– É verdade que as mulheres vão mesmo retocar a maquilhagem? – perguntou Dario, sentando-se no lugar que ficara vago.
– Desculpe? – perguntara-lhe a duquesa.
– É mesmo verdade que as mulheres vão mesmo retocar a maquilhagem?
– Não faço ideia – respondeu ela. – E esse lugar está ocupado.
– Pela sua amiga, eu sei. Eu guardo-o até ela voltar – sorriu Dario. – Não vai apostar?
– Não, estou aqui para fazer companhia a Pamela e não tenho fichas.
Dario empurrou uma pilha de fichas na direcção dela.
– Agora já tem.
– Não posso aceitar. Nem sequer o conheço…
Divertido, e picado pela sua sinceridade, ele apresentou-se:
– Sou Dario Costanzo, um nome absolutamente respeitável, como poderá constatar.
A jovem ficou corada.
– Não queria ofendê-lo.
– Eu sei.
– Mas não posso aceitar o seu dinheiro.
– Não é dinheiro, são fichas.
– Mas não penso apostar porque não faço sequer ideia de como se joga a isto.
– Eu posso ensinar-lhe.
– Não, obrigada.
– Não se está a divertir muito, pois não?
– Não – admitiu ela. – Não estaria aqui se não fosse por causa da minha amiga. Eu não gosto de casinos.
– E de que lugares gosta?
– Lugares menos barulhentos e com menos gente.
– Então venha comigo, conheço o lugar perfeito.
A resposta a tal convite foi um olhar que teria deixado petrificado qualquer homem menos decidido.
– Não, obrigada.
– Continua a pensar que sou o estrangulador de Portofino?
Ela cerrou os lábios, mas não pôde disfarçar um sorriso.
– Tinha-me ocorrido, sim.
– Então permita-me que corrija o seu erro – Dario chamou o gerente do casino, um homem de cabelo branco e aspecto respeitável que o conhecia desde sempre. – Frederico, importas-te de dizer a esta jovenzinha que sou uma pessoa decente? Parece que não confia em mim.
Frederico encolheu os ombros.
– O signor Costanzo é um dos nossos melhores clientes, signora. Garanto-lhe que está em perfeita companhia.
– E então? – Dario sorriu enquanto o gerente se afastava. – Isto fez com que mude de opinião?
– Admito que me sentiria tentada se não fosse por Pamela. Não posso deixar a minha amiga sozinha.
Mas Pamela, com Dario imaginava, já tinha encontrado diversão com um homem que poderia ser seu pai e aproximou-se da mesa para se despedir.
– Vemo-nos mais tarde… ou amanhã, não tenho a certeza.
– Muito bem – murmurou a duquesa.
Dario sorriu.
– Podemos ir dar um passeio agora?
– É uma boa ideia. Aqui dentro não consigo respirar.
Embora o seu objectivo fosse levá-la para o iate, primeiro levou-a a um restaurante situado na piazzetta. O empregado, que o conhecia bem, acompanhou-os até uma mesa no pátio.
– Melhor, agora? – perguntou.
– Muito melhor – ela suspirou, tirando as sandálias de salto alto.
Encantado, Dario tirara a gravata e desabotoara o primeiro botão da sua camisa antes de pedir uma garrafa de champanhe.
E, felizmente, o champanhe desatara-lhe a língua. Contara-lhe que se chamava Maeve Montgomery e que era de Vancouver, Canadá. Depois de dois anos na universidade tinha começado a trabalhar numa loja de noivas e aos vinte e dois anos fora promovida a gerente. Mas encontrara o trabalho dos seus sonhos ao tornar-se conselheira de moda para clientes com muito dinheiro e muito mau gosto. Adorava a roupa, fazia muitos dos seus vestidos e vivia num apartamento de onde se via o estreito da Georgia.
Era muito unida aos seus pais, que tinham morrido há cinco anos. O seu pai sofrera um aneurisma enquanto via televisão e morrera antes de puderem chamar a ambulância. Trinta e quatro meses depois, a sua mãe, que sofria de asma, morrera de uma pneumonia.
– Sinto a falta deles – confessou.
Ir a Itália fora uma decisão de última hora e uma espécie de presente da senhora Elliott-Rhys, uma cliente agradecida que, além disso, era mãe da Pamela.
– A amiga que devia ter vindo com ela partiu uma perna na semana passada e a senhora Elliott-Rhys convenceu-me a vir com Pamela porque não queria que a filha viajasse sozinha.
– E quanto tempo ficarás em Portofino? – perguntou, tratando-a por tu.
– Cinco dias. Voltamos para casa na próxima quarta-feira.
Perfeito. O tempo suficiente para se divertir sem receio a compromissos.
– Mais champanhe? – sugeriu Dario.
– Não, obrigada. Eu não gosto de beber demasiado.
– Será possível beber demasiado de uma coisa tão boa?
– Não sei, mas se não te importas prefiro passear.
– Como queiras – Dario levantou-se da cadeira e inclinou-se para lhe calçar as sandálias, um gesto que Maeve agradeceu e a fez corar.
Passearam pelas ruas empedradas até ao porto e ela não pôs nenhuma objecção quando a levou pela rampa do porto.
– Tem cuidado. Esses saltos não foram feitos para caminhar por aqui e não quero que escorregues.
– Preocupa-me mais que nos prendam – confiou ela, olhando para a frota de luxuosos iates. – Tens a certeza de que podemos estar aqui?
– Claro que podemos. O meu iate está ancorado no porto.
– Se o teu iate se parecer com algum destes, acho que não estou no meu elemento.
– Não deixes que te impressionem, a maioria são alugados – sorriu Dario. Embora não se preocupasse em explicar-lhe que o seu era o maior de todos.
Ancorava-o sempre o mais longe possível do porto, uma decisão inteligente porque quando sentia vontade de navegar era mais fácil chegar a mar aberto. E quando o que queria era seduzir uma mulher bonita, tinha mais intimidade. E naquela noite, definitivamente, precisava de intimidade.
Assim que entraram na lancha Dario arrancou e, uma vez no iate, começara a preparar o ambiente de sedução: champanhe, música suave e uma luz acesa na coberta para não tropeçar.
Ele não vivia no iate, mas passara muitos dias ali a fazer um cruzeiro pelo Mediterrâneo. E levá-la-ia a navegar no dia seguinte se Maeve desejasse. Enquanto isso, convidou-a para dançar.
– Se puder dançar descalça…
Poderia despir-se se preferisse, pensara Dario. Embora, é claro, não o dissesse em voz alta. A noite estava a começar, logo haveria tempo para isso mais tarde.
– Claro que sim – respondeu, agarrando-a pela cintura.
Ao princípio ela mostrara-se um pouco rígida, mas Dario tinha escolhido bem a música.