir ver os bebés. Como de costume, estavam acordados e com vontade de brincar. Para os manter ocupados enquanto se vestia, Rachel deixou imensos brinquedos no parque.
Depois, fugiu para o seu quarto para lavar os dentes e vestir umas calças de ganga e uma t-shirt. Sentia-se confusa. Era um luxo poder arranjar-se sem ter de se despachar nem preocupar-se com os gémeos e, no entanto, sentia-se mal por estar a dedicar tempo a ela própria porque amava Jolie e Cody e eles dependiam completamente dela.
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