Em minha vida, só tive a oportunidade de vê-lo em uma ocasião, quando fui a uma dessas viagens de aventura organizadas pela Lapônia, lugar que se escuta muito na infância, embora não saibamos muito bem onde localizá-lo no mapa, apesar de ser a terra natal de um personagem cativante que todos os pequeninos anseiam, e que uma vez por ano, alegra o espírito e desperta a ilusão de adultos e crianças. Em alguns lugares, ele é conhecido pelo Papai Noel; em outros, ele é chamado de Santa Claus, mas todos os que ouvem falar dele lembram que a estação fria está chegando e que em breve receberão os muito desejados presentes.
Uma tradição de generosidade para com os pequenos que se tornam o centro dessas celebrações, os adultos buscam surpreender e satisfazer os pequenos, seja com brinquedos simples de madeira ou com os mais sofisticados dispositivos de última geração. Tudo desperta interesse, alimenta a curiosidade e as crianças com seus olhos expectantes ficam cheias de emoção na expectativa de terem sido lembradas e receberem um belo presente.
Apesar de tudo, considero que a Lapônia, um território bem grande compartilhado por três países: Noruega, Suécia, Finlândia e parte da Rússia, ainda é atualmente um lugar desconhecido para o público em geral, digno de ser descoberto por suas muitas atrações durante o ano todo. Talvez seja por isso que suas paisagens encantadoras se mantém intactas, onde se pode sentir em um belo oásis congelado, cercado apenas pela natureza em seu estado mais puro, longe do dia-a-dia agitado e apressado, dando lugar a uma extensa quietude, que parece parar até o tempo, apenas modificado pela passagem do vento gelado vindo do Polo Norte.
Onde a imaculada cor branca cobre todos os lugares, graças à sua copiosa queda de neve, que muitas vezes esconde qualquer caminho traçado pelo homem, e com um frio intenso que congela tudo, mostrando belas impressões matinais com aquelas cortinas de gelo que pendem das árvores e telhados à espera de derreter gota a gota. O branco imaculado e o frio polar tornam-se partes indispensáveis da vida cotidiana, com presença constante em tudo que acontece.
Seus habitantes acostumados a sobreviver em condições tão adversas, vivem fervorosamente suas tradições profundamente enraizadas, mantendo os costumes quase intactos desde tempos imemoriais.
Uma experiência enriquecedora e extraordinária diante de uma natureza selvagem, mais selvagem do que nunca, com seus imensos vales nevados, cachoeiras congeladas que parecem vidro ou belas árvores com seus galhos derrubados pelo peso da neve acumulada.
E se tudo isso não bastasse, havia o incentivo de poder admirar, durante boa parte da noite, um dos fenômenos mais perturbadores e maravilhosos que podem ser vistos da Terra, a aurora boreal.
Mais uma vez, me deixei levar pelas belas lembranças de uma bela experiência, e olhando para os dois lados, voltei para onde estava, parada entre aquelas casas de piso único, enquanto avançava morro acima pela estrada de paralelepípedos que também era a rua principal da cidade.
Acompanhando as chaminés familiares e como parte indispensável da paisagem, as centenas de toras cortadas empilhadas, ao lado da porta ou na lateral da casa, tão necessárias para garantir o calor da casa ou como combustível na cozinha.
Continuando a avançar, e sem perceber muito do que os vizinhos estavam fazendo, fiquei muito surpresa ao ver como a cidade pela qual passava era exatamente como eu vi no sonho que tive antes do almoço à frente do lago. As mesmas casas, as mesmas pedras do chão, tudo parecia estranhamente familiar, eu quase podia dizer que era exatamente como eu me lembrava, talvez com a ressalva de que nessa ocasião havia pessoas na rua e sentadas na varanda de suas casas.
Pode ser um desses eventos estranhos, chamados extrassensoriais, que não podem ser explicados de maneira muito clara e convincente, e que determinados jornais e programas de televisão sensacionalistas tratam com tanto alarde. Algo chamado de paramnésia ou “Déjà vu”, que pode ser traduzido como “já visto, já vivido”. Uma experiência pela qual a pessoa acredita que reconhece detalhes de um local em que nunca esteve, mas que pode fornecer detalhes surpreendentes, que não deveria saber, se não, porque já havia visitado o local antes.
Pelo pouco que sei sobre o assunto, ainda não foi possível chegar a uma explicação por unanimidade, esclarecedora o suficiente para responder como ou por que esse fenômeno misterioso ocorre, permitindo assim o surgimento de várias tentativas de uma explicação mais ou menos convincentes, cada uma mais incomum que a anterior.
Da ciência mais conservadora, há autores que defendem a posição de que é um fenômeno fácil de explicar; seria como uma espécie de autoilusão do cérebro, provavelmente devido a certas disfunções nas conexões neurais que alterariam o processamento normal do cérebro. Uma falha que confunde o que está sendo armazenado na memória naquele momento com a experiência de recuperação de informações, tornando possível sentir como familiar tudo o que está sendo vivido pela primeira vez.
Uma explicação que, ao meu entender, é bastante complexa e até complicada, e que deixa perguntas tão importantes sem resposta, já que algumas pessoas são capazes de fornecer detalhes exatos de lugares, edifícios ou objetos, mesmo antes de chegar ao local e, portanto, sem ter tido a experiência prévia de vê-los.
Os parapsicólogos, enquanto isso, tentam resolver esse enigma, afirmando que ainda se está longe de ser capaz de desvendar os limites das capacidades do nosso cérebro. Uma prova confiável disso seria justamente este caso, onde há evidências da existência de um tipo de capacidade que não compreendemos, questionando tudo o que acreditávamos até então. Seria um tipo de sexto sentido, que nos alertaria com antecedência, impedindo-nos de nos aproximar do perigo muito antes que ele ocorra. E é precisamente, graças a esse sentido, que podemos conhecer os detalhes de lugares que não conhecemos. Em que a pessoa, através deste sentido, teria visitado o local em momento anterior, de alguma forma, para saber se algum tipo de perigo ronda o local antes da visita propriamente dita, e, portanto, é capaz de reconhecer estes lugares ao visitá-los fisicamente pela primeira vez.
Por outro lado, há que considere isso uma prova inevitável da existência de um tipo de segunda vida, que chamam de reencarnação, algo que milhões de pessoas no mundo acreditam, como os seguidores do hinduísmo. Por meio dessas crenças, afirma-se que, depois de que esta vida se finde, o corpo seria deixado e algo dentro dele passaria para uma nova vida, no ventre de uma mulher grávida. Apesar de ser um novo ser que nasce, acredita-se que ele retenha parte do modo de ser e de pensar da pessoa anterior, há quem afirme que pode até transmitir claramente características físicas identificáveis. E é nessa experiência de ser, quando um tipo de má conexão entre a pessoa que viveu antes e a pessoa que agora vive que, de alguma forma, se pode acessar essas experiências passadas, a pessoa torna-se capaz de se lembrar lugares e de detalhes vividos nessa outra vida.
Existem aqueles que, baseados na premissa de que pode haver uma transmissão de informações de uma vida para outra, não admitem que ocorra entre estranhos que nada têm a ver um com o outro, admitindo apenas a possibilidade de que ocorra entre pais e filhos de maneira descendente, pois consideram que essas memórias estão contidas no DNA e, portanto, farão parte das novas gerações. Esse fenômeno seria explicado porque um parente direto esteve no mesmo lugar em algum momento do passado.
Qualquer que seja a explicação para esse fenômeno, tenho certeza de que, neste exato momento, está acontecendo comigo. Enquanto continuo a caminhar, reconheço cada um dos lugares por onde passo, o que me causa uma sensação de estranheza e até inquietação, com uma convicção tão profunda que me faz parar. Eu não tinha mais certeza do que via, tudo era tão vívido, cheio de luz e cor como eu havia experimentado no sonho tido na pedra que não podia ter certeza se continuava a sonhar ou não, então fiz a única coisa que me ocorreu para conferir: me beliscar.
A forte dor que me causou até me fez surgir lágrimas e me permitiu me certificar de que eu estava ali no meio daquelas casas e não em frente ao lago, algo que não deixou nada além de um sentimento agridoce de desconfiança sobre o motivo de eu reconhecer tal lugar. Depois de alguns instantes e vendo que, se eu não seguisse em frente, não chegaria a lugar algum, continuei subindo a ladeira até chegar ao topo, onde o último edifício da cidade, na parte mais alta, e sem surpresas lá estava