– Champanhe, um vestido vermelho e um homem de smoking. Penso que é a primeira vez que consigo tornar realidade os sonhos de uma mulher – comentou.
– Assim é. Obrigada – Selene provou o champanhe, fechando os olhos. – Sabe a festa – bebeu outro gole, seguido de outro.
Stefan arqueou os sobrolhos.
– Se quiseres recordar a noite, é melhor que bebas devagar.
– É delicioso. Adoro sentir as bolhas na língua. E a vantagem de ser independente é que posso decidir o que bebo.
– Como queiras, mas, embora adore que gostes do champanhe, não gostaria que a minha acompanhante acabasse inconsciente.
Ofereceu-lhe o braço e Selene, pousando o copo vazio, aceitou-o.
– Obrigada.
O seu sorriso amplo e sincero desconcertou Stefan, que estava habituado a um estilo mais manipulador e coquete. Selene não parecia ter nenhuma cautela, nenhuma proteção contra o mundo. Como se defenderia quando abandonasse o círculo protetor do seu pai?
– Porque me agradeces?
– Por acederes a ajudar-me, por me convidares para a festa e por te encarregares de que tivesse este vestido lindo. És o meu herói – Selene levantou a cabeça para o observar e acrescentou: – Já agora, estás muito bonito. Os dragões da Grécia devem estar encerrados nas suas cavernas para evitarem encontrar-se contigo.
– Os heróis não existem e é evidente que bebeste demasiado depressa – disse Stefan, enquanto pensava em pedir que o pessoal preparasse uma bebida sem álcool para que Selene não acabasse em coma alcoólico.
Ela deslizou o olhar para os seus lábios.
– És muito modesto – sussurrou. – As pessoas estão muito enganadas.
– E tu és muito inocente. E se estivessem certas?
Ignorando o comentário, Selene segurou-o pela lapela e puxou-o para si.
– Sabes o que acho? Que projetas essa imagem de mau para afastar as pessoas. Sobretudo as mulheres. Acho que receias a intimidade.
Stefan ficou estupefacto. Selene acabava de encontrar a única fresta por onde podia atravessar-se a sua armadura e tinha-lhe cravado uma adaga. Só podia ser uma casualidade. Nem ela nem ninguém conheciam o seu passado.
– Isso não é verdade, como penso demonstrar-te mais tarde. Portanto, não bebas demasiado ou adormecerás antes de chegar o melhor da noite – disse ele, com aspereza. E conduziu-a para a porta.
– Perdoa-me se te ofendi – disse ela.
– O que te faz pensar isso?
– Mudaste de tom de voz.
Stefan, que se vangloriava de não deixar transparecer nenhum sentimento, começou a suar. Por acaso, Selene tinha poderes?
– Não me ofendeste. Só que os convidados estão à nossa espera. Estás pronta?
– Sim, embora não saiba se pronta para que me odeiem.
– Porque dizes isso?
– Porque estou com o homem mais bonito da Terra. Todas as mulheres vão odiar-me, mas não te preocupes, sendo filha de Stavros Antaxos, habituei-me a não ter amigos.
Embora falasse com tom animado, Stefan recordou a noite no iate, quando a tinha encontrado quase escondida num canto, e como não soubera disfarçar a sua alegria quando ele se sentara ao seu lado.
– A amizade é um sentimento sobrevalorizado. Quando alguém quer ser teu amigo, costuma ser porque quer alguma coisa de ti.
– Isso não é verdade.
– Não queres acreditar nisso porque és uma idealista – Stefan abriu-lhe a porta.
– Queres dizer que a verdadeira amizade é impossível? – perguntou ela, dececionada.
– O que digo é que a tentação do dinheiro costuma ser muito poderosa e muda tudo – disse Stefan, sentindo que a cicatriz do seu coração se ressentia ao recordar até que ponto eram verdadeiras as suas palavras. – É melhor que não o esqueças.
– É o que tu fazes? Proteges-te para não sofrer?
Stefan, que mantinha sempre as conversas a um nível superficial, perguntou-se porque com Selene tendiam a adquirir uma nova profundidade.
– Eu vivo como quero. Neste momento, o que quero é ir para a minha festa. Vamos?
Toda a gente olhava disfarçadamente, por cima dos seus copos de champanhe, mas a expressão geral era a mesma: surpresa.
Sentindo-se como um pássaro recém-libertado da sua gaiola, Selene pegou noutro copo.
– Tens a certeza de que deves continuar a beber? – perguntou Stefan, franzindo o sobrolho.
– O lado bom desta noite é que posso tomar as minhas próprias decisões. Decidi vir à festa, vestir este vestido e beber champanhe.
– Fica sabendo que também estás a escolher ter uma terrível dor de cabeça amanhã.
– Não me importa – disse Selene, sorrindo. – O champanhe faz com que tudo seja mais interessante.
– O segundo copo, sim. A partir do terceiro, esquecerás como tudo foi interessante. Devias passar para o sumo de laranja.
– Quero verificar por mim mesma se me dará dor de cabeça ou não.
– Recordar-to-ei quando te sentires mal.
Selene riu-se animadamente.
– De quantos copos precisas para me beijar?
– Para isso não preciso de estar ébrio, koukla mou – disse Stefan, com olhos brilhantes.
– Então, porque não me beijas? – disse Selene, agarrando-o pelas lapelas e fechando os olhos.
Selene esperou com ansiedade o contacto dos lábios de Stefan nos seus, mas, em vez de a beijar, Stefan acariciou-lhe a face. Ela abriu os olhos, com o coração acelerado. Stefan agarrou-a então pela nuca e puxou-a para si.
– O que tens para que me seja impossível afastar-me de ti embora devesse fazê-lo? – perguntou ele, a milímetros do seu rosto.
Selene sentiu o desejo a explodir no seu ventre.
– Talvez isso aconteça porque estou a agarrar-te pelas lapelas? – brincou.
Mas Stefan não sorriu.
Expetante, Selene viu um brilho nos seus olhos e descobriu que um olhar bastava para provocar uma reação física quando o de Stefan lhe percorreu o corpo, convertendo-lhe o sangue em lava. O desejo de receber aquele beijo ameaçou sufocá-la. Até que finalmente sentiu o roçar dos lábios de Stefan, ao mesmo tempo que ele lhe deslizava a mão pelas costas e a puxava para si.
Selene sentiu o calor e a tensão que emanava dele e subitamente soube que atravessara a fronteira entre a fantasia e a realidade. Os olhos de Stefan perderam todo o brilho de diversão e refletiram uma pura e primária sexualidade masculina. E Selene soube que era ele quem controlava cada segundo daquele encontro: o tempo, a intensidade, inclusive as reações que queria conseguir dela.
Simultaneamente, soube que ter decidido explorar a sua sexualidade com aquele homem era como ter comprado um gato e descobrir que se tratava de um tigre. Em Stefan não havia rasto de mansidão. Todo ele era perigo. E representava tudo com que ela tinha sonhado todos aqueles anos quando imaginava a sua nova vida.
Rebobinando mentalmente, tentou afastar-se de Stefan, mas ele segurou-a com firmeza.
– Fecha os olhos, esponja de champanhe.
A ordem sussurrada penetrou nos ossos de Selene,