— Claro.
— Mas... — Maya levantou o pulso algemado.
— E daí? O assassino perguntou.
— Leve ela com você. Você tem uma mão livre.
Maya mordeu o lábio. Ela sabia o que ele estava fazendo; a única janela no banheiro era pequena, mal tinha tamanho o suficiente para Maya passar completamente e seria totalmente impossível enquanto estava algemada à irmã.
Ela deslizou para fora da cama lentamente, cutucando sua irmã para ir com ela. Sara se moveu mecanicamente, como se tivesse esquecido como usar corretamente seus membros.
— Vocês têm um minuto. Não tranque a porta — alertou Rais. — Se trancar eu vou derrubá-la no chute.
Maya liderou o caminho e fechou a porta do pequeno banheiro, era apertado com as duas lá dentro. Acendeu a luz - quase certa de ter visto uma barata se arrastando para um esconderijo seguro embaixo da pia - e depois ligou o ventilador do banheiro, que zumbia ruidosamente no alto.
— Eu não vou — Sara sussurrou quase imediatamente. — Eu não vou sem...
Maya rapidamente ergueu um dedo a frente dos próprios lábios para sinalizar silêncio. Pelo que ela sabia, Rais estava bem do outro lado da porta com os ouvidos colados nela. Ele não se arriscava.
Ela rapidamente puxou a caneta da bainha de suas calças. Precisava de algo para escrever, e a única coisa disponível era papel higiênico. Maya arrancou alguns pedaços e espalhou-os na pequena pia, mas toda vez que pressionava a caneta, o papel rasgava com facilidade. Ela tentou novamente com alguns pedaços novos, porém, novamente o papel rasgou.
Isso não funciona, ela pensou amargamente. A cortina de chuveiro não ajudaria; era apenas uma folha de plástico pendurada na banheira. Não havia cortinas sobre a pequena janela.
Contudo, havia algo que ela poderia usar.
— Fique parada — ela sussurrou no ouvido da irmã. As calças do pijama de Sara eram brancas com estampa de abacaxi - e elas tinham bolsos. Maya virou um dos bolsos ao avesso e, com o máximo de cuidado, rasgou-o até que ela tirou um pedaço de tecido triangular de bordas ásperas com a estampa de fruta de um lado, porém, era todo branco do outro.
Ela rapidamente achatou-o na pia e escreveu com cuidado enquanto sua irmã observava. A caneta se enroscou várias vezes no tecido, mas Maya mordeu a língua para evitar grunhir em frustração irritada enquanto escrevia uma nota.
Porto de Nova Jersey.
Dubrovnik.
Havia mais que ela queria escrever, mas estava quase sem tempo. Maya guardou a caneta embaixo da pia e enrolou a nota de tecido no formato de um cilindro. Então ela olhou em volta desesperadamente para um lugar para esconder a nota. Não podia simplesmente colocá-lo embaixo da pia com a caneta; isso seria muito evidente, e Rais era minucioso. O chuveiro estava fora de questão. Molhar a nota borraria a tinta.
Uma batida abrupta na porta do banheiro assustou as duas.
— Já passou um minuto — disse Rais claramente do outro lado.
— Estou quase terminando — ela disse apressadamente. Ela prendeu a respiração enquanto levantava a tampa da caixa de descarga da privada, esperando que o ventilador do banheiro abafasse qualquer ruído. Enfiou a nota enrolada pela corrente no mecanismo de descarga, alto o suficiente para não tocar na água.
— Eu disse que você tem um minuto. Estou abrindo a porta.
— Só me dê alguns segundos, por favor! — Maya implorou quando ela rapidamente recolocou a tampa. Por fim, ela puxou alguns cabelos da cabeça e os jogou sobre a caixa fechada. Com alguma sorte - com muita sorte - qualquer um que seguisse o rastro delas reconheceria a pista.
Ela só podia esperar.
A maçaneta da porta do banheiro girou. Maya deu descarga e se agachou em um gesto para sugerir que estava levantando a calça do pijama.
Rais enfiou a cabeça pela porta aberta e dirigiu o olhar para o chão. Lentamente, ele se aproximou das duas garotas, inspecionando cada uma delas.
Maya prendeu a respiração. Sara pegou a mão algemada da irmã e os dedos entrelaçados.
— Terminou? — ele perguntou devagar.
Ela assentiu.
Ele olhou para a esquerda e para a direita com desgosto.
— Lave as mãos. Este lugar é nojento.
Maya o fez, lavando com um sabonete laranja arenoso enquanto o pulso de Sara pendia fracamente ao lado do dela. Ela secou as mãos na toalha marrom e o assassino assentiu.
— De volta para cama. Vão.
Ela levou Sara de volta para a cama. Rais permaneceu por um momento, olhando ao redor do pequeno banheiro. Então ele desligou o ventilador e a luz e voltou para sua cadeira.
Maya colocou o braço em torno de Sara e a segurou perto de si.
Papai vai achar, ela pensou desesperadamente. Ele encontrará a nota. Eu sei que vai
.
CAPÍTULO SEIS
Reid dirigiu para o sul na interestadual, tentando arduamente manter-se no limite entre o excesso de velocidade e chegar rapidamente ao destino, enquanto se dirigia para a parada onde a caminhonete de Thompson tinha sido abandonada. Apesar de sua ansiedade em conseguir uma pista, encontrar um vestígio, ele estava começando a se sentir otimista por estar na estrada. Sua dor ainda estava presente, sentada pesadamente em seu estômago, como se tivesse engolido uma bola de boliche, mas agora estava envolta em uma concha de firmeza e determinação.
Ele já sentia a familiar sensação de sua persona, Kent Steele, tomando as rédeas enquanto descia a rodovia no Trans Am preto, um porta-malas cheio de armas e aparelhos à sua disposição. Havia tempo e lugar para ser Reid Lawson, mas não era agora. Kent também era o pai delas, as meninas sabendo ou não. Kent tinha sido o marido de Kate. E Kent era um homem de ação. Ele não esperou que a polícia encontrasse uma pista, para que outro agente fizesse o seu trabalho.
Ele estava indo encontrá-las. Só precisava saber para onde estavam indo.
A interestadual que se seguia para o sul através do estado da Virgínia era, na maior parte, reta, com duas faixas, ladeadas de ambos os lados por árvores grossas, era completamente monótona. A frustração de Reid crescia a cada minuto que ele não chegava rápido o suficiente.
Por que ao sul? Ele pensou. Para onde Rais as levaria?
O que eu faria se eu fosse ele? Para onde eu iria?
— É isso — disse ele em voz alta para si mesmo quando uma descoberta o atingiu como um golpe na cabeça. Rais queria ser encontrado, mas não pela polícia, pelo FBI ou por outro agente da CIA. Ele queria ser encontrado por Kent Steele - e Kent Steele sozinho.
Não posso pensar em termos do que ele faria. Tenho que pensar no que eu faria.
O que eu faria?
As autoridades diriam que desde que o caminhão foi encontrado ao sul de Alexandria, Rais estava levando as meninas para o sul.
— O que significa que eu iria...
Sua reflexão foi interrompida pelo som estridente do telefone descartável no painel central.
— Vá para o norte — disse Watson imediatamente.
— O que você achou?
— Não há nada para encontrar na parada de descanso. Faça o retorno primeiro. Depois conversaremos.
Reid não precisou que ele dissesse duas vezes. Deixou cair o telefone no painel, passou para a terceira marcha e girou o volante para a esquerda.