O Homem Que Seduziu A Mona Lisa. Dionigi Cristian Lentini. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Dionigi Cristian Lentini
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Серия:
Жанр произведения: Историческая литература
Год издания: 0
isbn: 9788835409922
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à – se não se aproveitando da – imprudente ausência do primo dela, também seu esposo prometido (o marquês, com seu pai, combatia há dois dias sob os muros de Ferrara pela estrênua defesa da Casa do Leste, ameaçada pelos venezianos do conde Roberto de San Severino).

      Acontece que Girolamo Riario, ambicioso senhor de Ímola e Forlì, fortalecido pelo mecenato de seu tio Sisto IV e com o declarado objetivo de apossar-se em breve do ducado de Hércules d’Este, conseguiu persuadir o doge de Veneza da necessidade de entrar em guerra com Ferrara, que ameaçava, há algum tempo, o monopólio do comércio de sal no Polesine.

      A Casa do Leste, certamente mais refinada que militarizada, relacionava-se, não por acaso, com o rei de Nápoles (Hércules casara-se com Eleonora, a filha de Fernando de Aragão) e soube construir alianças com o senhorio italiano circundante, entre os quais também Ludovico Maria Sforza, vulgo o Mouro, ao qual o duque de Ferrara prometera uma de suas filhas em casamento em tempos de mais inocência.

      Assim, a península dividiu-se em dois blocos armados rivais: de um lado, o Estado Pontifício, com Sisto IV, Ímola e Forlì com Riario, a República de Veneza, a República de Gênova, o Marquesado de Monferrato e o Condado de San Secondo Parmense; do outro, o Ducado de Ferrara de Hércules d’Este, o Reino de Nápoles de Fernando de Aragão, o Ducado de Milão de Ludovico, o Mouro, o Marquesado de Mântua de Frederico Gonzaga, o Ducado de Urbino com Frederico de Montefeltro, o Domínio de Bolonha, controlado por Giovanni Bentivoglio, e a República de Florença, com Lourenço de Médici.

      Depois do verão, as tropas venezianas estavam em clara vantagem: haviam conquistado Rovigo, cercado Ficarolo, tomado Argenta, e agora fechavam o cerco também em Ferrara. A situação tornara-se ainda mais crítica para os lestenses desde que, em setembro, morreu de malária o líder mais experiente da coalizão antiveneziana: o famigerado Frederico de Montefeltro.

      Inexpectate, o pontífice, que no meio-tempo havia derrotado os napolitanos em Campomorto, de repente decidiu pôr fim às hostilidades unilateralmente, engajando-se em negociações com o rei de Nápoles. Ludovico o Mouro, exercendo a diplomacia, conseguiu convencer os conselheiros mais próximos ao Santo Padre que a rápida expansão da sereníssima República na Itália setentrional podia ser perigosa e ameaçar tanto Milão quanto Roma. Portanto, continuar naquela onerosa guerra apenas para satisfazer as loucas ambições de Riario não era conveniente para ninguém.

      Acontece que Veneza, a um passo da vitória definitiva, não tinha nenhuma intenção de ceder, querendo, pelo contrário, dar o golpe final antes que o inverno ficasse ainda mais rigoroso.

      Naquela tarde, os venezianos, aproveitando uma manobra descuidada dos adversários, haviam decidido lançar um ataque do norte sobre as guarnições de Francesco Gonzaga, o qual buscava formas de resistir à força de ataque adversária, concentrado mais do que nunca na estratégia de defesa e absolutamente alheio ao que acontecia nos incensados aposentos de seu belo palácio…

      Apenas dois toques na porta: pareceram à jovem apaixonada o dobrar de um sino, como o grave pêndulo de sua mente, que oscilava entre o extremo pudor e a extrema audácia.

      A verdadeira coragem não era o desdém ao perigo do marquês, entre as balestras e os mosquetes, mas sim empunhar aquela chave, girá-la e permitir que seu amante atravessasse aquele limiar, último baluarte de um coração já profanado.

      Enquanto o fogo da lareira alongava a sombra da porta que se abria, e o impávido cavalheiro a adentrava, Beatriz voltou-se de súbito, deixando cair sensualmente no chão uma pérola de seu chapéu.

      – Diga-me que não é pecado – suplicou.

      Ele inclinou-se lentamente, apanhou o pingente, apertou-o nas mãos e, acariciando-lhe o pescoço com os lábios, sussurrou a primeira, a única frase daquela noite:

      – Certamente o é, mas não o cometer, desperdiçando este momento, o seria ainda mais.

      Naquele instante, fechou os olhos e, ignorante da amarga notícia que chegaria no dia seguinte do campo de batalha, voltou-se de mansinho e rendeu-se à paixão. Enquanto seu prometido vinha humilhado pela cavalaria veneziana, ela, amazona montada, exaltava-se, livre para uma noite em que podia ser ela mesma.

      Assim, quando cessou o derradeiro estrépito de espada no campo de batalha e a última cepa de lenha do quarto extinguiu-se, a aurora veio comunicar a cada vez mais iminente queda de Ferrara, mas apenas mais uma conquista de Tristano Licini de Ginni.

      II

       O Jovem Tristano

De Bergamo a Roma

      Tristano era um distinto moço de 22 anos, brilhante, culto e refinado. O corpo esbelto e as proporções físicas lhe conferiam o que se chamaria de "uma boa aparência". Apesar da pouca idade, já era um influente diplomata dos Estados Papais e, portanto, tinha bom trânsito em todas as cortes italianas. No entanto, não possuía uma sede fixa, mas era enviado de tempos em tempos pela Santa Sé em missão perante o senhorio da península (e não apenas estes), por vezes à revelia dos embaixadores oficiais, para tratar de questões mais delicadas, reservadas ou mesmo secretas. Todos os senhores e notáveis interlocutores sabiam que falar com ele equivalia a conferenciar diretamente com o Santo Padre, no entanto não possuía nenhum título de nobreza, seu passado era por todos desconhecido, seu nome não aparecia jamais em documentos oficiais, vestia-se muito melhor que muitos condes e marqueses, mas não ostentava no peito condecorações e brasões. Demonstrava meios financeiros quase ilimitados, mas não era filho de nenhum banqueiro ou mercador; transitava com desenvoltura na política, mas nunca deixava traços; escrevia a História todos os dias, mas não aparecia nunca em suas páginas… estava em todas as partes, contudo, era como se não existisse.

      Nos três primeiros lustros de vida, viveu na província de Bérgamo, na fronteira com os territórios da República de Veneza, onde recebeu uma boa formação cultural e uma pouco convencional educação sentimental e sexual. Órfão de pai desde criança e, quando pouco mais que adolescente, também de mãe, vivia com o avô, um velho nobre cansado e em decadência que, apesar de tudo, ostentava sempre com orgulho um casarão ao estilo de Frederico II e, no tempo das Cruzadas, estabeleceu laços de parentesco com membros de famílias toscanas tão notáveis quanto já praticamente extintas. O ancião conservava, no entanto, um certo respeito no povoado e no condado, o que refletia também sobre o jovem Tristano. Quando em idade escolar, foi entregue aos cuidados primeiro dos dominicanos, depois dos franciscanos, revelando desde cedo propensão para a lógica e a retórica, embora todo domingo de manhã enfurecesse os tutores por preferir a angélica visão da chegada das noviças na igreja ao estudo dos clássicos gregos e latinos. Às vezes parecia lúgubre em razão da ausência dos pais, mas nunca rabugento. Tinha um temperamento vibrante, mas era sempre contido; um ar astuto, mas nunca impertinente, e feições virtuosas que lhe faziam benquisto por todos no povoado, sobretudo os senhores.

      Acabara de completar 12 anos quando algo que mais tarde viria à tona com frequência em seus sonhos de adulto lhe abriu um novo mundo, um acontecimento muito longe das regras monásticas a que estava habituado e das virtudes cardinais sobre as quais lia todos os dias nos livros: era uma tarde quente no começo do verão, as portas e janelas do scriptorium da biblioteca estavam abertas para que a corrente de ar deixasse as leituras menos pesadas. Tristano tinha na mão um tomo sobre Santo Agostinho de Hipona que lhe fascinava em particular e, abancado em um gabinete próximo à janela, preparava-se para mergulhar nas gravosas cartas quando percebeu na rua uma movimentação estranha para aquela hora: Antônia, viúva desconsolada, avançava rápida do pátio da igreja à rua deserta, arrastando sua pobre filha, que há poucos anos havia aprendido a caminhar.

      A jovem infeliz parecia querer chegar ao destino despercebida; pouco tempo depois, com ares cada vez mais circunspectos, desviou sua trajetória um pouco à direita e, assim que chegou ao estabelecimento do boticário, entrou. Logo depois, o proprietário, inclinando-se na soleira, lançou um olhar rápido para os dois lados e fechou a porta, que só reabriu meia hora depois, para saírem mãe e filha. Essa movimentação repetiu-se quase idêntica nos sábados seguintes, até que a tentação de a investigar a fundo se tornou irresistível para o adolescente.

      Foi assim que planejou