"Essas são duas questões bem diferentes. Tenho certeza de que em algum ponto ele realmente investigou a localização dela. Seria do interesse dele saber em quais circunstâncias ela estava. Mas isso teria sido bem antes que eu começasse a farejá-lo. Uma vez que ele suspeitou que eu o investigava, não tenho dúvidas de que ele se certificou de que ele não pudesse ser conectado a ela. Ele sabe que se eu pensasse que ele pudesse me levar até Evie, eu o seguiria dia e noite. Provavelmente ele se preocupa que eu o sequestre e o torture para conseguir a localização dela."
"Você o faria?" perguntou Mags, mais curiosamente do que acusadoramente.
"Faria. Um milhão de vezes, eu faria."
"Eu também," sussurrou Mags.
"Então eu não acho que Jackson Cave saiba onde minha filha está ou quem está com ela. Mas eu acho realmente que ele conhece indivíduos que conhecem indivíduos que sabem onde ela está. Eu acho que ele poderia descobrir a localização atual dela se ele estivesse inclinado a tal. E eu acho que ele poderia direcioná-la para estar em um local específico em um horário em particular se ele assim o quisesse. Isso é o que eu acho que está acontecendo. Acho que Evie é o Prêmio de Sangue, porque ele quer que seja ela. E, de algum modo, os desejos dele foram convenientes para pessoas que podem fazer isso acontecer."
"Então você quer seguir esse rastro?"
"Não," disse Keri. "O labirinto de ele até ela é complicado demais para eu desvendar, mesmo se eu tivesse tempo ilimitado, o que eu obviamente não tenho. Esse é uma toca de coelho que eu não vou entrar. Mas eu comecei a perceber, todo esse tempo eu estive olhando para Jackson Cave como um oponente, o planejador que está me mantendo distante de minha filha, essa força malévola direcionada a destruir minha família."
"Ele não é?" perguntou Mags, soando surpresa e quase ofendida.
"Ele é. Mas não é assim que ele se vê. E é tudo o que ele sempre foi. Eu percebi que eu tenho que esquecer meus preconceitos para aprender quem é esse cara e o que o faz funcionar."
"Por que você se importa com o que o faz funcionar?"
"Porque eu não posso derrotá-lo se eu não entender como ele pensa, quais são os motivos dele. E se eu não entender o que é realmente importante para ele lá no fundo, eu nunca terei vantagem sobre ele. E isso é o que eu realmente preciso, Mags─vantagem. Esse cara não vai oferecer qualquer informação para mim. Mas se eu puder determinar o que mais importa para ele, talvez eu possa usar isso para ter minha filha de volta."
"Como?"
"Eu não faço ideia... ainda."
CAPÍTULO CINCO
Quando Ray entrou na sala de conferências três horas depois, Keri ainda não tinha vantagem. Mas ela achava que tinha melhor noção de quem era Jackson Cave.
"É adorável vê-lo, Detetive Sands," disse Mags quando ele entrou trazendo sanduíches de baguete e cafés gelados.
"É bom ver você também, Ruiva," ele disse enquanto jogava os sanduíches na mesa.
"Bem, eu confesso," ela respondeu
Keri não tinha certeza de quando Ray começou a chamar Margaret Merrywether de "Ruiva", mas ela ficou mordida com isso. E apesar de sua reação agora, Keri estava bem certa de que Mags também não se importava.
"Eu trouxe os registros financeiros e das propriedades do cara," disse Ray. "Mas eu não acho que eles vão ser a resposta. Eu os revisei com Edgerton e ele não conseguiu encontrar qualquer coisa suspeita. Mas para um cara com aquela quantidade de dinheiro e poder, apenas isso já é meio que suspeito."
"Concordo," disse Keri. "Mas suspeita não é o suficiente para agir."
"Ele queria chamar Patterson, mas eu disse a ele para segurar isso por enquanto."
Detetive Garrett Patterson seguia pelo apelido "Trabalho Pesado," e por uma boa razão. Ele era o segundo melhor cara de TI na unidade atrás de Edgerton e enquanto lhe faltasse os talentos intuitivos de Edgerton para encontrar conexões invisíveis em informações complexas, ele tinha outra habilidade. Ele amava se debruçar sobre minúcias de registros para entrar aquele crucial, porém diminuto, detalhe que outros deixaram passar.
"Foi a decisão correta," disse Keri após um momento. "Ele pode descobrir alguma coisa com os registros de propriedades. Mas eu me preocupo que ele não consiga deixar de contar a Hillman ou lançar uma rede muito ampla e disparar alertas. Eu não quero envolvê-lo, a não ser que não tenhamos outra escolha."
"Pode chegar a isso," disse Ray. "Isso é, a não ser que você tenha decifrado o código Cave nas últimas horas."
"Eu não diria que sim," admitiu Keri. "Mas não revelamos algumas coisas surpreendentes."
"Como o quê?"
"Bem, para começar," Mags entrou, "Jackson Cave não foi sempre um completo imbecil."
"Isso é uma surpresa," disse Ray, desembrulhando um sanduíche e dando uma grande mordida. "Em que sentido?"
"Ele costumava trabalhar no escritório da promotoria," respondeu Mags.
"Ele foi um promotor de justiça?" perguntou Ray, quase engasgando com sua comida. "O defensor de estupradores e molestadores de crianças?"
"Foi há muito tempo atrás," disse Keri. "Ele entrou para a promotoria logo ao sair da faculdade de direito na USC─trabalhou lá por dois anos."
"Não conseguiu corrompê-la?" sugeriu Ray,
"Na realidade, as taxas de condenação dele eram bem impressionantes. Aparentemente, ela não gostava de fazer acordos normalmente, então ele levava a maior parte dos casos para julgamento. Ele conseguiu dezenove condenações e dois júris pendurados. Nenhuma absolvição."
"Isso é bom," reconheceu Ray. "Então porque ele trocou de time?"
"Isso precisou de alguma pesquisa," disse Keri. "Na verdade, foi Mags quem descobriu. Você quer explicar?"
"Seria de grande prazer," ela disse, olhando para cima do mar de páginas em frente a ela. "Eu suponho que uma vida inteira fazendo pesquisas entediantes compensa de vez em quando. Jackson Cave tinha um meio irmão chamado Coy Trembley, Eles tinham pais diferentes, mas cresceram juntos. Coy era três anos mais velho que Jackson."
"Coy também era advogado?" perguntou Ray.
"Dificilmente," disse Mags. "Coy esteve em problemas com a lei pela adolescência e pelos vinte anos─coisa pequena na maioria. Mas quando ele tinha trinta e um, foi preso por abuso sexual. Basicamente ele foi acusado de se forçar em uma garota de nove anos de idade que morava pra baixo na rua."
"E Cave o defendeu?"
"Não oficialmente. Mas ele pegou uma licença de nove meses do escritório da procuradoria logo depois da prisão. Ele não foi o advogado em registro de Trembley e o nome dele não está em qualquer dos documentos legais entregues a corte durante o caso."
"Eu ouço um 'mas' chegando," disse Ray.
"Você ouve corretamente, querido," declarou Mags. "Mas para constar, o seu emprego declarado durante esse período foi de 'consultor legal'. E eu comparei a linguagem nas minutas do caso de Trembley. Algumas das construções e da lógica são bem similares aos casos mais recentes de Cave. Eu acho que é justo assumir que ele estava secretamente auxiliando o irmão.”
"Como ele foi?" perguntou Ray.
"Muito bem. O caso Coy Trembley terminou em um júri pendurado. Os promotores estavam debatendo sobre julgar novamente quando o pai da pequena garota apareceu no apartamento de Trembley e atirou cinco vezes nele, incluindo uma vez no rosto. Ele não sobreviveu."
"Jeez," resmungou Ray.
"Pois é," concordou Keri. "Foi por volta dessa época que