O outro lado do amor. Catherine Spencer. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Catherine Spencer
Издательство: Bookwire
Серия: Sabrina
Жанр произведения: Языкознание
Год издания: 0
isbn: 9788413485478
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era o fim! Cadie Boudelet era uma ignorante que não tentava conhecer os factos para tirar conclusões. Por isso, o que pensava dela ou de outra pessoa qualquer era irrelevante. Ter ouvido Dan comentar que ele tinha conseguido limpar a sua imagem e ela não era-lhe quase insuportável, mas não teve problemas em dizê-lo.

      – Provocas-me náuseas, Dan Cordell! Se há algo que não consigo suportar é que pretendas fazer-me crer que não se pode censurar nada. Logo a mim, que sei que não é bem assim. Se achas que lá por teres «doutor» antes do nome vais mudar o rumo história, estás muito enganado. Além de arrogante és insuportável!

      Capítulo 2

      – Não tens uma opinião favorável a meu respeito, não é? – perguntou Dan dando graças por Molly não ter uma faca na mão.

      – A opinião que tenho sobre ti – explicou ela – é que me deixas os nervos em franja. Diz o que vieste cá fazer e vai-te embora, por favor.

      Dan pensara que vê-la novamente não iria afectá-lo, que o tempo se tinha encarregue de amansar aquela fera que conhecera há anos atrás e por quem tinha sentido mais do que queria admitir. Tinha-se enganado. Aquela rapariga tinha-se convertido numa mulher de uma beleza insuperável. Estava mais elegante, mas continuava a ter um temperamento explosivo.

      – Posso ser arrogante e insuportável, mas tu és insuportável. Se te incomoda que me chamem de doutor, problema teu. Chamam-me assim, tal como a ti te chamam de mãe. Não sei porque é que isso irá mudar a história.

      – Nem todos têm falhas de memória como tu – disse quase com tristeza. – Não fiz mais do que entrar por esta porta. Ainda nem consegui desfazer as malas.

      – Apareces de surpresa, zangas-te com os vizinhos e achas estranho que ninguém te dê as boas-vindas? O problema não é o que os outros pensam de ti, é esse ressentimento que carregas nas costas.

      – Que eu nunca quis.

      De repente, ficou indefesa. Dan pareceu ter visto o brilho das lágrimas nos olhos da mulher, mas era impossível.

      Molly Paget não chora por nada nem por ninguém.

      O homem sentiu uma vontade imensa de abraçá-la, mas recompôs-se e enfiou as mãos nos bolsos como medida de segurança.

      – Não, mas és quem se empenha em continuar a carregá-la às costas. Aceita o conselho de um velho amigo. Deixa-te de rancores, aprende a dar. Aposto o que quiseres que não te criticam assim tanto como julgas.

      – Era por isso que querias falar comigo?

      – Não. Vim dizer-te que houve problemas e que, por isso, a enfermeira não pode vir esta noite. A Hilda precisa de ser medicamentada antes de dormir. Queres que te ensine ou preferes que seja eu?

      – É preciso dar injecções? – perguntou Molly, incomodada.

      – Não – respondeu sem conseguir esconder o sorriso. – Se tivesse de ser, seria eu a dá-la. Não me esqueci de que detestas agulhas.

      – Ah, sim? – perguntou, surpreendida.

      – Sim. Cortaste-te com um copo no teu primeiro dia de trabalho no Ivy Tree. Levei-te ao consultório do meu pai e quase desmaiaste quando ele te disse que precisavas de ser suturada.

      Molly olhou para a cicatriz que tinha no dedo. Dan percebeu que não usava aliança.

      – Nunca pensei que te lembrasses disso, estou surpreendida – murmurou.

      Ele também. Nunca mais recordara aquele acidente, mas a nostalgia invadiu-o. Lembrou-se da jovem irresistível que conheceu naquele Verão. Doce, deliciosa e madura. Com o sangue a escorrer-lhe pelo uniforme. Não demorou nem meio segundo a oferecer-se para levá-la ao médico.

      – Lembro-me de muitas coisas que se passaram naquele Verão – disse.

      – Eu preferia esquecer muitas delas – afirmou ela. – Era muito nova.

      – Sim, muito mais do que aquilo que me disseste na altura.

      – E tu foste muito mais grosseiro do que o necessário. Não bastou dizer que te tinhas fartado de mim, não. Tiveste de contar-me que tinhas outra namorada. Não evitaste humilhar-me à frente das outras empregadas. Trataste-me como se fosse tua criada.

      – Ou estou com falta de memória ou estás a confundir-me com outra pessoa. Não me lembro de nada disso.

      – Chamava-se Francine – continuou Molly como se estivesse a cuspir balas. – Abraçava-te com tanta força quando a levavas na pendura da tua moto, que parecia uma lapa.

      – Sempre foste mordaz com as palavras – riu. – Alegro-me que não tenhas perdido essa virtude.

      Molly não dissera nenhuma piada.

      O homem dera-se conta de que a separação fora mais dolorosa para ela do que Molly era capaz de admitir.

      O que aquela mulher nem imaginava era que para ele também não fora nada fácil. Não teve outro remédio senão deixá-la quando descobriu que só tinha dezassete anos e não os vinte que dissera. Apesar de ser um jovem desmiolado, tinha senso comum.

      – Sinto muito ter sido uma besta.

      – Eu não – ripostou ela. – Agradeço-te teres mostrado como eras na realidade. Foi mais fácil recomeçar a vida noutro lugar.

      – Como?

      Molly corou e deu meia volta.

      – Nada – disse enquanto acendia o fogão. – Digamos que amadureci rapidamente. Por isso, dei conta de que tinha estado muito confusa ao acreditar que poderíamos ter sido um casal estável.

      – Mal partiste e conheceste o homem dos teus sonhos. Casaste-te e constituíste família.

      Molly encolheu os ombros.

      – Conheci o homem dos meus sonhos. E tu? Não encontraste a mulher da tua vida?

      – Não me casei, se é isso que queres saber.

      – Por quê? Não encontraste ninguém à altura?

      – Na verdade até encontrei, mas, como sempre, estou a fazê-la esperar – respondeu. – Olha, isto é o que tens de dar à tua mãe antes de dormir – disse ao anotar algo numa folha. – Os medicamentos estão numa bandeja que está no armário do seu quarto. Se tiveres qualquer problema ou dúvida, telefona-me. Não te esqueças de passar amanhã pela clínica.

      – Vou ver se tenho tempo – respondeu Molly, desafiante.

      – Espero que tenhas – advertiu-a. – Não estou a pedir, estou a ordenar. Se te importas com a tua mãe, irás.

      Na manhã seguinte, fê-la esperar meia hora antes de recebê-la. Ver-se num local tão neutro e asséptico pareceu-lhe melhor do que aquele homem a aparecer lá em casa sempre que lhe apetecesse.

      Quanto menos a visse e, sobretudo, a Ariel, melhor.

      Todavia ainda não estava recomposta do susto, ao descobrir que Dan era o médico de sua mãe. Na sua presença, sentia-se frágil como uma taça de fino cristal, com as emoções à flor da pele.

      Aquela fragilidade era perigosa. Poderia fazê-la perder a razão, quando lhe fizesse perguntas sobre o pai de Ariel. Era impossível não vê-lo, assim teria de lidar com ele da melhor forma possível. Tinha muitas dúvidas a colocar-lhe sobre a saúde da sua mãe.

      Para o bem da menina queria contar-lhe que o que a sua mãe dissera sobre o marido rico não era correcto.

      Hilda contara, quando Molly partiu, que a filha tinha arranjado um marido rico. Fora essa a desculpa que arranjara. Hilda explicara à filha toda a história, a noite passada.

      – E se alguém perguntar a Ariel por ele?

      – Por que é que haveriam de perguntar?